Considerando que o primeiro filme foi uma série de boas idéias com um potencial não atingido, e mesmo assim foi um sucesso de crítica e de bilheteria, era de se esperar que as continuações só melhorariam a situação. Com um orçamento pelo menos três vezes maior que o de seu predecessor, a sequência da odisséia no deserto pós-apocalíptico faz bonito, e entrega justamente o que todos esperavam: mais ação, mais destruição, mais carros, mais carnificina, e até mesmo um bônus: o ator principal agora não é mais um adolescente que lembra vagamente o Mel Gibson. Brincadeiras à parte, este é um filme que melhora e até expande o interessante plano de fundo estabelecido anteriormente, o que não é nada menos que excelente.
Anos após a vingança de Max (Mel Gibson) contra aqueles que assassinaram sua família, o ex-policial agora vaga pelos desertos com seu Interceptor V8 em busca de gasolina, sobrevivendo como pode. Em um de seus encontros ocasionais, o mesmo presencia uma gangue de bárbaros atacando um grupo de pessoas, matando os homens e estuprando as mulheres. Vendo uma janela de oportunidade para conseguir combustível, Max leva um dos moribundos de volta a seu acampamento. Chegando lá, o protagonista se vê forçado a ajudar os integrantes da vila contra os bárbaros para ganhar sua liberdade, sua gasolina, e seu carro de volta.
Imagine as possibilidades que o primeiro filme ofereceu, com todo o plano de fundo do mundo desolado, da sanidade decadente, e dos motores roncando; agora pegue tudo isso e faça algo que seja digno do potencial oferecido, isto é “Mad Max 2”. Enquanto o filme não se trata de uma reestruturação completa, com um roteiro complexo e personagens tridimensionais, a melhora em comparação com o original é bem notável. A mudança de personalidade da Max é mais que bem vinda, e inclusive é melhor explorada neste, apesar do protagonista não fazer parte das reclamações do primeiro filme. Agora um ser humano implacável e apático, Max só liga para si mesmo e sua sobrevivência, mostrando que seus sentimentos realmente morreram com sua família no passado. Não só o protagonista é melhor representado, como sua personalidade passa a ter uma conexão mais íntima com o roteiro, dessa vez mostrando-se em melhor forma.
Mesmo espectadores menos atentos às qualidades técnicas de um filme notarão que as coisas estão de cara nova aqui, não só em termos estéticos por conta do orçamento maior, mas também em termos de estrutura. Se por um lado o primeiro filme era uma bagunça por causa do roteiro fraco e da direção amadora; por outro este se mostra muito mais sólido estruturalmente. Com uma direção mais concisa e um roteiro mais sucinto, a ainda simples história funciona melhor que em seu predecessor. A escolha de limitar o espaço onde a trama se passa mostrou-se muito bem vinda, pois assim toda e qualquer possível burrada geográfica é evitada. Por mais que o ambiente mude, não é difícil para o espectador se localizar; assim fazendo a história ser muito mais solidamente conduzida. Não só a localização geográfica se beneficia das melhoras técnicas, mas também fica bem mais fácil ter um senso de começo, meio, e fim de filme pela melhor estrutura, coisa que era praticamente inexistente no predecessor.
Entretanto, tais mudanças parecem quase superficiais frente ao aumento absurdo no fator ação desse filme. Mesmo se o trecho do começo do filme até o início da última perseguição fosse completamente cortado, acredito que o que resta seria um melhor filme que o primeiro. E isso não é querer rebaixar o original ainda mais, mas sim exaltar quão intensa e excelente o último terço de filme é. Em uma gigantesca cena de perseguição, que com certeza deixa 007 no chinelo várias vezes, toda a ação que talvez tenha faltado no primeiro e até mesmo neste é inserida junta. Todo e qualquer perigo que os bárbaros posaram durante o filme é jogado de uma vez só, e de brinde se tem uma perseguição que não está ali pelo simples fato de mostrar automóveis correndo: há uma razão para alguém estar sendo perseguido, e nesse trajeto explosões e destruição não são economizadas. O ritmo não para, e a velocidade é sempre máxima; fechando o filme tão energicamente quanto é possível, e deixando qualquer espectador com problemas de pressão alta com uma ou outra complicação a mais.
Assim como o predecessor, pode-se resumir “Mad Max 2″em poucas palavras: um filme que pega quase todas as falhas do primeiro e as melhora consideravelmente. As já formidáveis sequências de ação têm seu fator excelência muito elevado, sem dúvida atingindo um nível que nem as melhores cenas do primeiro sonhariam em alcançar. Considerando que o problema do primeiro era justamente ter uma má administração das cenas sem ação, ver que este melhora até mesmo esse aspecto é uma surpresa mais que agradável.