Mesmo com o sucesso de crítica e bilheteria de “The Return of Godzilla” em 1984, a Toho só foi trazer o Rei dos Monstros de volta 5 anos depois com “Godzilla vs. Biollante”. Com este longa-metragem, a Toho volta a fórmula de monstro vs. monstro; mas dessa vez com um kaiju novo em vez dos já conhecidos. A ideia original para o roteiro deste longa veio do vencedor de um concurso organizado pela própria Toho, ao qual fãs submeteram seus roteiros como parte da publicidade de pré-produção, sendo o ganhador um dentista e ocasional escritor de ficção científica. Contudo, o roteiro vitorioso não foi diretamente colocado nas telas. Apenas após adaptação do roteirista e diretor que ele foi para a tela, que conservou vários elementos da ideia original no produto final.
Após a destruição causada por Godzilla no último filme, uma equipe de cientistas se apodera de uma escama do monstro; dando início a um trabalho envolvendo plantas e a biologia diferenciada do kaiju. Ao longo de vários contratempos, os projetos do cientista vão um pouco longe demais, criando a criatura chamada Biollante: um monstro-planta gigantesco, composto pela mistura do DNA de uma planta com o de Godzilla e algumas células humanas.
Com a trama consideravelmente diferenciada dos três tipos de história apresentados até então — invasão alienígena, Godzilla vilão e filme família — esta obra consegue trazer uma mudança bem vinda à fórmula super-usada nos 35 anos de franquia. Sem ninguém querendo dominar a terra nem Minilla para estragar tudo, o enredo apoia-se solidamente em elementos de ficção científica combinados com os de um filme de Terror, também muito bem aplicados. Diferente do seu predecessor, no qual Godzilla era o assassino da história, aqui temos uma mistura de papéis. O kaiju não é tratado especificamente como a ameaça do filme. Biollante inicialmente assume esse papel de vilão, mostrando ser um oponente que oprime um confuso Godzilla. Mas tão logo que o oponente é derrotado, o Rei dos Monstros volta às suas práticas destrutivas sem se importar muito com sua imagem de herói.
Outro ponto forte pode ser visto no design e conceito de Biollante, que até o momento se mantém como o monstro mais único de todos os apresentados. O monstro da vez é uma planta mutante que partilha algumas semelhanças distantes com o próprio Godzill. Também conta com um design puxado diretamente de algo tipo Tom Savini, cheio de texturas detalhadas e estruturas complexas como tentáculos, dentes e cipós perdidos no meio da bizarrice mutante que é seu corpo. O kaiju foi uma introdução muito bem vinda, uma vez que a última leva de monstros foi mais que um pouco decepcionante. Foram estrelados a gosma de poluição gigantesca, a galinha metálica do espaço, o plágio de Ultraman e uma barata que cospe bombas. Não é bem algo no nível dos excelentes Mothra e King Ghidorah.
Diferente do filme de 1984, há uma implementação muito mais clara de elementos comuns aos Anos 80; mesmo que este tenha sido lançado apenas no último ano da década. Todo o design de Biollante, a trilha sonora e a entonação da obra em geral remetem muito às franquias de Terror populares dos Anos 80, como “Sexta Feira 13” e “A Hora do Pesadelo”. A trilha sonora, em especial, pega as trilhas tradicionais de Akira Ifukube e passa nelas um filtro que mistura Bill Conti com Harry Manfredini; alternando entre melodias mais agitadas e outras que puxam mais para o Terror ou Suspense. Sem dúvidas uma composição única de elementos que, apesar de já saturadas em 1989 nas mencionadas séries, aqui mostraram-se como novidade. Infelizmente, com essa moda veio uma tendência boba de personagens falarem inglês em um filme japonês, seja lá qual sentido isso faça. Não bastando isso, colocam os atores que menos sabem falar inglês nesses papéis, caracterizando uma adição no mínimo bizarra e mal pensada.
Como de costume, uma nova fantasia foi construída para essa produção, mudando o design e alguns elementos da fisionomia de Godzilla em geral. De todos as roupas, essa é uma das minhas preferidas, pois a imagem que eu sempre tive do monstro desde pequeno é extremamente similar à apresentada neste longa. Além disso, sua postura aqui está mais ou menos iguai ao que eu sempre esperei do Grande G: uma criatura destrutiva, resiliente e extremamente poderosa. Aqui os poderes dele são realmente mostrados como deveriam ser, com a rajada atômica sendo finalmente efetiva contra seus oponentes — até o momento ela só funcionou bem contra a cidade.
Por fim, “Godzilla vs. Biollante” encerra de maneira surpreendente, com um pouco do típico toque ridículo, mas que logo tem sua ruindade compensada por algumas sequências inesperadas em seguida. Em geral, a série continua em uma ótima fase. As obras da Era Heisei entregaram dois longas que finalmente conseguem chegar no nível de qualidade do original, se não superam. Apesar desta correspondência em termos de qualidade, ainda espero me surpreender com filmes ainda melhores que estes últimos.