Após sua estreia em “Ebirah, Horror of the Deep“, Jun Fukuda se mantém como de diretor da franquia no seu segundo longa na franquia, o infantil e bobinho “Son of Godzilla”. Não sei qual é dessa exploração descarada, mas qualquer um que conheça Godzilla sabe que ele é um monstro gigante destruidor de cidades. Com isso em mente, por que diabos fariam um filme sobre o filho dele? Ou melhor, como ele teve um filho em primeiro lugar? De um jeito ou de outro é difícil enxergar como um filme inteiro sobre o filho trapalhão de um kaiju pode ser interessante, sendo que todos os outros foram focados em temas relativamente mais adultos.
Um dos problemas de “Son of Godzilla” é que a trama consegue ser ainda pior que seu predecessor. Se antes os poucos eventos existentes demoravam horrores para começar e terminar, neste caso a situação é ainda pior, pois a trama é simplesmente inexistente. Pode-se dizer tranquilamente que a sinopse do filme aborda os eventos do começo ao fim, realmente não acontece mais nada além do que é dito em duas ou três linhas. Cientistas experimentando com mudanças de clima se deparam com Godzilla e seu filho lutando com insetos gigantes. Nada mais de relevante acontece nos 80 e poucos minutos de duração.
Para preencher esse vazio existencial são inseridas cenas com Minilla, o filho de Godzilla, nas quais ele faz graça e aprende como ser um Godzilla adulto. Sim, há várias cenas com Minilla tentando soltar a rajada atômica, aprendendo a andar e até salvando seu pai do perigo. Eu até esperava que “Son of Godzilla” fosse pior do que é, mas considerando sua proposta até dá para engolir muita coisa que facilmente poderia ter sido muito pior. Os momentos do mini kaiju são bem leves e claramente direcionados ao público infantil. Eles ainda ficam fora de contexto quando se leva em conta a franquia inteira, mas nunca aleatório dentro de sua própria trama; diferente do que acontece em outras entradas supostamente sérias, que têm uma boa dose de humor patético para fazer contraste.
Uma coisa que realmente está fora de minha compreensão é a lógica usada para as coreografias de luta da franquia. Em praticamente tudo o que veio antes temos uma boa história que leva a uma grande batalha entre os monstros e quase sempre são pouco decepcionantes pela falta de complexidade e brutalidade dos movimentos. Neste caso temos novamente designs fracos e pouco criativos, com insetos e aranhas gigantes lutando contra o protagonista, mas, incrivelmente, as demonstrações de força bruta e poder são bem intensas aqui. Agora, qual a lógica de usar os melhores movimentos de luta em um filme infantil e pouco focado nesse aspecto?
Tomando por exemplo “Invasion of Astro-Monster“, há uma trama sólida e um bom filme independentemente das lutas fracas, embora elas estejam ali de qualquer forma: Godzilla agarra os rabos de Ghidorah enquanto Rodan faz alguma coisa inútil, e vice versa. Comparando isso com Godzilla esmagando seus oponentes de porrada no chão, jogando-os longe e até colocando fogo neles com seus poderes nem parece que estamos falando da mesma franquia. Não sei o porquê de não usarem essas técnicas em outros filmes, mas sei que se tivessem usado mais frequentemente teríamos lutas melhores.
Outra coisa que vem piorando a cada nova obra da série é o design de Godzilla. Não sei qual o problema visto pelos produtores nas primeiras fantasias, porque todas estavam bem legais daquele jeito. Parece que andam deixando a cabeça dele mais estreita, seu corpo mais magro e seus olhos menos ameaçadores, justamente o contrário do que se espera quando se fala em um monstro de 50 e tantos metros de altura que cospe radiação. Nem posso elogiar muito o design de Minilla para compensar a feiura de Godzilla, que parece muito com o bebê da “Família Dinossauro” e certamente não tem dedo do pé parecido com o Grande G. Talvez um dos humanos do filme confundir os dois monstros seja um reflexo de como o design piorou tanto com os anos.
Minilla acaba se mostrando uma adição menos pior que a bomba que eu esperava, mas continua sendo tão inútil e desnecessário quanto poderia ser. Acho que ninguém queria ou esperava um dinossaurinho trapalhão dividindo cena com Godzilla. De qualquer maneira “Son of Godzilla” tem seus méritos por conseguir ser menos lixo que a ideia principal sugere, o público infantil com certeza sairá satisfeito.