Um dos clássicos mais clássicos da Sessão da Tarde, “Kindergarten Cop” já passou tantas vezes na tela da Globo,que grande parte dos brasileiros deve ter visto o filme pelo menos uma vez na vida. Contrariando os padrões televisivos e evitando o horror do filme dublado acabei assistindo legendado pelo Netflix, pelo menos variar um pouco. Engraçado como sempre, mais familiar e melhor que a maneira como eu lembrava, a comédia clássica de Schwarzenegger foi nostálgica na mesma medida que foi novidade para mim.
Arnold começa como o clássico herói de ação: um policial durão que se esforça para demonstrar sua virilidade perante os meros mortais a sua volta. Na cola de um bandido num shopping center, a perseguição logo esquenta e o vilão é finalmente pego, mas não é preso por falta de provas conclusivas. Neste ponto, John Kimble (Arnold Schwarzenegger) é forçado a se juntar a uma policial e investigar um jardim de infância para tentar convencer a ex-mulher do bandido a depor contra ele. O problema é que os policiais não sabem quem é a tal moça, então se infiltrar na escola como professor é o único jeito de descobrir.
Como o nome sugere, “Kindergarten Cop” é um filme de comédia envolvendo policiais e crianças; e por mais que pareça uma combinação esquisita o diretor consegue transformar essa esquisitice em humor competente. Colocar Arnold Schwarzenegger, característico herói de filmes de ação, como professor de crianças de pequenas é uma receita pronta para cenas inusitadas. O Exterminador do Futuro tentando fazer uma sala de pirralhos fazer suas tarefas sem uma espingarda e uma Fat Boy é no mínimo hilário e certamente é um dos aspectos mais interessantes dessa comédia.
As cenas absurdas atingem seu ápice de humor quando Kimble consegue conciliar suas habilidades de policial destruidor com as habilidades de um professor; um Jean Piaget depois de terminar as gravações de “Pumping Iron“. Enquanto o filme mantém seu foco em criar humor através de cenas excêntricas, como as reações histéricas de Schwarzenegger, ele consegue manter um bom nível de qualidade através de um ritmo movimentado, divertido e equilibrado. Mas não só dessas cenas engraçadinhas este longa é feito e justamente nesses outros momentos estão os deslizes. Quando decidem inserir algumas cenas de ação no meio da trama surge um sentimento de que há algo errado; tais momentos são anti-climáticos e simplesmente não casam bem com o bom gosto do resto do filme.
Arnold definitivamente não é o único responsável pelo humor, ainda mais quando grande parte se dá pelo excelente elenco infantil bem dirigido e orientado por Ivan Reitman. As cenas com as crianças merecem um destaque especial, pois coordenar uma ou duas delas pode ser tranquilo, agora lidar com vinte delas de forma que tudo fique organizado e engraçado sem dúvida requer um pouco mais de perícia. Vários momentos são clássicos automáticos e ostentam toda a aleatoriedade e ingenuidade que se espera de uma criança. O melhor de tudo é que a direção é tão boa que não parece que as cenas foram ensaiadas previamente, é como se tivessem ligado a câmera e gravado a primeira reação delas.
O que efetivamente evita que “Kindergarten Cop” seja melhor são as sequências um tanto decepcionantes que compõe o clímax. Começando bem, a sequência logo mergulha num poço de má atuação, decisões previsíveis e resultados pouco impactantes. Não sei se a questão de ser previsível seja por eu ter visto o filme há mais tempo que eu lembre ou porque simplesmente é óbvia o bastante para ser adivinhada antes de acontecer. De qualquer modo, o clímax exibe-se fraquíssimo, com o final tendo uma queda geral de qualidade quando comparado com os sucessos prévios.
No geral, o clássico permanece clássico. Impressionou até, pois a qualidade se mantém em um bom nível para um filme tão popular. Definitivamente recomendo para quem perdeu as últimas catorze vezes que este longa foi exibido nos últimos dois anos. Apesar de algumas falhas certamente vale a revisitada.