Essa semana me recomendaram “Pacific Rim” e acabei vendo para aproveitar a maratona Godzilla, uma vez que tudo trata dos mesmos assuntos: monstros, porrada e destruição total. O longa-metragem foi dirigido por Guillermo Del Toro, o cara por trás de outros filmes como “Hellboy” e “O Labirinto do Fauno”. Já de começo o longa mostra sua homenagem aos filmes de kaiju, exibindo uma cena onde o merchandising pesado é cutucado, tal como a venda de bonecos e a canonização dos heróis dessas obras. Não ficou muito claro se houve um tom crítico ali, possivelmente alfinetando como muitas dessas franquias abriram mão da qualidade pelo lucro, ou se foi apenas uma simples menção das séries que vieram antes de “Pacific Rim”. De qualquer maneira, esta é uma entrada valiosíssima para o gênero kaiju.
A trama envolve monstros gigantescos, os tais kaijus, que aparecem através de uma fenda interdimensional para destruir o planeta; uma típica história de um filme do Godzilla, o que torna as coisas apenas mais interessantes. Para enfrentar esse problema, o governo decide recorrer a construção de Jaegers: robôs gigantes controlados por dois pilotos humanos através de uma conexão neurológica, reproduzindo no robô os movimentos realizados pelos pilotos. Mas quando os Jaeger começam a falhar na luta os monstros, que passam a se adaptar com cada derrota, a humanidade vai para a ofensiva e decide atacar os monstros em sua própria casa para acabar com a ameça de uma vez. Nunca na história do planeta Terra a humanidade esteve tão triste com a falta de Godzilla.
Como esperado de um filme de alto orçamento, todos os aspectos técnicos são extremamente satisfatórios; desde efeitos especiais até a ambição nas cenas de ação mostram-se detentores de finíssimo acabamento. Ver um robô gigantesco lutando contra um monstro igualmente gigantesco em uma metrópole cheia de vida é uma experiência visual extremamente potente. Por não ser um filme originalmente gravado em 3D, os efeitos de profundidade acabam sendo um tanto mais ou menos. Em algumas cenas temos um verdadeiro espetáculo visual, enquanto em outros momentos, nos quais o efeito deveria ser mais fácil de aplicar por sua simplicidade, são muito falhas. E o verdadeiro significado de mais ou menos, o excelente contra o péssimo. Ao menos o lado bom existe porque Guillermo Del Toro usou parte do orçamento para bancar parte da conversão em 3D, especialmente nas cenas em que os modelos em CGI estão presentes.
De qualquer modo, este não é um ponto que prejudicou muito a experiência, uma vez que o lado bom desse longa-metragem não é resumida à perfumaria visual, são as cenas de ação fantásticas as responsáveis pelo sucesso. O espetáculo é muito empolgante, além de visualmente estonteante, e a ideia geral de colocar robôs funcionarem em sincronia com o comportamento humano funciona muito bem. O Jaeger é basicamente uma fusão entre Ultraman e um Megazord que deu certo, ou seja, os movimentos fluídos de um humano somados ao design maneiro de um robô parrudo. Sem chance de dar errado. Ainda que as cenas de ação sejam tão boas, esta obra não é composta apenas delas. Como todo filme do Godzilla, este também apresenta um bom tempo de sequências com humanos; que servem para dar uns respiros entre a ação intensa e assim evitar a monotonia. Nesse caso, tais cenas são bem construídas, relativamente movimentadas e até conseguem criar um relacionamento bacana entre os protagonistas. Supostamente, elas não têm nada a ver com porrada entre titãs, mas encaixam bem elas.
Em contraposição, por mais que tais cenas sejam estruturalmente sólidas, alguns personagens são tão ruins que fica difícil engoli-los até mesmo num contexto decente. Por exemplo, a caracterização de alguns indivíduos é tão péssima que eles parecem mais uma caricatura exagerada de um desenho engraçadinho de uma pessoa. Assim, chamá-los de estereótipo é quase uma canonização. Alguns podem até querer argumentar que estas abrerações estão ali para satirizar suas contrapartes em filmes antigos de kaiju, mas sinceramente passam do limite aqui. O nível da galhofa às vezes chega a tanto que até os piores exemplos dos filmes de Godzilla saem por cima. Pelo menos seu espaço no filme não é muito grande. Essas figuras não chegam a estragar a experiência, apesar de criar um contraste notável quando colocados perto do elenco sério.
Em suma, “Pacific Rim” é um baita filme injustamente subestimado. Arrecadando menos que o esperado nos Estados Unidos, o sucesso acabou vindo do resto do mundo, principalmente na China. Por conta disso, uma continuação já foi anunciada e o lançamento está previsto para 2017. Quem sabe mais na frente, se a franquia fizer bastante sucesso, não saia um crossover entre Godzilla e Jaegers? Não sendo uma bomba como “Alien vs. Predador”, qualquer coisa é lucro!