Antes deste filme, o nome Alan Turing era apenas levemente familiar para mim, sendo visto apenas de passagem em alguns artigos que o nomeavam um dos pais do computador. Trazendo Benedict Cumberbatch de volta aos cinemas após seu trabalho em “O Hobbit: A Desolação de Smaug“, “The Imitation Game” conta a história de Alan Turing (Benedict Cumberbatch) e seu envolvimento nos eventos da Segunda Guerra Mundial. Contratado pelo exército inglês para trabalhar no departamento de criptografia, Turing trabalha em conjunto com uma equipe para decifrar o código usado pelos alemães para criptografar suas mensagens.
Quando o Turing passa a ser investigado pela polícia por conta de uma invasão em sua casa, o mesmo é levado para interrogatório. Na delegacia, sua história é contada de maneira a um detetive de polícia. Se por um lado colocar o protagonista narrando os eventos de sua própria história é um artifício extremamente comum no cinema, por outro é meio estúpido botar o mesmo confessando a um oficial de justiça crimes pesados como conspiração e traição. Para que isto possa ser levado a sério, o espectador se vê obrigado a acreditar que tais detalhes foram deixados de fora do discurso. Composto por erros aparentemente pequenos como esse, “The Imitation Game” por vezes falha em conquistar mais por conta de diversas minúcias como esta.
Tomando por exemplo o progresso da equipe em cima do código alemão, um dos focos principais da trama e também enfoque principal da publicidade do filme, temos um desenvolvimento inicialmente bem executado. A relação entre a personalidade peculiar de Turing e seus companheiros de equipe é usada como um dos artifícios principais no desenvolvimento desta parte do enredo, e até certo ponto é mais que o bastante para seguir em frente com a trama. O problema está nos momentos onde uma explicação mais detalhada se faz necessária. Nestas ocasiões o longa falha em entregar uma explicação palpável, à altura da complexidade do desafio enfrentado pelos personagens. Sendo este um dos âmagos deste longa-metragem, executar mal tal elemento prejudica consideravelmente a experiência.
O outro grande enfoque pode não ser surpresa para quem é familiar com a história de Alan Turing, mas aqui é tratado como uma novidade, uma parte essencial do enredo. Quase totalmente dependente da atuação de Cumberbatch, essa parte da trama é perfeitamente executada pelo ator, que brilha na demonstração das emoções-chave demandadas por cada situação. Embora excelente, a atuação de Benedict Cumberbatch não traz nenhuma novidade à mesa. Mostrar-se como um indivíduo muito inteligente, socialmente ignorante e portador de características excêntricas é familiar demais para passar batido. Tais similaridades apontam dedos demais em cima de seu outro personagem, Sherlock Holmes, outro gênio de personalidade extravagante. Embora não sejam idênticos, é muito difícil não assimilar os dois, ainda mais quando são interpretados pelo mesmo ator. Ter este ar de mesmice, entretanto, não diminui os méritos do ator, que em vários momentos transcende esta semelhança ao ir além das características vistas em Sherlock.
Embora possa parecer apenas um detalhe pequeno perante o resto da obra, um elemento em específico se mostrou desnecessário e incômodo. No desenrolar do enredo, diversas imagens da guerra são inseridas entre cenas, mostrando cenários características do conflito. Não sei qual foi objetivo pretendido, mas se tentaram colocar sequências com os horrores da guerra para amplificar a tensão em cima do trabalho da equipe, falharam miseravelmente. Mostrar que, por conta do conflito, vidas estão sendo perdidas, inocentes estão sofrendo, e famílias estão sendo destruídas é uma coisa; colocar cenas de guerra manjadas como aviões bombardeando campos de batalha, submarinos torpedeando navios, e tanques de guerra em movimento, é outra história. Cenas como essa não adicionam nada à tensão ou à representação do lado negro do conflito, apenas quebram o ritmo estabelecido previamente com seu conteúdo inútil e sua computação gráfica ultrapassada.
“The Imitation Game” promete muito inicialmente, introduzindo bem os aspectos que se dedicará no decorrer da trama. Mantendo o nível de qualidade com um desenvolvimento competente, o longa finalmente erra na conclusão de um dos focos principais da história, deixando a desejar profundamente. Ao menos a excelente atuação de Benedict Cumberbatch salva boa parte do filme, e até funciona como consolo para quem está aguardando a próxima temporada de “Sherlock”.