Recomendação de um amigo pela representação curiosa que o longa faz do Brasil, decidi assistir a “Turistas” essa semana para ver qual o nível o nível da brincadeira. Posso dizer que esperava um pouco menos de vergonha alheia na tela, pois a representação é no mínimo cômica de tão ruim. Cinematograficamente falando, não piora a experiência, mas certamente não ajuda.
A história gira em torno de um grupo de jovens que fazem uma viagem juntos. Após alguns incidentes eles vêem que sua viagem paradisíaca está mais para a pior decisão de suas vidas. Como todo filme de Terror, as coisas se mostram mais complicadas que isso. Pouco a pouco os personagens entram nos planos do vilão da história. Sem deixar que falte espaço para nudez e violência gratuitas, porque, afinal de contas, é de um filme de Terror que estamos falando.
Sobre a representação do Brasil, já se tem uma idéia de como o assunto vai ser tratado na própria introdução, que rola junto com os créditos iniciais: carnaval, Rio de Janeiro, praia, close em biquínis extremamente pequenos, cerveja, festa e samba. Até aí tudo bem, nada muito longe da concepção clichê do resto do mundo. O que segue, por outro lado, é mais plausível, ainda que seja apenas um respiro de decência antes da catástrofe. Logo somos apresentados a um grupo de estrangeiros irritados com a condução perigosa do motorista de ônibus, que obviamente causa um acidente e dá início aos eventos da trama. Pelo menos nessa parte não houve erro, pois a realidade não é muito diferente. Tirando o nome do ônibus o resto é bem fiel, acidente e todo o mais.
Depois desse ponto, “Turistas” entra em uma grande espiralem direção ao fundo do poço. A trama é um desastre e até seria mais aceitável se não fosse pela motivação absurda do vilão, que abusando de falas terríveis falha miseravelmente em tentar ser malvado, engraçado, filosófico ou qualquer outra coisa além de um personagem ruim. Mesmo o pior dos vilões de James Bond ainda está bem acima daquele visto aqui. A parte em que ele revela o porquê de suas atitudes pode ser considerada o ápice da estupidez, pois mesmo numa crise de criatividade global essa motivação estaria entre as piores. O gênero normalmente já contém alguns elementos falhos de natureza, o que até é um pouco aceitável, mas um vilão decente é o mínimo que um filme de Terror que se preze pode entregar.
Os personagens principais são até menos burros que o comum, mas em compensação o elenco coadjuvante é tão ruim quanto poderia ser. O personagem Kiko, por exemplo, tem destaque não só por ser extremamente chato mas também por ter algumas das piores falas da história, característica encontrada também nos outros vilões. Seu estoque inclui falas que misturam o português com o inglês de maneira curiosa: “Ei guys, comón comón!” e “Be quiet guys” seguido quase instantaneamente de um “Vómbora, porra!”. Poderia até dizer que isso é produto de estrangeiros imitando Brasileiros, mas infelizmente os próprios atores são Brasileiros e se ridicularizam no filme.
Os capangas do vilão parecem ter sido retirados diretamente do jogo “Max Payne 3”, que só por esse motivo já tem mais a ver com a série de jogos que o próprio filme “Max Payne” de 2008. Os capangas soltam frases prontas aleatoriamente — sem motivo nenhum e sem ninguém por perto — como: “Tá ficando maluco, gringo? Cê tá ferrado!” ou ainda “Vou te pegar seu gringo malandro!”. Não bastasse isso, a caracterização deles consegue ser ainda pior: temos um rapaz negro rastafári, um índio cabeludo, outro rapaz negro musculoso, o racitsa líder socialite e outro tão genérico que nem lembro suas qualidades.
No geral, o filme falha em muitos aspectos — como trama, vilão, coadjuvantes e criatividade como um todo — apesar de acertar levemente em outros. O clímax nas cavernas subterrâneas, por exemplo, é criativa e usa muito bem o ambiente a seu favor, mesmo que o desfecho ainda seja um pouco decepcionante. Pelo filme ter bons efeitos de violência dou um desconto pela falta de criatividade em algumas mortes, que para mim é um quesito importante para obras como esta. De certa forma, o mesmo pode ser dito de muitas outras cenas, que seriam ainda mais brandas se não contassem com ambientes estonteantes. Mesmo com seus defeitos, o Brasil não é exatamente um país sem maravilhas naturais.
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Esse filme é horrível