“Lawrence of Arabia” é o último filme a ser exibido na segunda temporada de clássicos do Cinemark e devo dizer que foi uma escolha de extremo bom gosto para fechar a programação. Dirigido por David Lean, diretor de outras obras como “A Ponte do Rio Kwai” e “Doutor Jivago”, este Épico biográfico de 1962 conta com forte elenco, visuais estupendos, uma história marcante e muitos outros aspectos que o fazem digno de sua reputação extremamente positiva.
A trama foca na vida do oficial do exército inglês T.E. Lawrence, que através de sua liderança na Primeira Guerra Mundial ajudou a unir as tribos da Arábia e estabelecer o Estado Árabe. Usando como base, em sua maioria, fatos e eventos reais, a jornada do protagonista é apresentada através de eventos de todas as escalas. Desde batalhas entre guerrilhas inteiras até momentos mais simplórios são utilizados para esculpir a imagem singular de Lawrence. O resultado é um grande casamento entre envolvimento político, divergência de lealdades e cenas de tirar o fôlego até mesmo dos mais céticos, seja por seu visual absurdamente esplêndido ou por seu conteúdo profundo.
De cara, um dos aspectos mais proeminentes da imensidão de coisas boas em “Lawrence of Arabia” é sua fotografia. Mesmo não sendo meu filme preferido, é certamente o mais bonito de todos que já assisti; ainda mais quando a franquia James Bond está na concorrência, não é mérito insignificante. Mas à partir disto algumas questões podem ser levantadas: em primeiro lugar poderia ser dito que o diretor filmou ambientes naturalmente bonitos e que sua beleza é mérito da natureza, não do diretor. No entanto, a maneira como este captura as cenas de plano aberto ou de plano fechado é no mínimo fantástica. Desertos tornam-se ambientes mais interessantes do que seriam em teoria, enquanto suas características — como a imensidão e o calor representarem quão árduos são alguns atos — são utilizadas de maneira que tenham significado. Outra questão levantada à respeito da fotografia de Lean é o fato da mesma ser bela apenas pelo propósito de apresentar uma imagem bonita. Enquanto David Lean não é exatamente inocente de tal acusação, pois algumas cenas realmente não existem por outra razão que não essa, em sua grande maioria a fotografia vai muito além disso. Não há como negar que as estética das imagens é realmente algo a mais, entretanto seu conteúdo mais frequentemente que não tem um propósito maior; seja ele expressar melhor um sentimento, amplificar uma atmosfera ou apenas capturar a essência dos eventos de maneira mais competente.
Essas impressionantes cenas cheias de vida não são apenas compostas por incríveis visuais, mas também são acompanhadas de uma absurdamente boa trilha sonora composta por Maurice Jarre. A música tema é muito usada durante o longa e por ser tão icônica acaba ficando impressa nas mentes da audiência. Diferente de casos onde um tema acaba ficando batido após repetido uso, aqui pode-se ver uma soberba demonstração da criatividade de Jarre. Antes mesmo do tema principal começar ficar cansativo o compositor introduz diversas variações dele para variar o conteúdo. Isso sem contar o uso de outras composições completamente diferentes, que só enriquecem e ilustram as já extraordinárias imagens.
No entanto, mais do que um entorpecimento visual e sonoro, o que realmente faz a diferença na qualidade do filme é o fato dele ser uma obra completíssima. Pela duração de 180 minutos, pode-se deduzir que um número grande de temas será abordado. David Lean não desaponta nesse quesito e abusa desse tempo para fazer dessa obra algo tão ambicioso que falar de todos os temas a fundo seria demais para apenas um texto. Incrivelmente, o que se mostra complicado de falar em texto acaba muito bem traduzido para a tela em “Lawrence of Arabia”; tematicamente rico pela variedade e excelente o bastante no desenvolvimento destes temas para ganhar o status de completo. Digo completo no sentido de que, mesmo focando primariamente na vida de T.E. Lawrence, o longa-metragem consegue trabalhar outros elementos da trama de formacompetente; indo desde os trechos íntimos da vida do protagonista até outros completamente externos a ele. Ao longo da jornada de Lawrence, muitas pessoas cruzam seu caminho e através dessa diversidade um desenvolvimento extraordinário é construído, no qual não só ele evolui como pessoas ao redor dele compartilham dessas mudanças.
O protagonista em questão é interessante já de começo, mesmo antes de passar pelo processo de constante mudança que ocorre ao longo da história. Logo nos primeiros minutos de filme temos uma noção de sua personalidade, que não desaponta ao exalar excentricidade em cada segundo de cena. Com o passar dos eventos épicos retratados torna-se notável a evolução do personagem e como ao final da trama ele está tão diferente do sonhador e disperso oficial do começo do filme. Longe de ser uma trama no formato ascensão e queda, como várias obras do gênero são, o desenvolvimento apresentado vai muito além desse modelo. A maneira como o personagem cresce e muda é solidamente executada, sendo bem representada pela atuação espetacular de Peter O’Toole e assim tornando-se instigante a ponto de criar interesse genuíno pelo protagonista em questão.
Sem dúvida um dos melhores filmes que já vi em toda minha vida, esta obra mantém um merecido quinto lugar em meus 10 filmes preferidos. No final das contas, “Lawrence of Arabia” exibe-se como uma obra cativante por mais motivos que posso me recordar agora, então deixo a recomendação para que o espectador tire suas próprias conclusões a respeito do que tentei ilustrar com este texto.
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