Chega aqui o momento onde Godzilla encontra um de seus inimigos mais poderosos pela quarta vez, só que dessa vez temos um pouco do já visto misticismo inserido no meio desse combate titânico. Contrapondo o resto filmes da Era Millennium, este longa e seu sucessor, “Godzilla: Tokyo S.O.S.“, são os únicos que compartilham uma continuidade entre suas tramas. Sendo assim, este longa funciona tanto como continuação do “Gojira” original, além de dar continuidade a linha do tempo criada.
Aqui se tem Mechagodzilla retratado novamente como o herói de humanidade, enquanto Godzilla volta a tomar seu lugar como a ameaçadora força da natureza. Para deixar as coisas mais interessantes, a história de sempre é apimentada um pouco quando Mechagodzilla é construído a partir dos ossos do primeiro Godzilla. Parece uma idéia meio idiota, mas dou meus créditos para a equipe do filme que conseguiu inserir isso adequadamente no enredo.
Chamado de Kiryu aqui para poder ser melhor distinguido dos outros Mechagodzillas, o robô aqui tem o melhor design entre todas as suas encarnações, sendo tão ameaçador quanto estupendo e medindo bem as doses de beleza e funcionalidade. Como dito, as células do sistema nervoso do Godzilla que atacou em 1954 foram usadas como base para criar um sistema mais eficiente que os disponíveis no momento. Porém, inseriram outro interessante detalhe a esse esquema, logo na primeira vez que Kiryu é usado, seus sistemas piram e o robô passa a agir como se fosse o próprio Godzilla antes de morrer. Embora um conceito interessante, ele acaba sendo pouco usado e não alcança o potencial que mostrou ter primeiramente.
Pior que ser pouco usado, acabam transformando esse conceito em uma desculpa para que um sentimentalismo barato seja inserido. A protagonista do filme é retratada como uma solitária oficial das forças armadas, e em certo ponto do filme ela tenta fazer de Kiryu seu companheiro de luta. Isso não cola muito bem com o sub-enredo interessante, que trata da relação entre noções de vida e morte. Nunca é garantido que o Godzilla está realmente vivo dentro da máquina, e mesmo se estivesse, este relacionamento nunca funcionaria da forma como é proposto, visto que Godzilla nunca mostrou afeição pela raça humana.
Por outro lado, a história humana que é construída paralelamente com a trama dos kaijus é muito bem desenvolvida. Uma das protagonistas é dona de uma personalidade relativamente reclusa, e uma série de mortes causadas por ela acidentalmente apenas pioram a já complicada situação mental da Oficial. Além disso, sua relação com uma garota que perdeu sua mãe cedo na vida é explorada de maneira que as duas personalidades se complementem, uma suportando a outra com seus entendimentos sobre o que se refere à vida e morte.
Mesmo com uma ótima subtrama, o filme acaba pecando um tanto nas cenas de luta entre os kaijus. Como mencionado, acertam fortemente quando exploram a parte de Kiryu pirando e destruindo a cidade do jeito que o primeiro Godzilla faria. Até poderíamos ter presenciado uma batalha entre Godzillas que dividem um espírito animal, além da própria fisionomia; mas infelizmente esse aspecto é pouco explorado. De resto, as outras cenas que abordam a luta entre os monstros dão um passo para trás em comparação com seus predecessores da Era Millenium. Todas as cenas têm um caráter extremamente exagerado, a previamente duvidosa física dos monstros tem seus limites extrapolados um tanto além do aceitável aqui. Monstros voam mais que deveriam, e movimentos que deveriam exercer menos força do que exercem acabam estragando um pouco as cenas de batalha, antes tão bem realizadas pelo mesmo diretor em “Godzilla vs. Megaguirus“.
Tendo uma boa trama humana, o filme acaba pecando justamente nas sequências emocionantes de monstro que todos esperam desde o começo. Seguindo o mesmo modelo de “Invasion of Astro-Monster”, esta entrada acaba focando um pouco demais no enredo. e um pouco menos nos monstros, que acaba impedindo que a qualidade da obra seja superior.