Um dos filmes mais importantes da carreira de Steven Spielberg, esta obra ajudou a cimentar o status do diretor como um dos grandes nomes de Hollywood. Embora possam querer tratar este como apenas mais um conto sobre a Segunda Guerra Mundial, acredito que este trabalho é bem feito o bastante para entregar algumas surpresas. Junto com “Império do Sol” e “O Resgate do Soldado Ryan”, este filme faz parte do grupo de filmes de Segunda Guerra dirigidos pelo cineasta. Com “A Lista de Schindler” temos não só mais um bom filme ambientado na guerra, mas um trabalho inteligente em cima do cenário escolhido por Spielberg.
Por seu impacto histórico, o evento oferece conteúdo o bastante para render diversas histórias de qualidade; e enquanto ache que poderiam ter sido feitos dois mil filmes sobre o conflito, Spielberg trabalha inteligentemente ao abordar três partes distintas da guerra em cada trabalho. Nesta obra se tem um cenário conhecido e outro desconhecido: a parte familiar é a do sofrimento dos judeus, a menos popular é a exploração de comerciantes em cima do período de guerra. Inicialmente, a história aborda o efeito da conquista da Polônia em cima dos judeus, forçados a se mudar para Guetos isolados do resto da população. Interessado em obter lucro em cima da situação precária dos judeus, Oskar Schindler (Liam Neeson) passa a usar financiamento e mão de obra dos mesmos para levar seu negócio para frente.
Melhor do que contar uma história interessante, este filme apresenta muito conteúdo sobre as esferas da guerra que aborda. Eventos não são apenas apresentados por serem simplesmente interessantes, são explorados profundamente a fim de aproveitar o material da melhor maneira possível. Dois trajetos são apresentados ao espectador, o de Schindler e o dos judeus, e ambos seguem seus caminhos independentes até que em certo ponto passam a andar em conjunto. Não se vê alguns judeus tendo os miolos estourados porque tais cenas são chocantes, e muito menos para criar qualquer tipo de sentimentalismo barato, existe sempre algo mais por trás de tudo. Há muito para se contar aí, e nada do que é mostrado passa a impressão de estar ali para apenas preencher espaço. Todos os 195 minutos de filme são completos com cenas de alguma relevância para o progresso de uma dessas duas histórias, e por alguma relevância digo que a devastadora maioria se sobressai em transmitir seu conteúdo da melhor maneira possível.
Outra parte curiosa sobre filme é o personagem Oskar Schindler, que no começo não é nem de longe o salvador da humanidade como é conhecido hoje. Cumprindo com excelência o papel que foi posto à sua disposição, Liam Neeson entrega uma performance carregada de emoção e profundidade. Schindler não é representado como um sujeito de bom coração, amante de seus colegas judeus sofredores e que só busca o bem estar da humanidade. Muito pelo contrário. O personagem passa por uma extensa evolução até chegar no ponto onde se tornou conhecido como um ícone dos sobreviventes do Holocausto. A tridimensionalidade da atuação de Neeson é claramente notada ao passo que seu personagem se desenvolve na trama, evoluindo organicamente e majestosamente conforme as demandas do enredo. Pessoalmente, este foi um ponto fortíssimo do filme para mim; pois ver um personagem tão complexo e bem desenvolvido não era exatamente o esperado de um filme dramático sobre a Segunda Guerra Mundial. No fim das contas, este acabou como um dos aspectos mais fortes de toda a obra, se exaltando tanto quanto outros igualmente excelentes elementos dessa obra.
Mas de todos os elementos atraentes deste longa-metragem, não poderia deixar de comentar a escolha peculiar de Steven Spielberg na fotografia do filme. Criticada ou amada, escolher apresentar o filme em preto e branco certamente é a primeira coisa que chama a atenção. Embora alguns prefiram o cinema em cores ao preto e branco, neste filme a escolha estética mostra-se muito feliz em poporcionar um espetáculo visual. Talvez por influência do Noir, um certo sentimento de rispidez e pessimismo é transmitido pelos inúmeros tons de cinza vistos aqui. Há, inclusive, uma certa ironia permeando a atmosfera aqui, pois por mais bela que as imagens apresentadas sejam, não há nada de bonito em seu conteúdo. A antítese apresentada em conjunto com a beleza das imagens soma para entregar não só visuais extraordinários mas também uma semântica interessante.
Finalmente, “A Lista de Schindler” mostra que há realmente um excelente filme por trás de todos os elogios e prêmios. Uma comprida, complexa e tocante história sobre como a ambição de um homem acabou salvando diversas vidas dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Mais do que cimentar o nome de Spielberg na calçada da fama, este trabalho oferece um insight curioso sobre um popular evento histórico, que mesmo universalmente conhecido não deixa de entregar uma experiência extravagante.