Considerando o relativo fracasso comercial de “Godzilla vs. Biollante” em 1989, a Toho decidiu trazer de volta os oponentes populares de Godzilla em vez de seguir os planos do produtor e criar novos monstros. No décimo oitavo filme da franquia, King Ghidorah é trazido de volta, só que dessa vez o Grande G não tem o apoio de outros monstros para ajudá-lo, como aconteceu em “Destroy All Monsters“. Originalmente, o oponente era pra ter sido King Kong, mas esse plano foi para o ralo quando pediram muito dinheiro pelos direitos do gorilão, possivelmente evitando outra bomba como o filme de 1962. Também influenciados pela bilheteria do predecessor, foi decidido que as histórias complexas de ficção científica dariam lugar à tramas simples e tão comuns na Era Shōwa.
Um OVNI é avistado no Japão e um grupo de humanos do futuro logo se revela responsável pela visita. Com boas intenções, esse grupo mostra que veio para ajudar o país a se livrar de Godzilla de uma vez por todas; mas como se bem sabe nessa altura do campeonato, algo não cheira bem. Como o próprio título já diz, Godzilla acaba caindo no braço com King Ghidorah quando os humanos do futuro trazem o dragão para destruí-lo . Há um pouco mais de complexidade nesse meio, mas prefiro não comentar mais para não acabar contando o filme inteiro.
O dragão dourado de três cabeças continua bem como sempre esteve, mas não ganhou uma atualização tão dedicada na Era Heisei como o próprio Godzilla. Ainda assim, as mudanças são o bastante para deixar os efeitos em um nível aceitável para a época. Sobre mudanças ainda, fica muito clara a influência que filmes populares da época tiveram na série. O último teve vários toques de Jason Voorhees e Michael Myers, ao passo que neste nota-se uma boa dose de “O Exterminador do Futuro 2”, que saiu alguns meses antes de “Godzilla vs. King Ghidorah”. A trama não só envolve várias viagens no tempo como também conta com um Exterminador no elenco. Uma versão mais carismática e humana do T1000 tem um importante papel na história e é astro de várias sequências de ação. Para se ter uma ideia, além do ator (Robert Scott Field) ser parecido com Robert Patrick o longa copia na cara dura a icônica cena em que o Exterminador corre atrás do carro. Apesar da cópia, dou mérito a produção do Godzilla, que com pelo menos U$50.000.000 a menos de orçamento fez um o trabalho muito bem feito.
De certa forma, esta obra volta às raízes dos primeiros filmes de um jeito um pouco diferente dos dois anteriores. Enquanto estes adotaram uma entonação de um filme de terror, “Godzilla vs. King Ghidorah” puxa mais para o lado de filmes como “Mothra vs. Godzilla“. Não que ir para este lado seja mais positivo que o Terror, mas a Ação nos padrões Anos 80-90 já fica bem melhor do que foi feito na década de 1960. O que difere este longa de suas contrapartes dos anos 60, no geral, é a história humana ser muito melhor elaborada. Só a falta de cenas patetas, que quebravam o clima das já fracas lutas, já é um avanço. Neste longa há uma melhora significativa das cenas de luta. Maior detalhamento nos movimentos, golpes plausíveis, além de uma série de reviravoltas entre os próprios monstros — que são até complicadas demais, levando em conta que se trata de um filme do Godzilla.
Histórias de viagem no tempo costumam ser complicadas por natureza, mas nada que um roteiro bem escrito não conserte — como no caso da trilogia “De Volta Para o Futuro”. Neste caso há uma história que tenta ser simples e até parece ser, se vista sem prestar atenção nos detalhes. Mas uma análise mais cuidadosa revela que tudo é extremamente mais complexo que deveria ser. Por exemplo, trabalham neste longa o mesmo conceito de loop temporal do primeiro “Exterminador do Futuro”. O enredo envolve uma confusão gigantesca entre o Godzilla que apareceu e morreu em 1954 e o outro que ataca o Japão em 1984, acabando mais doida do que a maioria das tramas da Era Shōwa. Curiosamente, tudo faz sentido apesar das complicações. O porém nessa loucura toda é a falta de inteligência dos humanos, que no mesmo filme tomam tantas decisões bizarras que é difícil tentar entender o que diabos se passa na cabeça deles.
O terceiro filme da Era Heisei mantém a ótima qualidade das últimas obras, embora não tome o lugar de melhor filme até o momento. Muita coisa melhora, mas elementos como as coreografias batidas dos Anos 60 são trazidos de volta sem necessidade, sendo pouco impactantes agora como foram 30 anos antes.