Com a chegada estrondosa de “Mad Max: Fury Road” nos cinemas, não houve melhor hora para tirar o atraso da franquia. Lançando Mel Gibson para o estrelato, este filme sobre automóveis e um futuro distópico também abriu portas para a indústria cinematográfica da Austrália, iniciando uma nova era no cinema do país. A inovação de cenário mostrou-se tanta, que as influências sobre outros trabalhos de futuro distópico chegam tão longe quanto os dias de hoje, tal como é visto nos jogos eletrônicos da série Fallout.
Ao elaborar este parágrafo, devo admitir que houve um certo medo de revelar muito sobre o enredo. Pois mesmo com cerca de apenas 100 palavras, a trama do filme inteiro pode ser contada do começo ao fim; dando assim uma prévia das críticas relacionadas ao raso roteiro. Em um mundo cada vez mais tomado pelo caos, Max Rockatansky (Mel Gibson) tenta fazer sua parte como um policial na pequena força de polícia da região. Especializando-se no patrulhamento das estradas e perseguiçõesm e alta velocidade, o departamento luta para evitar que uma gangue de perigosos motoqueiros causem mais terror nos moradores dos arredores.
Quando falei sobre revelar muito sobre o enredo em poucas palavras, não estava brincando. Mesmo tentando evitar revelar demais com aquele trecho de texto, acredito que quase metade do filme tenha sido contada ali. Isso não significa que estou indo contra minha proposta inicial, a de revelar o menos possível sobre as obras que escrevo; mas sim que este longa é tão raso em termos de roteiro e enredo, que qualquer mera tentativa de introduzir o espectador à obra já acaba revelando demais. Sem exageros, cerca de três ou quatro eventos relevantes são o que inserem de conteúdo para preencher o resto de filme não abordado pela sinopse. Enquanto isso não deva significar algo automaticamente ruim em um filme de Ação ou Aventura, onde enredo é frequentemente substituído pela ação em si, este longa falha em preencher suas lacunas com conteúdo interessante. Por falta de uma categorização mais apropriada, esta obra se posiciona como filme de ação, mesmo que essas sejam mais esporádicas do que é comum em outros exemplos do gênero. Ao menos as ocasiões com uma movimentação mais intensa, estas frequentemente envolvendo perseguições de carro, são bem executadas; apresentando elementos como a destruição exacerbada e a carnificina automobilística, que mais tarde seriam marcas registradas da franquia.
A primeira vez de George Miller no timão de um longa-metragem é também uma para ser reservada apenas como referência, negativa neste caso. De tudo que o mesmo fez por esta obra, dirigir foi possivelmente a sua pior contribuição. Em vários momentos os cortes são um tanto artificiais, falha bem representada pelas escurecidas para preto súbitas seguidas de uma mudança de cenário abrupta. Mais do que frenquentemente dando uma cara de seriado de televisão antigo ao longa, a direção não só deixa tudo com uma aparência mais barata, como também quebra a imersão do espectador. No entanto, onde os esforços de Miller realmente falham é não saber administrar a imensidão do universo criado. Muito provavelmente pelo roteiro falho em conjunto com a direção, qualquer noção geográfica palpável é tornada impossível por uma falha em conduzir o espectador através do cenário enorme.
O ambiente onde o filme se passa é notavelmente gigantesco, e levando em conta que a movimentação é constante, é de se pensar que os lugares mostrados raramente são os mesmos de momentos antes. Andar de carros e motos em alta velocidade pelas estradas dificilmente vai render um passeio curto, e como 90% dos cenários envolvem estradas, fica complicado engolir certas coisas apresentadas. Por exemplo, é plausível que a sociedade está em colapso e que a polícia tem recursos limitadíssimos; entretanto, como diabos uma frota de 5 carros tomaria conta de uma região tão vasta? Não precisa ser nenhum gênio para saber que é impossível manter a área inteira segura, então ao menos os cidadãos podiam ser alertados dos perigos para evitar tragédias. E se tratando de um ambiente enorme, de que forma pessoas são achadas tão facilmente para que o enredo faça sentido? Podem parecer pequenas minúcias que estou pegando para tentar reforçar meu ponto, mas em um contexto geral elas ficam mais do que claras; explicitando as falhas de roteiro e direção já citadas aqui.
Para resumir “Mad Max” em poucas palavras, traço uma comparação talvez atípica, mas apropriada de qualquer forma. A impressão que este longa-metragem passa é que o mesmo é um Star Wars, caso fosse lançado incompleto e sem as características singulares do mesmo. Imaginem se a Estrela da Morte, a Millenium Falcon, e as batalhas espaciais não existissem; se a obra de George Lucas fosse apenas um conto sobre Jedi, Sith e sabres de luz. Parece que falta algo essencial. Um amontoado de idéias boas, mas pouco desenvolvidas, é o que define este trabalho. Carros icônicos em um horizonte vazio? Perseguições em alta velocidade? Soceidade civilizada em ruínas? Todas são características fortes, mas que poderiam ter usado uma dedicação maior. Felizmente, o sucesso deste filme, tanto na bilheteria quanto na crítica, permitiu que o universo criado abrisse portas para outras sequências fazerem melhor onde este não fez.