As obras de Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, foram e sempre serão um marco de inovação na história do cinema. Capazes de fazer o espectador quase arrancar pedaços do assento com os dentes, seus filmes instigavam um sentimento de suspense inigualável em qualquer um que se atrevesse a vê-los. Tendo em mente os sucessos do diretor, Mel Brooks lança um filme dedicado ao mesmo, uma comédia que satiriza ao mesmo tempo que homenageia a carreira e conquistas de Hitchcock.
Para construir sua história, Brooks pega emprestado um pouco de cada filme, mas em sua essência este usa mais de “Vertigo” para sua base, vide o título. Quando o diretor do Instituto Psiconeurótico para os Muito, Muito Nervosos falece repentinamente, o doutor Richard H. Thorndyke (Mel Brooks) é contratado para tomar seu lugar. Porém mesmo quando as coisas parecem normais, algo simplesmente não encaixa. Não demora muito para o bom doutor se ver envolvido em conspiração atrás de conspiração, e a única maneira de limpar seu nome é enfrentando seu maior temor: o medo de altura.
Embora a idéia principal por trás deste longa-metragem seja interessante, ou seja, satirizar filmes icônicos através de cenas similares às do material original, esta acaba sendo tanto o pilar definitivo do roteiro quanto o principal motivo de sua falha. Mais ou menos como uma obra de Woody Allen, “Everything You Wanted to Know About Sex* (*But Were Afraid to Ask)“, este longa é um agrupamento de deboches de vários filmes diferentes colocadas em conjunto para encaixar na trama. O porém é que assim como a obra citada, fazer um filme baseado em diversas sequências isoladas não é bem uma demonstração de qualidade em um trabalho cinematográfico. Curiosamente, a principal falha mostra ser a mesma em ambos os exemplos: a falta de um elo forte que ligue todos estes atos de comédia isolados, tornando-os momentos notáveis de algo maior e não apenas sequências isoladas que claramente tiveram mais dedicação que o conteúdo restante.
Em comparação, o trabalho de Brooks obviamente exibe uma estrutura muito superior à de Allen, pois mesmo que risível, no sentido não cômico da palavra, este possui um roteiro. Sem cortes entre atos, aqui pode-se ver um embrião de elo entre os atos, mas que ainda é insuficiente para sustentar a obra nas costas. Entretanto, não só de uma atenção maior estas tais sequências são compostas; em sua essência elas contém um humor fantástico, que as faz mais do que simples sátiras. Levando em conta que até mesmo as mais simples bobeiras ganham um pouco de graça, um fato torna-se claro: Mel Brooks por si é um cara bem engraçado, e ao assumir os postos de protagonista e diretor, quase tudo acaba infectado por sua contagiante atmosfera cômica. Claro, não se fala aqui de nenhum milagre da Comédia, o humor nem sempre funciona com a mesma eficiência de alguns momentos, mas a variação entre genial e simpático serve bem o bastante como combustível deste longa-metragem.
Caso não fosse o sentimento de vazio causado pelo roteiro fraquíssimo, este certamente poderia ser um grande longa-metragem à altura dos clássicos que homenageia. Mas a explícita falta de alguma coisa crucial nessa mistura de cenas engraçadas, palhaçadas, exageros, e homenagens acaba deixando uma atmosfera estranha neste longa, como se você fosse num restaurante e comesse apenas os aperitivos enquanto aguarda a comida. Infelizmente, a comida nunca chega neste filme e quando ameaça vir, deixa a desejar profundamente. No entanto, algumas demonstrações definitivamente geniais de como se fazer uma comédia de qualidade por vezes salvam a pátria, roubando algumas várias risadas sinceras no processo.
Podendo ter sido algo muito maior se não fosse por algumas falhas críticas em sua estrutura, esta comédia pode até ter pensado em se igualar aos trabalhos de Hitchcock, mas no final das contas permanece como apenas uma referência bem humorada. Embora por vezes totalmente excelente, a falta de um roteiro para orientar os eventos e o humor definitivamente faz sua ausência ser notada, tirando assim qualquer possibilidade desta obra ser levada mais a sério, comicamente falando.