Baseado no livro homônimo escrito por John Steinbeck, “The Grapes of Wrath” é um longa-metragem dirigido por John Ford — diretor famoso por seus inúmeros faroestes e por sua parceria de 21 filmes com o ator John Wayne. Dos méritos do livro original, o Pulitzer é o destaque, além disso ele também está presente em várias listas de Melhores Livros em Inglês. Com a adaptação cinematográfica não foi diferente, pois a obra de Ford faturou dois Oscars e foi um dos primeiros filmes a serem preservados pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
A obra conta a história de uma família do interior que é expulsa de sua terra com a depressão econômica e tem de viajar para a Califórnia em busca de trabalho. Fazendo jornada de modo precário e aos trancos e barrancos, a família aos poucos segue seu destino enquanto encontra diversas outros na mesma situação. Ao finalmente encontrar trabalho, a família vê que a propaganda não passava de palavras bonitas e que para conseguir forrar seus estômagos terão de dar mais duro do que pensavam.
Se há muito para se admirar em “The Grapes of Wrath”, com certeza isso se deve à excelente representação da miséria enfrentada pelas famílias daquele período. Todos os detalhes são minuciosamente apresentados e por isso é fácil acreditar na situação dos personagens quando eles contam os centavos até mesmo na hora de comprar comida. Não existe apenas a ótima representação da pobreza geral, atuações incríveis do elenco também reforçam a miséria ao demonstrar o carinho dos agricultores por suas propriedades antigas. Isso sem contar a preocupação observada na tentativa de manter a família unida, que a todo custo luta apesar das adversidades.
De tudo o que é transmitido, sentimentalismo é essencialmente o que resume esta obra. Todas as ações dos personagens têm um ideal por trás delas e a mensagem é passada de forma bem clara. Não as comunicam apenas pela exposição direta, muito é falado através das sutilezas das representações extraordinárias dos atores. Estes atingem seu impacto máximo nas cenas finais do filme com dois discursos que, mesmo não tão aplicáveis hoje em dia, ainda conseguem se manter fortes se avaliados dentro do contexto da época. Apesar das dificuldades, a força do grupo é baseada em Ma Joad, a matriarca da família e quem realmente mantém o grupo junto. Enquanto alguns fraquejam, desistem e até abandonam suas famílias, a personagem de Jane Darwell se mostra como o avatar de determinação da unidade familiar. A atuação de Darwell dispensa comentários por sua qualidade soberba e certamente foi merecedora do Oscar de Melhor Atriz dado à atriz.
Outro ponto forte são os visuais intensos. É quase pleonasmo chamar de excelente a captura de ambientes de John Ford, que tem sua reputação também baseada nessa habilidade. Lotado de cenas que inserem seus personagens contra imensos horizontes, o filme não só representa a afinidade de Ford com questões visuais, como também mostra a insignificância de um indivíduo perante o lugar em que se encontra. De certa forma, isso casa bem com a mensagem do filme, que envolve união e proteção dos interesses de seus companheiros; e que mais pro final ganha uma dimensão enorme quando esse mesmo ideal é aplicado à toda a nação, que sofria com as adversidades da depressão econômica. Juntos, venceremos; sozinhos, cairemos.
Como toda adaptação de livro, o filme sofre algumas perdas em relação a obra original; mas, avaliando o longa-metragem por si, pode-se dizer tranquilamente que ele é um grande trabalho por si. De qualquer modo, ainda há algumas falhas presentes na estrutura. A pouca ênfase no trabalho em detrimento do destaque ao drama da união familiar, por exemplo, parece destituir o trabalho individual de valor. Numa situação árdua como a apresentada, tanto os esforços individuais como a união do grupo deviam mostrar-se com igual importância. Os personagens deixam claro que precisam trabalhar para viver, contudo nunca os vemos colocando a mão na massa. Ficando apenas subentendido que eles trabalharam entre cenas. Isso não estraga os outros acertos do filme ou a obra em geral, mas desaponta por omitir uma parte importante de todo aquele contexto.
Alguns momentos também poderiam ter sido mais impactantes do que foram, sendo estes amenizados para o público. Crianças, que supostamente estariam passando fome, nunca aparecem em condição pior do que totalmente saudável. Na mesma linha, cenas movimentadas e com mais ação não são realmente exploradas dedicadamente, elas claramente têm menos atenção. Creio que muitas destas limitações foram impostas desde o começo, censuradas pela repressão de conteúdo presente na época, o que torna tudo mais difícil de criticar. De qualquer forma, os elementos mais relevantes são mostrados de maneira satisfatória e, mesmo que a apresentação física não seja das mais detalhadas, o que é relevante é entendido de maneira clara.
Sem dúvida uma obra que merece ser assistida, “The Grapes of Wrath” é uma potente obra sobre uma das épocas mais complicadas para se estar vivo. Além de ser mais outro daqueles filmes que instigam o espectador a procurar saber se o livro é do mesmo nível de sua contraparte cinematográfica.