Uma das grandes obras sobre a Guerra do Vietnã, este trabalho de Michael Cimino aborda a guerra com um olhar um pouco diferente de outros filmes. Embora um de seus elementos-chave, a roleta russa, não seja historicamente correto, o mesmo funciona como metáfora para representar uma das características mais críticas da guerra: o valor da vida humana. Estrelando Robert De Niro, Christopher Walken, e John Cazale, este filme rendeu o único Oscar da carreira de Walken, o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante.
Pessoalmente, não vejo este filme como material de Oscar em quase nenhuma das categorias em que levou o prêmio. O filme tem vários méritos como contar uma boa história e ter vários momentos chocantes, mas sua qualidade em geral não está a par de outros grandes trabalhos que levaram a estatueta. Há alguns pontos interessantes na abordagem de Michael Cimino sobre a Guerra do Vietnã, mas a impressão passada é que o material não está no mesmo nível de obras como “Apocalypse Now” e “Full Metal Jacket”. Ainda assim, há alguns elementos que merecem uma atenção maior por sua abordagem diferenciada e fazem uma assistida valer a pena.
Centrada em uma cidade pequena da Pennsylvania, a história acompanha a vida de um grupo de amigos que acabam sendo enviados para o Vietnã. Dividido basicamente em três partes, a trama tem como focos o círculo de amigos antes da guerra, durante a guerra, e após o conflito. Nesse processo não apenas suas vidas são colocadas em jogo mas também as vidas das pessoas próximas aos soldados. É explorado o impacto que a guerra causa em cima de não só quem foi à luta, mas quem aguardou pela volta de seus entes queridos. Para elaborar em cada uma destas três partes, o filme roda em cerca de 182 minutos, dedicando mais ou menos uma hora para cada uma delas. Quando a história é embrulhada com o fim do filme, a impressão obtida é que talvez três horas fossem um pouco demais para contar a relativamente simples história. Claro que como em todo Épico a duração mais longa normalmente é justificada pelo desenvolvimento mais extenso dos personagens, mas o que parece é que talvez pudessem ter executado melhor essa parte. Momentos onde tentam usar o drama como o coração da cena simplesmente ficam aquém do ideal.
Rodeando a atmosfera do longa está uma sensação de filme barato, que acaba diminuindo o ar de seriedade passado pelo enredo. Em termos de fotografia este filme não comete nenhum pecado, pois em sua maioria os cenários são capturados satisfatoriamente. Some isso a cenários espetaculares e algumas várias boas imagens são apresentadas para o deleite do espectador. O defeito está particularmente na edição de algumas dessas cenas em conjunto com a decepcionante trilha sonora, dupla responsável por grande parte desta sensação de baixo orçamento. Essa combinação em diversos momentos acaba estragando cenas que de outro modo seriam boas, mas acabam parecendo genéricas em demasia. Por exemplo, não bastasse a falta de qualidade da trilha sonora, ainda incrementam a ruindade com cortes inoportunos; tal como quando tentam dramatizar uma sequência ao colocar um pequeno trecho de uma canção dramática somado a um jogo de câmeras medíocre. Felizmente, essa atmosfera não se mantém no filme inteiro, caso contrário a experiência seria muito mais negativa. Em momentos acertam chegam a acertar a mão perfeitamente, executando os elementos dramáticos exatamente no nível que os eventos da história requerem.
O aspecto redentor deste longa-metragem se encontra no desempenho exímio do elenco, que brilha tanto em casos isolados como em conjunto. Robert De Niro, por exemplo, não desaponta ao interpretar um personagem um pouco mais reservado e quieto do que outros papéis de seu repertório. Seu personagem ser mais quieto dá, por sua vez, mais espaço para o resto do elenco brilhar. John Cazale e Christopher Walken mostram suas cores ao interpretar personagens interessantes, também significantemente diferentes dos personagens-estereótipos de suas carreiras. Walken impressiona ao dar uma tridimensionalidade curiosa ao seu personagem, e apesar do reduzido tempo de tela transmite emoções fortes ao seu papel. No final das contas, as performances icônicas acabam sendo uma das poucas qualidades que evitam que o filme falhe em momentos cruciais do enredo. Os mesmos que dependem tanto do desenvolvimento extenso de um Épico.
Pensei em criticar o uso da roleta russa como ferramenta do enredo por achar que os resultados foram um pouco óbvios demais. Porém por não ter absoluta certeza da validade dessa crítica, atribuo o sentimento de dúvida ao sucesso das cenas em criar certa tensão. Considerando que vários desses momentos surgem como surpresa, acredito então que a produção teve sucesso em sua empreitada por ao menos criar suspense e surpresa no jogo. Talvez com um polimento mais cuidadoso de algumas áreas, este filme poderia ser muito mais impactante que acabou sendo. Apesar de seus defeitos, há qualidades o bastante para que o espectador confira esta abordagem do clássico plano de fundo da Guerra do Vietnã.