Tendo começado sua carreira no ramo do Cinema na década de 90, James Gray teve contato com a cultura dos imigrantes através de seus avós, que vieram para a América nos Anos 20. Após ter trabalhado com a temática em dois outros filmes, Gray volta para o conhecido cenário 13 anos depois de seu último longa-metragem sobre o tema, “The Yards” de 2000.
A história acompanha a jornada de Ewa (Marion Cotillard) em sua chegada na América, e mais especificamente dos problemas enfrentados por ela em sua estadia. Acompanhada de sua irmã, que já no início é enviada para um hospital sob suspeita de doença, Ewa passa a receber ajuda de um estranho que aparenta ter uma índole boa, mas como a personagem já sabe, parece bom demais para ser verdadeira. Sérias dificuldades logo colocam seus valores em xeque quando seus projetos não ocorrem exatamente como planejado, fazendo Ewa escolher entre si mesma e o bem estar das pessoas que ama.
Mais do que contar outra história sobre o sofrimento dos imigrantes da América dos Anos 20, “The Immigrant” se trata principalmente de um estudo sobre a moralidade. Tal moralidade que costuma ser estampada como uma mistura de cores que compõe o alinhamento do ser humano, nunca completamente branco nem completamente preto, mas sim uma grande variadade de tonalidades de cinza. O conceito é posto em jogo logo no começo da trama quando Ewa tem seu futuro em risco por um julgamento moral ríspido, mais tarde meticulosamente trabalhado através da magnífica interpretação de Marion Cotillard.
A fotografia do filme se posiciona, junto do desempenho do elenco, como um dos aspectos mais chamativos do filme. Por meio da palheta de cores usadas, um sentimento de melancolia e tristeza é passado, efetivamente representando o turbulento estado emocional da protagonista. Esta, por sua vez, tem seu constante sofrimento expressado não através de palavras, mas por meio da depressiva e invariável aquarela que pinta seu mundo com as cores mórbidas de sua condição emocional.
O jogo com luzes também chama muito a atenção por sua disparidade de tons, que sempre se posicionam entre a claridade e a penumbra completa. Como atração para os olhos tal aspecto adiciona muito à experiência visual apresentada, transformando este em um jogo interessante de dualidade. Mas em contraposição, a representação da moralidade em cada um dos personagens é mostrada de uma forma bem pouco explícita, ou seja, não há uma distinção tão óbvia de quem é bom ou mal, todos acabam como seres humanos “cinza”. Notado especialmente na interpretação dos atores, essa heterogeneidade da moral entra em conflito direto com a proposta apresentada pelo alto contraste entre o claro e o escuro, que sugere tons de preto e branco em detrimento das gradações de cinza.
Apesar da contradição de semântica transmitida por esses dois aspectos desta obra, a qualidade das representações do elenco sobrepõe com facilidade o jogo de luzes, em termos de eficácia na transmissão dessas acepções. Atuações fortíssimas de Marion Cotillard e Joaquin Phoenix apresentam personagens tão complexos quanto é requisitado das mesmas, mostrando com clareza as diversas facetas da concepção do certo e errado do ser humano. Especificando, o ser humano interpretado por Phoenix mostra tão expressivamente as camadas de sua complexa psique, que o mesmo chega a atingir um nível de complexidade ainda maior que o da própria protagonista. Os méritos estão sem dúvida em cima da concreta execução do ator, que consegue amplificar o impacto de seu papel mesmo estando menos provido dos artifícios estéticos usados em Ewa.
No que se refere ao trabalho da moralidade, “The Immigrant” consegue trabalhar de forma efetiva em cima do assunto, mesmo com algumas incongruências em sua execução. Sustentado principalmente pelas fenomenais interpretações do elenco, este filme manipula com sucesso as cordas emocionais necessárias para que uma conexão entre espectador e personagem se estabeleça. Infelizmente, parece que esta obra não aborda muito mais do que isso, e por vezes acaba cansativa demais por sua falta de destino, reforçada pelas invariáveis cores que ilustram os cenários. Uma falta de momentos marcantes que dêem fruto a alguma expectativa por algo, também não ajudam o já lentíssimo ritmo adotado pelo diretor.