Considerado como uma expansão das idéias do filme “La Femme Nikita”, do mesmo diretor Luc Besson, “Léon” estrela Jean Reno como um personagem similar num contexto semelhante, dessa vez colocando- em um papel maior que antes. Em “Léon”, Besson dá a vida a um dos trabalhos mais bem conceituados dos Anos 90 e da história do cinema em si. Já ouvi falar muito deste longa e sempre mantive na cabeça que seria um filme de ação pura, porém quando finalmente chegou a hora de assistir pude ver que, para minha surpresa, estava redondamente enganado.
“León” conta a história de um assassino profissional que acaba se vendo envolvido com uma garotinha do mesmo prédio que ele. Basicamente, esta é a premissa do filme inteiro e mesmo simples o diretor consegue trabalhar muito bem com o pouco material que lhe é dado. Em vez de um filme de ação com chumbo grosso voando ao som de uma música pesada e um fundo pintado com sangue, temos algumas ótimas cenas de ação perdidas num filme que tem muito mais a ver com sentimentalismo e o amor em seu sentido mais despretensioso.
O longa-metragem foca muito mais na relação entre o quadrado e ignorante assassino e Mathilda, a personagem da jovem Natalie Portman, tão diferente de seu companheiro mais velho. Besson trabalha muito com o desenvolvimento desses personagens, pois com isso amplifica-se ao máximo o sentimento de companheirismo criado entre eles. Quando se monta uma obra de 110 minutos baseada simplesmente na relação de duas pessoas, o mínimo que se pode fazer é trabalhar bem as diferentes facetas de cada um dos envolvidos. O uso inteligente de cenas de caráter cotidiano e rotineiro casam muito bem com essa proposta; e por mais que vistas fora de contexto pareçam enrolação, a maneira como são usadas cria um certo carinho catártico pelos personagens. Conforme eles mesmos criando afeto um pelo outro, o espectador passa a se importar mais com eles.
O experiente ogro, que nunca encontrou nada diferente sobre a vida além de seu próprio estilo de vida, aprende sobre os mais primordiais sentimentos com uma criança corrompida pela sujeira e imundície da sociedade, mas que ainda exibe traços de sua ingenuidade ao passo que esta transparece em seus atos. Por outro lado, o bruto ensina a menina a única coisa que sempre soube fazer: matar pessoas profissionalmente. Pouco a pouco um aprende com o outro o que significa viver através de seus próprios olhos. Enquanto Mathilda vê um improvável herói e até um possível pai em Léon, ele vê nela a criança que ele foi um dia — ou talvez desejou ser — perdida nas correntes do mundo cão.
Por um lado, este pode parecer apenas mais um filme sobre a vida dura de uma pessoa, que vê sua situação mudar através do poder da amizade quando outra pessoa chega em sua vida. Mas não, estão não é o caso. A mesma porcaria que contaminou a vida da pequena Mathilda está sempre presente e com ela uma nova entonação antitética contrasta os momentos felizes da obra, dessa forma elaborando a visão distorcida de Luc Besson sobre a sociedade. Os personagens mudam um ao outro, mas infelizmente o resto do mundo não acompanha.
Sem deixar que o a temática puxe excessivamente para o drama, o diretor insere uma série de sequências de ação no decorrer do filme, mostrando O Profissional em ação do jeito que eu esperava desde o começo. Ao contrário de cenas ao estilo Schwarzenegger, a ação é de um caráter mais inteligente por usar da estratégia em vez da brutalidade para alcançar a vitória; de modo que, ao menos nesse quesito, o homem que tem uma planta como melhor amigo consegue brilhar, mostrar que sua vida realmente não é tão chata quanto parece.
Algo que a princípio pareceu mal executado foi o funcionamento da polícia e das autoridades em geral no filme, pois em uma situação realista mais ou menos 70% do que é visto aqui simplesmente não aconteceria. Exemplo disso é uma cena em que a polícia simplesmente não aparece quando descarregam um revólver pela janela do prédio ou ainda quando uma tropa de choque simplesmente obedece um oficial como se não existisse protocolo. De qualquer forma, tais críticas mostram ser infundadas tão logo que tudo mostra-se como uma maneira do diretor transmitir sua visão mutante das autoridades e da própria sociedade; de um jeito aparentemente falho, mas que no fundo se mostra bem ácido por estar tão explícito.
Por mais que “Léon” tenha sido um tanto diferente do que eu esperava, estaria mentindo se eu dissesse que o mesmo foi uma decepção. Mandando bem tanto nos temas dramáticos quanto nas cenas de ação, este é um filme que merece ser assistido pelo menos uma vez na vida, pois é de fato uma experiência única.
2 comments
Achei muito lindo o final principal o afeto que eles criaram, de modo controverso a sociedade, mas torci para que eles ficassem juntos. Mas a crítica cairia em cima então o diretor resolver matar ele para que não criasse uma repercussão sobre o tema, principalmente por ela ser uma criança.
Luciana, também queria que fossem embora juntos e pegasse o dinheiro dele com o velho que o contratava. Mas também vi da mesma que você o fato dele ter morrido no final, para a crítica não levar para outro lado a relação entre eles. O que percebi foi justamente o que é comentado no texto: ela via nele o pai que não teve, mas justamente por não ter uma estrutura familiar achava que estava apaixonada. Me marca bastante a hora que ela diz que tinha uma bola na barriga e agora não tinha mais. Acredito que a “bola” seja uma ansiedade constante que ela possuía devido aos maus tratos a que era submetida. Enquanto ele via nela a criança que um dia foi, como é dito no texto. Ou até mesmo uma filha com uma família que poderia ter tido.