Aparentemente, fazer um filme do Sonic foi uma boa idéia. Talvez por ter sido um dos últimos filmes a estrear no cinema antes do começo da pandemia, sua bilheteria teve um impulso maior pelo tempo estendido que ficou em cartaz. Ou não só por isso, mas também porque se mostrou bem melhor do que o esperado quando o anúncio foi feito inicialmente, ainda com o design horroroso do ouriço. Algumas coisas mudaram e a obra, no fim das contas, foi até um tanto divertida em sua proposta de apelar para o público infantil — e o público perto da meia idade que foi pela nostalgia dos tempos de Mega Drive. E como vai Hollywood, é claro que uma continuação aconteceria uma hora ou outra. Enquanto seu predcessor marcou o começo da pandemia, “Sonic the Hedgehog 2” vem para inaugurar seu fim.
Depois de ser preso num universo alternativo, sozinho e isolado do resto da sociedade para que não cause mais estragos, o Doutor Robotnik (Jim Carrey) usa o pouco que tem para construir uma máquina para tentar fugir de sua prisão dimensional. No entanto, quem aparece do outro lado do portal é alguém inesperado: Knuckles, o equidna. Parecido com Sonic, só que vermelho, mais alto e mais forte, Knuckles faz uma parceria temporária com Robotnik para voltar para a Terra em busca da Esmeralda do Caos, um artefato poderoso com poder suficiente para destruir e criar mundos inteiros. Mas dessa vez, Sonic terá a ajuda de um aliado novo, Miles Tails Prower, a raposa.
Surpreendentemente, o último filme não foi uma porcaria. E tinha tudo para dar errado, começando pelo design horrendo de Sonic que foi inicialmente apresentado pela Paramount. O primeiro bom sinal foi eles escutarem a reação empolgada do público criticando a aberração meio humanóide, meio ouriço azul que foi mostrada. Ainda assim não era garantia de que o resto das coisas daria certo e, indo pelo histórico, a tendência era o fracasso mesmo. Até porque existiam preocupações maiores que design, tal como encaixar os personagens no mundo real sem ficar estranho ou, caso essa fosse a idéia, ambientar tudo no mundo místico e fantasioso dos jogos, em que as fases vão de florestas com girassóis giratórios até cassinos colossais. Mas no fim correu tudo mais ou menos bem. A estréia de Sonic foi mais feliz do que a de Mario e ao menos dessa vitória ele pode se gabar. “Sonic the Hedgehog 2” traz mais do que seu predecessor apresentou sem deixar o nível cair.
O que isso significa depende muito do espectador, claro. Quem detestou o primeiro, vai detestar esse tanto quanto. Por outro lado, quem amou o primeiro vai ter até mais motivos para ser feliz: mais personagens, mais elementos não utilizados antes, mais referências aos jogos e mais Jim Carrey sendo absolutamente insano. Isso é o bastante? Talvez. Em um trabalho com aspirações tão simples e sendo, no fundo, uma produção infantil que talvez agrade os mais velhos por pura nostalgia, introduzir outros personagens automaticamente se torna algo a se considerar. É claro que tudo deve ser ponderado, mas aqui considero que o nível de competência de antes é mantido. Além do fato de existir um novo personagem popular, ele também tem uma boa participação. Depois de Sonic abrir o caminho para animais velocistas no Planeta Terra, ficou mais fácil para Tails e Knuckles.
Assim, era óbvio que Robotnik voltaria em algum momento. Ninguém tinha dúvida disso e ninguém esperava que a história fosse ser uma grande surpresa ou atrativo. “Sonic the Hedgehog 2” não brinca com a sorte e joga seguro, seguindo quase nos mesmíssimos passos de seu predecessor com uma ou outra mudança leve. Há quem diga que este é uma melhora em relação ao primeiro, mas acredito que seja uma diferença tão sutil que, francamente, não faz tanta diferença. Até os problemas do primeiro são os mesmos aqui com apenas um reequilíbrio das qualidades e defeitos. Se por um lado há mais personagens para tornar a aventura interessante, há também uma trama humana sem muita graça e outros momentos descartáveis que, realmente, poderiam ter ficado de fora.
Knuckles é introduzido como um antagonista, algo que é meio estranho aos conhecedores de jogos porque há tempos ele não é retratado dessa forma, tendo se tornado um aliado de Sonic a partir de certo ponto e não saindo muito desse papel. Rival, sim, mas aliado de Robotnik até então era novidade. Foi uma boa reviravolta e uma que trouxe um tipo de antagonismo melhor que um monte de drones e robôs como no anterior, ao menos até certo ponto da história em que as coisas mudam novamente. E para melhora até, devo dizer. Finalmente conseguem achar uma forma de trazer alguns dos designs bizarramente icônicos dos jogos para o contexto mais realista dos filmes. Nessa parte, “Sonic the Hedgehog 2” supera o primeiro com certa folga.
Em contrapartida, ele tem algumas partes que não precisariam estar aqui. Entendo que “Sonic the Hedgehog” precisava de um certo número de cenas com Tom Wachowski (James Marsden) para situar o ouriço naquele cenário novo, mas aqui arrisco dizer que não era tão necessário. E, é claro, assim volta a mesma discussão acerca de todo novo lançamento de Godzilla: sempre reclamam que há muitas cenas com humanos e poucas de monstros. Nesse caso, Sonic e Knuckles seriam os tais monstros e suas cenas seriam as mais importantes na obra. Mesmo assim, os respiros aqui e ali não deixam de ser importantes para haver algum tipo de cadência e diversidade narrativa, até para não saturar a mesma fonte rápido demais. O problema é que esses interlúdios são a pior parte de “Sonic the Hedgehog 2”: cenas musicais, cenas de palhaçada gratuita, tramas de comédia romântica barata… Não eram bem esses respiros que eu tinha em mente.