O nome genérico pode enganar ao fazer esta obra parecer algum filme de ação ruim estrelado por Dwayne Johnson, mas este não é o caso. Embora possa aparentar ser outra história genérica de guerra, este longa de Clint Eastwood se mostra bem competente frente a algumas decepções concorrendo a Melhor Filme. Mesmo não sendo uma demonstração única de qualidade ou inovação, esta obra ostenta a direção característica de outras obras de Clint como diretor. O sentimento de ir direto ao ponto sem delongas e ser incisivo na representação de eventos, por exemplo, marcam presença, mesmo que não sejam constantes e benéficos o bastante para compensar as falhas desta obra.
Parte do grupo de filmes biográficos do Oscar, este longa-metragem conta a jornada de Chris Kyle (Bradley Cooper). Um Texano tradicional, Kyle decide entrar para o exército quando fica sabendo do ataque ao World Trade Center. Mas não antes de conhecer Taya (Sienna Miller), a mulher com quem casa e faz família. Ligado a dois mundos completamente diferentes, Kyle fica dividido entre abandonar sua família e abandonar a guerra, ambiente onde fez seu nome como “A Lenda” das forças armadas.
Se por um lado seus filmes costumam ser relativamente diretos ao que importa, por outro se tem aqui uma estranha presença de uma enrolação no desenvolvimento dos personagens. Ao invés de manter uma direção que vá definir quão complexos seus personagens serão, o filme se mostra bagunçado ao ficar em cima do muro neste quesito. Em certas obras, ter personagens simples não prejudica o filme, enquanto em outros trabalhos um desenvolvimento mais a fundo se faz necessário. Escolher um dos extremos pode colaborar de maneira significativa para o produto final, estabelecer uma evolução pela metade, não tanto. Aliás, fica mais fácil dizer que em cima do muro está mais para pouco desenvolvimento que para muito. Além de grande parte de seus personagens serem rasos, “American Sniper” tenta ostentar uma qualidade em lugares onde não há nada para ser visto, em primeiro lugar.
Não só temos um meio elenco com um desenvolvimento medíocre, como também temos essa mesma metade sendo a parte podre da fruta. Através de um salto temporal aleatório, Eastwood tenta encaixar um plano de fundo para seu personagem principal forçadamente. Como se quisesse obrigar o espectador a aprovar, ou ao menos aceitar, as atitudes do protagonista, Clint pinta seu filme com as cores republicanas de sua tendência política. Embromações desnecessárias como essa apenas prejudicam o já fraco desenvolvimento de seu elenco. Enquanto a atuação de Cooper se mantém sólida durante o filme todo, embora longe de extraordinária, o mesmo não pode ser dito do resto da equipe. Por serem carentes de complexidade, personagens mais secundários dependem fortemente de traços únicos de personalidade para possuir algum tipo de identidade. Neste caso, a maioria passa completamente batida por falharem em ter qualquer uma dessas características.
Embora pareça uma completa bomba pela imagem passada por seu elenco, “Sniper Americano” brilha na sua narrativa sólida e concisa. A simples história das dificuldades de adaptação de um soldado é contada graciosamente, sendo direta exatamente da maneira como o desenvolvimento dos personagens não é. Para evitar manter as coisas simples demais, alguns detalhes menores incrementam a inicialmente simples trama, aos poucos enriquecendo esta história. Composto por momentos mais agitados e outros mais calmos, este filme mantém a direção de tudo em constante mudança. A execução das sequências de ação e de suspense é perfeita, posicionando muito bem estas partes agitadas em lugares que terão impacto máximo — normalmente sem aviso — e sendo apropriadamente moderada na hora de apontar para onde cada sequência deve ir, ou seja, preparando o terreno sutilmente. Como numa guerra, não há aviso de quando o perigo vai aparecer, o que dá certo charme a estas mudanças repentinas.
Errando um pouco demais da conta no quesito do desenvolvimento de seu repertório de personagens, este filme compensa muito de suas falhas com uma narrativa sólida e sucinta. Sem delongas desnecessárias se tem uma história clara, onde dificilmente se achará alguma falha que comprometa o entendimento do trajeto de Chris Kyle como A Lenda do Exército Americano.