O décimo terceiro filme da franquia Godzilla é outro exemplo controverso da Era Shōwa. Relativamente bem recebido pela crítica e pelos fãs na sua época de lançamento, “Godzilla vs. Megalon” sofreu pesadas críticas nos anos seguintes e chegou a ser avaliado como um dos piores filmes de todo o gênero kaiju. Esta é outra obra que, assim como “Godzilla vs. Hedorah“, era para ter sido muitas coisas e no fim foi algo muito longe dos planos iniciais. Avaliando um pouco mais a fundo, não é de se surpreender que o resultado foi um lixo, levando em conta que as filmagens foram concluídas em apenas três semanas.
Dessa vez a trama vai um pouco mais longe no típico cenário de invasão alienígena, talvez longe demais. Seatopia, uma civilização subterrânea que foi soterrada pelos testes com bomba atômica, decide se vingar da Terra usando o monstro Megalon. Inicialmente achei que colocaram o lance da bomba atômica para não dizer que tiraram essa história maluca do nada e no final das contas estava certo. Tirando um único momento na história inteira, a parte da bomba nunca é mencionada por nenhum dos personagens. Até então, esta é a trama mais absurda de todas e chega a parecer uma piada de mal gosto quando contada. Mesmo nos padrões absurdos da franquia o enredo parece um exagero de sua fórmula e seu impacto é bastante reduzido por conta disso.
Os problemas reais começam quando o personagem Jet Jaguar é introduzido. Grande parte da história foca nele em vez do próprio Grande G, fazendo deste mais um filme do Godzilla que não é bem dele. Originalmente o longa-metragem era pra ser exclusivo de Jet Jaguar, mas a Toho decidiu inserir Gigan e Godzilla quando viu que o personagem não sustentaria um filme inteiro nas costas — seu valor de mercado não era tão alto assim. Essa supostamente genial ideia de usar personagens bons para salvar um longa ruim, entretanto, mancha um pouco a imagem de Godzilla e Gigan em vez de limpar a barra do péssimo Jet Jaguar.
Jet Jaguar é fortemente inspirado nas obras de super heróis tokusatsu dos Anos 60 e 70. Melhor dizendo, ele é basicamente uma cópia do herói Ultraman, outro robô que aumenta de tamanho para enfrentar inimigos gigantescos e proteger a humanidade. Essa mistura de elementos não relacionados acaba criando uma bendita bagunça em todos os sentidos. As sequências com humanos parecem desconexas por conta da trama quase nula e até mesmo as cenas de luta são prejudicadas pela falta de planejamento da risível produção de 6 meses. Tudo indica contra um filme de Godzilla, mas a insistência da Toho em colocar o kaiju dá a impressão que ele é convidado em um episódio de Power Rangers estrelando Jet Jaguar, Gigan e Megalon.
Se alguém alguma vez comparou a série Godzilla a Power Rangers, dou razão total para tal argumento por causa dessa obra. Ela tem muito de qualquer coisa relacionada a tokusatsu, menos Godzilla. Tudo neste longa parece esquisito e desorganizado, similar a “Ebirah, Horror of the Deep“, que era originalmente um filme de King Kong e teve seu protagonista trocado pelo Rei dos Monstro. O grande problema de inserir personagens na última hora é que, antes de tudo, o roteiro foi originalmente escrito para certo personagem; quando se coloca outro no lugar dele a identidade do filme se perde. É exatamente isso o que acontece quando Godzilla age mais como um humano bobão lutador de kung fu em vez de uma montanha de instintos selvagens, capaz de destruir tudo a sua volta. Neste caso o Rei dos Monstros é extremamente humano em suas atitudes, fazendo movimentos duvidosos com as patas e até poses de luta nas batalhas. O ápice do absurdo é quando Godzilla dá uma voadora com os dois pés em seu oponente, seja lá como isso funciona.
Das palavras que podem definir “Godzilla vs. Megalon”, bagunça é de longe o mais apropriado. Outra coleção de elementos mal dispostos e pior executados que qualquer coisa, o longa-metragem falha em se aprofundar em qualquer um dos aspectos mostrados e assim falha em ser qualquer coisa além de medíocre. Seja por sua trilha sonora, que começa boa e logo cai num buraco sem fundo, pelos vilões terrivelmente mal aproveitados, pela cena de perseguição totalmente James Bondiana ou pelo Godzilla que conhece o “V de Vitória”, esta obra se mostra como apenas mais uma mancha no currículo da série japonesa.