Ainda estamos em Fevereiro, mas acredito que já exista um grande candidato ao pior filme de 2015. Este é o primeiro de três filmes que adaptarão uma trilogia de livros, escrita por E. L. James. De todos os vídeos e livros que abordam o assunto de direção cinematográfica, em outras palavras como fazer um bom filme, este é o melhor de todos os exemplos de como não fazer um. Tudo bem que o material-base não foi bem recebido pela crítica, apesar do sucesso comercial estrondoso, mas poderiam ter feito desta adaptação algo muito melhor. Pelo que as bilheterias revelam, a trilogia de filmes vai seguir no mesmo caminho dos livros: obras de qualidade questionável mas extremamente rentáveis.
A receita do sucesso de ambos muito provavelmente está ligada ao conteúdo abordado pelas mesmas: os limites da sexualidade e as modalidades menos divulgadas do ato sexual. Por ser um assunto tão pouco comentado em obras conhecidas, os trabalhos que falem sobre isso irão automaticamente despertar a curiosidade do espectador. Acredito que esta seja a principal e talvez única qualidade desse filme, despertar a curiosidade do público. É com esse interesse e esse alarde que este longa é vendido, pois com certeza foi o único motivo de eu ter ido assisti-lo em primeiro lugar. Mas vamos estabelecer um porém: abordar um assunto obscuro não significa que o produto seja bom ou a abordagem de qualidade.
A história contada aqui é a de Christian Grey (Jamie Dornan), um jovem executivo multimilionário que conhece Anastasia Steele (Dakota Johnson) em uma de suas reuniões de negócios. Com o tempo um relacionamento se desenvolve e alguns segredos se revelam: Christian na verdade é um sadomasoquista. De começo a idéia parece interessante o bastante para ser conferida, o que é o bastante para vender livros e ingressos. Por incrível que pareça, a trama até chega a travar a atenção por um instante nas partes onde há um jogo de sedução entre os protagonistas. Infelizmente, manter o interesse do espectador é pedir muito de um filme medíocre como esse.
Se em algumas situações a atuação do elenco compensa onde o roteiro peca, este com certeza não é o caso. Apesar da interpretação de Dakota Johnson estar na média e não incomodar nem um pouco, os esforços de Dornan são no mínimo risíveis. Seu personagem é famoso na história por ser uma figura bonita e sensual, além de charmoso e bem vestido. Para os olhos, realmente não há onde colocar defeito pois sua aparência cumpre bem esse papel. O problema é que Jamie Dornan tenta ser James Bond quando na verdade ele involuntariamente parece mais um Exterminador do Futuro. Não sei falar sobre seu trabalho no bem falado seriado “The Fall”, mas aqui simplesmente não há nada para ser visto. Não bastassem suas péssimas linhas de diálogo, Dornan faz o favor de entregá-las da maneira menos charmosa e sensual que poderia.
Em relação aos aspectos técnicos temos um festival de cinema medíocre, exatamente o contrário que todos aquelas obras de teoria cinematográfica tentam construir. A história é simples o bastante, não há necessidade de explicar nada mais do que as imagens possam transmitir. Ainda assim, o diretor insiste em iluminar diversas situações onde já é bem claro o que está acontecendo. Por exemplo, há uma cena onde uma pessoa permanece calada enquanto a outra insiste em puxar conversa. Não é muito difícil interpretar que uma delas está procurando abertura para conversar com aquele outro indivíduo. Independente disso, pode-se ouvir várias vezes “Por que você é tão fechado?” e “Por que você não me deixa entrar?”. Nem mesmo a fotografia se salva, pois a pretensão mostra-se presente quando passam um filtro acinzentado em todo o ambiente exterior para mostrar que não só Christian Grey é feito de Tons de Cinza. Também há o resto do filme, mas dispenso comentários pois este não compensa nem um pouco todos os erros ao continuar a demonstração de direção medíocre.
Além de seu sucesso em comercializar curiosidade e um começo de história razoável, os únicos momentos que este filme realmente executa bem são as cenas de sexo. Tirando o uso da nudez na tentativa de prender a atenção do espectador, as sequências na cama entre os dois protagonistas são em sua maioria bem feitas. Pode-se notar bem a química entre os dois atores durante o ato sexual, o que para alguns é a única coisa que importa no filme inteiro. De qualquer forma, o longa-metragem é em geral muito falho para ser aproveitado de qualquer maneira positiva. Creio que fãs do livro possam aproveitar melhor a experiência, pois quem só conhece a franquia de ouvido provavelmente vai se arrepender de ter gasto dinheiro no ingresso.