Por mais que muitos desconheçam, Conan foi lançado originalmente em histórias de revistas pulp como um personagem de sword and sorcery. Com o tempo, o personagem foi ganhando espaço em outras mídias — como livros, cinema e quadrinhos — onde Conan realmente ganhou espaço e concretizou sua presença na calçada da cultura pop. Desde então passou pelas mãos de editoras como a Marvel e a Dark Horse, até que em 1982 surgiu “Conan the Barbarian”, a primeira adaptação para o cinema com Arnold Schwarzenegger no papel que trouxe muita notoriedade para sua carreira como ator.
Para os que não conhecem Conan, o personagem é um integrante do povo Cimmeriano, que era um povo bárbaro como sua contraparte da vida real. Mesmo compartilhando nome e algumas características perdidas, os povos não têm muita semelhança e não existe precisão histórica na pretensão do criador do personagem. O enredo aborda a vida de Conan desde suas origens até seu desenvolvimento como a imagem popular: uma montanha de músculos com poucas roupa, muita virilidade e muito sangue nas mãos. No decorrer da história vemos Conan se envolver em diversas aventuras e até montar seu próprio grupo. Com seus companheiros para ajudá-lo, o bárbaro sai em jornada de vingança contra o homem que trouxe tanto sofrimento a sua vida quando este fez uma carnificina em seu vilarejo natal.
O filme em si é composto primariamente por cenas de ação e uma temática de aventura, tais como: personagens em situações de risco diversas que envolvam um prêmio extremamente bem protegido e cobiçado; ambientação comum ao cenário medieval fantasioso, como cavernas, palácios, planícies e cidades, tudo bem construído para não deixar o filme com cara de barato; e, claro, um vilão que é o avatar latente da maldade. Basicamente o longa tem a fórmula perfeita para um filme de gênero, com elementos que farão qualquer fã de “Dungeons & Dragons” ficar com os nervos à flor da pele. No entanto, ao mesmo tempo que esses elementos são bem usados em grande parte do tempo, o mau uso de outros acaba evitando que o filme seja melhor que é realmente.
Começo pelas cenas de luta que envolvam qualquer tipo de arma medieval com potencial de fazer um estrago. Estas são feitas de coreografias memoráveis e altamente críveis, que conseguem ser competentes o bastante para criar um tanto de empolgação no espectador. Porém o elemento “The Elder Scrolls” acaba estragando tais cenas com gosto. Quando digo isso, me refiro à ótima franquia de jogos de RPG dona de um mal terrível: o combate é por vezes um tanto esquisito e parece pouco real da maneira como é executado. Em vários momentos seu machado encantando de duas mãos parece apropriado para arrancas uns braços, certo? Não. Quando chega a hora de testar a arma em um inimigo e ver os miolos voarem a única coisa vista é o impacto quase nulo do peso da arma no oponente. O dano é até computado, mas o inimigo não parece ter sentido a porrada, como se o destruidor machado fosse feito de isopor.
Nesse caso, o mesmo acontece. Por mais que as coreografias sejam muito bem realizadas, os movimentos não parecem ter contato com o alvo, apenas parecem passar perto da área atingida. Também não deram muita atenção aos efeitos sonoros, pois há o movimento e logo em seguida o inimigo simplesmente cai morto ensanguentado; sem barulho de corte nem nada, só o efeito especial da lesão. Esse modo de conduzir as cenas de ação acaba sendo um tanto anti-climático. Parte dessa ação é bem construída, é a conclusão que acaba parecendo fora do lugar quando comparada com o resto da cena. É como se mostrassem o começo e o final de um filme sem clímax nem desenvolvimento: Conan desembainha sua espada e o inimigo morre.
Mas “Conan the Barbarian” também tem pontos fortes e um deles é definitivamente o vilão Thulsa Doom, interpretado por James Earl Jones. Como de praxe, o ator consegue criar uma presença forte através de seus discursos e de sua voz grave e profunda, impondo respeito absoluto nas cenas em que está presente. Além disso, o visual do vilão e sua ideologia fazem dele mais que uma figura malvada, e sim um crente fervoroso de sua filosofia distorcida, que é bem reforçada em seus excelentes diálogos finais. Tais falas mostram que ele é mais do que uma pose e uma aparência de malvado, ele é um cara tão fanático que realmente acredita nas besteiras que diz. Este longa-metragem tem todos os ingredientes para ser um marco do gênero Fantasia. Tem uma história bacana, personagens cativantes, uma ambientação legal e várias sequências empolgantes, só peca por não executar bem os inúmeros combates vistos aqui. Dessa forma, toda essa parte boa fica um pouco ofuscada quando estes mesmos erros distanciam a fantasia do espectador em vez de fortalecer o universo criado.
A estréia de Conan no cinema tem vários momentos marcantes e uma atmosfera bem ilustre no geral, marcando presença na memória de muitos adolescentes que passaram suas tardes de assistindo à Sessão da Tarde. Com alguns defeitos que estragam um tanto as cenas de luta, parte da experiência fica um pouco incompleta, mas ainda assim agradável o bastante para fazer deste um bom filme.
2 comments
Lá se vão 8 anos de sua análise e nem sei se ainda está vivo…rs
Sobre as lutas é simples: É coisa de muito tempo atrás em um gênero fantasia que era também para a juventude então não houve o sangue e as decapitações que a gente queria e esperava….rs
Opa, estou vivo. Devagar, mas vivo! Acho que talvez daria para ter aumentado um pouco o quesito de violência. Lendo agora os quadrinhos, deu pra ver que seguiram bem a linha das publicações da Marvel. Muito pouco sangue, não muito explícito e deixando só na sugestão. Fez sentido, mesmo eu não achando a melhor decisão de toas. Abraço!