Entre 2001 e 2003, Peter Jackson lançou sua trilogia de sucesso, a adaptação da obra “O Senhor dos Anéis” de J. R. R. Tolkien. Convidado a dirigir a adaptação de “O Hobbit” após Guillermo del Toro abandonar o projeto, Jackson começou a gravar a fotografia principal em 2011. Primeiramente planejada como uma adaptação de duas partes, esta acabou sendo estendida para três filmes por decisão do estúdio. Em comparação com a trilogia de livros “O Senhor dos Anéis”, que tem ao todo perto de 1200 páginas, “O Hobbit” possui apenas 300. Com um material base significantemente menor, a trilogia sofre por ter três longas de 2 horas e meia cada para adaptar mais ou menos 100 páginas cada.
Seguindo os eventos do último filme, Bilbo Baggins (Martin Freeman) segue sua jornada com a companhia dos 13 anões em busca da Montanha Solitária. Sendo perseguidos por Azog e sua legião de orcs, Bilbo e seus companheiros são forçados a vencer diversos obstáculos até a chegada em Erebor, onde a cidade e o tesouro são mantidos pelo terrível dragão Smaug. Essa é a premissa do filme inteiro, em toda sua duração de 161 minutos.
Na segunda parte da trilogia, a fórmula de mostrar a companhia dos anões passando por diversos perigos já se mostra bem cansativa. Para piorar, como reflexo direto da falta de conteúdo para preencher as mais de duas horas de duração, este longa é quase totalmente recheado de tais sequências. Não querendo dizer que a qualidade dessas consequências seja duvidosa, mas a constante repetição desse esquema logo as torna tediosas.
Uma comparação pertinente para caracterizar melhor a estrutura deste filme seria por o longa frente a um jogo antigo e linear. Assim como o jogo possui uma história linear e dividida em partes, o filme parece também ser dividido em fases diferentes, que servem apenas como uma encheção de linguiça entre o começo e o final. Em nenhum momento a aventura dos anões transmite algum sentimento de perigo real, cada inimigo e novo ambiente que aparecem são apenas pretextos para delongar a trama. Nenhum inimigo mostrado é realmente intimidador o bastante para parecer uma afronta ao progresso dos heróis, desde o começo já se sabe que eles vão ser despachados de alguma forma simples, e eventualmente boba.
Após quase duas horas de filme, os anões finalmente chegam na montanha que eles tanto buscaram, e apenas aí é que a história passa a andar de verdade. A partir desse ponto é que as coisas realmente ficam interessantes, pois é o onde o dragão Smaug aparece de vez. Mais das sequências de aventura acontecem aqui, mas ao menos o perigo está presente quando um King Ghidorah de uma cabeça é o vilão da jogada, ao invés de um bando de orcs patetas.
Para compensar esta falta de história presente, Peter Jackson trouxe um dos personagens principais e mais queridos da trilogia do Anel, o elfo Legolas (Orlando Bloom). Além dele, uma personagem elfa foi criada especialmente para este filme, Tauriel, a companheira de Legolas. Uma manobra um tanto desesperada, ainda mais considerando que os personagens não estiveram presentes no livro original. Não sei se Jackson esperava que a presença dos dois fosse resolver muita coisa, pois a única contribuição que a adição traz é uma dose bacana de nostalgia. De resto, seus papéis são resumidos a fazer parte das inúmeras cenas de aventura encontradas aqui, ajudando os anões e as mornas carreiras de Orlando Bloom e Evangeline Lilly.
Uma considerável decepção quando comparado ao interessante “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada”, este longa-metragem apenas entrega incontáveis sequências de: nada. Um hobbit e seus companheiros anões batendo e rolando dentro de barris e superando seus inimigos no processo por quase 2 horas não soma a uma experiência muito significativa, e menos ainda quando todo esta enrolação é ausente de final, um nada encerra 161 minutos de nada.