A extraordinária decepção que “The Phantom Menace” foi para muitos fãs não impediu que o filme faturasse mais de 1 bilhão de dólares. A segunda parte da Nova Trilogia chegou para uma audiência um pouco mais receosa, mas mesmo assim entusiasmada por seu lançamento porque, afinal, se trata de Star Wars. “Attack of the Clones” ainda traz alguns dos problemas que prejudicaram seu predecessor e é, junto com ele, um dos mais criticados da série. Ainda assim, sem dúvida traz diversas melhorias importantes que tornam a experiência mais aproveitável e expandem ainda mais o universo e o grande enredo da queda de Anakin Skywalker.
Dez anos após os eventos do Episódio I, um movimento separatista ameaça a integridade da República. Nem mesmo a Senadora Padmé Amidala (Natalie Portman) se vê segura quando sofre um atentado em Coruscant . O Conselho Jedi age ao colocar o Padawan Anakin Skywalker (Hayden Christensen) para protegê-la de novos ataques e Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para descobrir os responsáveis. Os planos saem dos trilhos quando Anakin desenvolve uma atração proibida por Padmé, indo cada vez mais longe dos ensinamentos Jedi.
Há quem diga que esse é ainda pior que o anterior. O argumento é que este funciona melhor como um filme infantil, que era sua proposta clara, ao passo que esse se apresenta como algo mais maduro e é incompetente mesmo assim. Devo discordar. Isso não é dizer que “Attack of the Clones” não tem seus problemas, pois ele tem alguns notáveis, porém tem avanços bem mais significativos ou, no mínimo, erros bem menos graves. Não há nada como Jar-Jar Binks aqui nem infantilidades aos montes, conveniências descaradas ou um desequilíbrio narrativo geral. É justo o contrário nesse último aspecto, com a obra tendo uma fluidez de ritmo tornando a experiência mais facilmente digerível. Esse é um filme mais gostoso de assistir, nem um pouco arrastado e com bem menos absurdos para se apontar. Além de mais interessante por trazer mais conteúdo à mesa, avançando a história de Anakin bem mais que suas aventuras infantis em Naboo e Tatooine.
Um avanço em comparação ao seu predecessor de três anos antes, “Attack of the Clones” ainda peca por não ser uma melhora definitiva em todos os aspectos. Dentre todos os crimes, o mais grave é sua parte visual. Entendo que parte da motivação de George Lucas produzir novos filmes foi a evolução da tecnologia de computação gráfica, mas ele parece se empolgar demais ao usar tal ferramenta. Só não é pior porque a qualidade dos efeitos se mostra bem melhor em relação a “The Phantom Menace” e suas texturas horríveis de grama e as feias esferas de energia dos Gungans.
Os efeitos eram fantásticos na época. Mesmo parecendo tão bons, ainda não estavam em um nível realismo como o diretor talvez tenha pensado a ponto de envelhecer bem. Até mesmo efeitos simples como explosões foram totalmente computadorizados. Cenários digitais em detrimento de sets construídos por vezes parecem falsos, assim criando uma grande disparidade entre figura e fundo, ou seja, ator e cenário. O resultado é que algumas cenas sofrem com isso, perdendo a tênue linha que mantém a imersão do espectador. Às vezes é melhor, às vezes é pior. Ao menos os olhos se acostumam depois de tanto tempo vendo efeitos, cenários e até personagens inteiros digitais.
Em relação a quantidade de arcos, “Attack of the Clones” filtra melhor suas prioridades e trabalha todos em prol da grande trama da trilogia, deixando mais claro onde cada virada se encaixa na narrativa maior. Dos que surgiram no “Episódio I“, nenhum foi descartado e alguns foram atenuados para serem explorados com o devido foco. É o caso dos conflitos de grande escala, agora reduzidos de uma invasão planetária-espacial para sequências de intensidade similar apresentadas de maneira muito mais equilibrada. Em vez de ser uma batalha de grandeza épica, é possível encontrar cenas de perseguição espacial, assim como lutas de sabre e conflitos grandes, só que encaixados de forma mais plausível. As batalhas espaciais não precisam colocar o destino de um planeta inteiro nas mãos de um garoto, assim como as guerras não precisam de no mínimo dezenas de milhares de integrantes de cada lado. Mesmo menores em proporção, tais sequências se mostram superiores tanto por sua moderação quanto por sua melhor escrita.
A melhora considerável na ação infelizmente não se encontra em roteiro e diálogo. Pode-se argumentar que Star Wars é uma série com base no quesito Ação/Aventura, então seriam as cenas desse tipo com uma importância maior. O ponto é que, significativa como a ação é, ainda há uma história a ser contada em torno dela, especialmente por haver uma ligação direta com a Trilogia Original. As cenas de romance entre Anakin e Padmé são exemplos clássicos das falhas de roteiro e também de direção de George Lucas. Ainda que exista função para tal romance, e execução segue um modelo esquisito de diálogos muito diretos e sem sutileza alguma para alimentar o flerte, com os momentos escolhidos para ilustrar a paixão sendo tão esquisitos quanto. Tudo vale no amor, dizem, mas para que isso funcione é sempre necessário um fator que os torne críveis. Eis que entra a direção de ator, a qual poderia ter ajudado Hayden Christensen um pouco a tornar tanto o conflito interno de Anakin como seus sentimentos confusos em algo mais acessível, mais distante de uma atuação ruim da qual ele costuma ser acusado.
Certamente um progresso diante do último filme, “Attack of the Clones” ainda desaponta um pouco por não entregar uma nova trilogia em sua melhor forma. A melhor aplicação de cenas de ação ao longo do enredo é certamente uma característica positiva, pois torna a obra mais dinâmica, mas às vezes não é o bastante para salvar o filme de outros momentos muito inferiores. E, sim, falo da infeliz cena da fábrica. Eis um exemplo de sequência gratuita, sem nenhuma relevância e que nem é divertida, descaradamente inserida para preencher tempo de tela que poderia ter sido usado para outras coisas. Entre todos os filmes, há de se argumentar que este é o mais meio termo de todos, não chegando a ter as falhas graves do “Episódio I“, nem momentos marcantes como seu sucessor.