“The Grand Budapest Hotel”, um dos filmes mais antecipados de 2014, é o mais recente longa-metragem do diretor Wes Anderson. Extremamente colorido, excêntrico, divertido e cativante, esta obra certamente se mostrou como uma surpresa agradável dentre os vários filmes pipoca da “summer season”, período no qual blockbusters costumam ser lançados nos Estados Unidos.
A história é apresentada de uma maneira que lembra vagamente o estilo de “Inception”: Uma garota lê um livro de um autor famoso em uma parte do mundo; em outro tempo e lugar, este mesmo autor conta de onde surgiu a idéia de seu livro; que, por sua vez, veio de uma história contada por uma figura misteriosa. Pode parecer um tanto confuso, mas Anderson consegue executar esta sobreposição de camadas de maneira bem organizada e clara, chegando até mesmo a mudar o formato de tela conforme a época em questão. Mudando de narrador ao longo da trama, seja entre personagens ou com o mencionado autor, Anderson cria com sucesso um dinamismo que, somado ao ritmo animado do longa, entrega uma experiência no mínimo extravagante.
Após uma pequena série de introduções, a obra apresenta o protagonista Monsieur Gustave H, interpretado magnificamente por Ralph Fiennes, e seu assistente Zero, representado por Tony Revolori. Girando em torno destes dois personagens, a trama foca em suas aventuras da dupla nas mais diversas situações que cercam o icônico Hotel Budapeste, abordando todas com um característico toque de humor e leveza.
Usando diversos artifícios que são características marcantes de filmes antigos de Comédia, grande parte do longa parece uma paródia cinematográfica, ou até mesmo uma apologia à história do gênero no cinema. Cenários feitos em miniatura, aliados a efeitos especiais e iluminação, deixam a atmosfera parecida com uma diorama de brinquedo, uma casa de boneca ou até mesmo um desenho animado. Os ambientes vivamente coloridos estão a par da excentricidade apresentada pelos atores, o que remete aos filmes mudos dependentes da atuação exagerada para transmitir sua mensagem, que neste caso é o humor.
Dividido em atos que, ao mesmo tempo que mantém sua ligação com a história, diferem-se entre si, “The Grand Budapest Hotel” lembra também os espetáculos Vaudeville. Famosos entre os anos 1880 e 1920, os espetáculos também eram divididos em atos diferentes. Em geral, o show era composto por um conjunto de apresentações de artistas de diferentes áreas do entretenimento, que se juntavam para formar uma atração só. Os atos durante o filme sempre estão ligados pela trama, mas em sua essência são bem diferentes na abordagem. Um deles, por exemplo, tem se mantém em cima da tensão de uma perseguição, enquanto outro tem um foco mais humorístico e leve. Em colaboração com este estilo Vaudeville está a diversidade enorme de cenários, cujo design ostenta tantas cores e lugares que dão identidade a cada uma destas diferentes abordagens sem fugir muito do estilo principal da obra.
Ambientado nestes lugares extremamente coloridos e vivos, o filme está sempre renovando-se ao colocar seus personagens em ambientes fantásticos, desde monastérios antigos até localidades complexas e claustrofóbicas. A extravagância dos figurinos combinada com estes cenários excêntricos e as atuações levemente exageradas dos atores certamente contribui para o ritmo rápido e animado que o filme se esforça para manter. Talvez exagerando na comédia em alguns momentos, como em ocasiões em que uma abordagem minimamente dramática seria apropriada, o longa por vezes atira no próprio pé ao matar esses momentos e descartar quaisquer elementos humanos dos personagens, que poderiam ser explorados ao longo da história.
Sendo completamente absurdo se olhado com olhares mais realistas, “O Grande Hotel Budapeste” entrega uma história animada e divertida ao fazer uso de diversos mecanismos clássicos, que fizeram o gênero tão famoso ao longo dos anos. Técnicas antigas e, de certa forma, ultrapassadas são empregadas de forma inteligente e funcional, ao passo que o longa entrega uma experiência cômica, agradável e prazerosa.