Após o sucesso de bilheteria e de crítica de “Sin City” em 2005, foram anunciados planos para uma continuação baseada em “A Dame to Kill For”, da série de histórias em quadrinhos. Mas por uma série de fatores o projeto acabou sendo adiado e jogado para frente. Depois de 9 anos de enrolação a continuação finalmente foi lançada, estrelando uma parte do elenco do primeiro filme e outras adições valiosas, como Josh Brolin, Eva Green, Ray Liotta e até mesmo Lady Gaga.
Não lembro muito bem como era o primeiro filme ou sua estrutura, mas neste caso há quatro arcos de história diferentes, contados alternadamente e de forma completamente não linear. A história começa com um arco envolvendo Marv, um dos protagonistas do original, e uma cena de destruição; onde o mesmo não sabe o que aconteceu, nem como chegou ali. Depois temos um arco acompanhando Johnny, o personagem de Joseph Gordon-Levitt, e sua vida como jogador de cartas em Sin City. Logo mais vem a trama que dá nome ao subtítulo do longa, envolvendo os jogos de poder e sedução de Ava Lord, interpretada magnificamente por Eva Green. Finalmente há também a continuação de eventos do último filme relacionados à personagem de Jessica Alba.
Como disse, não tenho muita recordação da estrutura da narrativa do primeiro “Sin City”, mas até onde sei esta também era composta de arcos de história intercalados. De duas, uma: ou me lembro do primeiro melhor que ele é realmente, ou o jeito que aplicaram esse conceito em “A Dame to Kill For” não foi tão bom quanto seu predecessor. A estrutura é meio esquisita aqui e quando se chega no fim não parece que aconteceu alguma coisa realmente relevante durante o filme inteiro. Um evento sucede o outro até que uma hora o filme simplesmente acaba. Não sei dizer se isso é uma idéia boa sendo mal executada, se a falta de linearidade é metáfora para apenas mais um dia em Sin City ou se os arcos foram tão rasos que não deu para se importar o bastante com nenhum dos personagens para entrar no clima da trama.
De um jeito ou de outro, tive a impressão que pegaram as ideias gerais que fizeram do primeiro filme bom e requentaram de maneira não tão efetiva. Dos quatro arcos presentes, o único que realmente tem um pouco mais de profundidade e se destaca do resto é o arco “A Dame to Kill For”. É o mais comprido dos quatro e o único que dedica tempo ao desenvolvimento dos personagens. Então quando alguma reviravolta acontece existe motivo para sentir alguma coisa, ao contrário do que ocorre com o resto das tramas. Eva Green dá um show como a hipérbole do termo femme fatale, pegando todas as características de uma personagem desse tipo e elevando suas qualidades ao máximo. Manipulativa, maravilhosa, sedutora e inescrupulosa, Ava Lord é o resumo da mulher que todo homem deseja em sua cama e que deseja não amar. Felizmente, Eva Green consegue representar perfeitamente cada uma dessas qualidades não só através de sua atuação mas também por seu figurino provocativo — ou ainda pela falta dele.
O conjunto desses dois elementos e a maneira como Eva Green os usa cria uma persona que é praticamente um avatar da sedução. A personagem aparece de topless por pelo menos 70% de seu tempo de tela e mesmo assim apenas uma ou outra cena são de caráter realmente gratuito; no resto do tempo os seios nus se mesclam bem ao contexto da sequência e apenas somam positivamente ao clima sombrio e sexual do Noir. Praticamente todas as cenas em que a personagem está presente o longa brilha um pouco mais, especialmente quando sua relação com o personagem Dwight está em cena. Com isso, se tem uma química que se desenvolve de forma no mínimo curiosa, ainda mais em uma cidade moralmente distorcida como Sin City.
Dos elementos reutilizados em “A Dame to Kill For”, a cinematografia é certamente o melhor adaptado. Novamente há uma maravilha visual em preto, branco e cinza, estilizada com algumas pequenas partes coloridas para dar um destaque especial a algum personagem ou detalhe. Sangue vermelho contra um chão cinza sob um luar embranquecido é certamente material para uma cena fatal, mas alguns elementos em especial acabaram maculando a imersão criada pela fotografia. Coisas como as flechas, tão frequentemente usadas, poderiam ter usado um pouco mais de polimento em seu design completamente branco; que contra os cento e cinquenta tons de cinza do filme certamente ganham um destaque inapropriado. Mas nem com as tais flechas o visual se prejudica muita, ele se mantém como mais que uma perfumaria, sendo um grande fator para a manutenção da imersão do espectador naquele universo.
“Sin City: A Dame to Kill For” é uma ressurreição que poderia ter sido melhor executada. E uma vez que a narrativa não linear é novamente usada, um cuidado maior poderia ter sido tomado quando uma estrutura tão abstrata é usada para construir um longa-metragem. Alguns elementos continuam muito bem usados, como a fotografia, enquanto outros mais importantes, como o enredo dos arcos de história, acabam parecendo rasos demais para compor uma história de 102 minutos. De qualquer forma, ainda vale a assistida pela explosão de elementos Noir e pela totalmente maravilhosa Eva Green.