Finalmente introduzindo o arqui-inimigo de Godzilla, o quinto filme da franquia mostra pela primeira vez King Ghidorah, o monstro mais aterrorizante e bruto até o momento. Um dragão dourado de três cabeças, que voa e solta rajadas de trovão pela boca no maior estilo Dungeons & Dragons. O monstro é realmente muito diferente do que veio antes: Mothra é bacana, mas não exatamente amedrontador; o King Kong com retardo mental dispensa comentários; apenas Angilas tem um pouco de brutalidade em si. Aqui também começa a transição de Godzilla de vilão para anti-herói protetor da humanidade, que seria mais comum em outros longas e em especial no “Godzilla” de 2014.
A história é um tanto mais maluca que as anteriores, envolvendo alienígenas e lavagem cerebral como temas proeminentes e indo longe o bastante ao usar viagens interdimensionais para explicar o roteiro, que na verdade parecem ser usadas por pura preguiça dos roteiristas. Não bastasse usar uma explicação absurda, ainda usam por um motivo banal que poderia ser facilmente corrigido com um pouco de escrita, assim complicando desnecessariamente o enredo. De qualquer forma, a história novamente gira em torno da chegada de um monstro na cidade e cabe a Godzilla se juntar a dois outros monstros, Rodan e Mothra, para derrotá-lo.
Em sua maior parte, o filme tem um ritmo muito gostoso de acompanhar, sem enrolar muito em nenhum ponto da história. Até pode-se encontrar uma modesta surpresa quando um mistério interessante é criado em torno de uma personagem semi-alienígena, o que já é um avanço. Outros temas mais maduros estão novamente presentes, como assassinato e um pouco de violência gráfica, que aparecem com maior frequência que no filme anterior, mas de forma menos impactante. Mais importante é o fato das cenas humanas segurarem bem a barra até a aparição dos monstros, que assumem o timão do filme do ponto que dão as caras.
Longe de ser o desastre que são as cenas de luta em “King Kong vs. Godzilla“, mas também longe do ideal de uma luta bem executada, tais momentos prometem mais por ter mais monstros, introduzindo Rodan e King Ghidorah. Rodan é um pterodátilo mutante de proporções gigantes e, assim como Mothra, tem um estilo de luta mais ágil que bruto. Infelizmente, ao contrário de Mothra, a luta contra Rodan não é lá muito empolgante, apesar de começar muito promissora. Não sei se é por falta de criatividade ou por limitações técnicas que as brigas mostram-se tão cruas, mas essa é a impressão que a primeira delas passa. De resto, sua contribuição para a luta final não é lá muito relevante.
Logo Mothra se junta à luta e decide enfrentar Ghidorah sozinho em uma das cenas mais legais do filme, na qual sofre perante o poder do Dragão Dourado de Três Cabeças. Mothra nunca foi um oponente lá muito opressor, convenhamos, e quando tenta enfrentar o antagonista acaba literalmente explodido de um lado para o outro numa sequência de cenas que ficaram muito bem montadas diante das lutas anteriores. Quase imediatamente os outros dois monstros se juntam a porradaria e começa a luta principal do longa-metragem.
Ao fim de tudo, o desejo que permanece é que a briga fosse um pouco mais complexa. Ainda mais considerando que as lutas principais do último filme foi legal, embora um pouco simplistas demais também. A montagem e a idéia são bem sólidas, porém em sua execução o quesito empolgação acaba ficando meio de lado. É sempre na hora de encerrar a luta que as coisas acabam um pouco abaixo das expectativas. De qualquer modo, nesse caso a briga entre os kaijus foi um pouco mais ambiciosa, mas sinto que ainda não chegaram onde pretendem referente à coreografia de lutas. Só resta esperar que melhorem isso nos próximos filmes.
Mas o que realmente faz a obra valer a pena é King Ghidorah. Finalmente introduzem um monstro que, tanto em aparência quanto em eficiência, se mostra uma ameaça a Godzilla. O design do monstro é muito bonito, não só dando o clássico tom charmoso comum dedragões, como também mantendo um ar de prepotência e virilidade. Felizmente acertaram a mão nesse quesito, com escamas e asas douradas em vez de um corpo roxo com asas de arco íris como ele foi representado em artes conceituais. O monstro também exibe seu poder muito bem através da destruição que causa e parece ser de fato uma ameaça ao planeta como querem que ele seja; demolindo com vontade a cidade e deixando no chinelo a destruição que Godzilla provoca nas primeiras obras. Até agora o monstro mais interessante, King Ghidorah mostra que não está de palhaçada quando quase acaba com Mothra e com a cidade inteira.
Creio que dessa vez conseguiram manter um certo nível de qualidade entre os filmes; usando os elementos que fizeram de “Mothra vs. Godzilla” um bom filme, mas pecando levemente em outros pontos, como fazer Godzilla novamente estar sob efeito de Ritalina. No final das contas este é um bom longa-metragem, mas ainda espero que a qualidade melhore nos próximos longas, em especial no quesito das lutas entre os monstros.