Billy Batson (Asher Angel) é órfão. Sua vida toda foi passar por casas de acolhimento, de uma cidade até outro estado, de um lugar qualquer até voltar para um orfanato. Estar abandonado no mundo sem o apoio e a companhia de quem ele queria por vezes é demais para o jovem rapaz. Enquanto isso, forças desconhecidas pelo homem comum estão em atividade: o mago Shazam está enfraquecido e chega cada vez mais perto de não ter mais forças de conter um mal antigo em sua prisão. Ele precisa escolher um campeão de coração puro para portar seus poderes e se tornar um defensor da justiça. Ao dizer uma palavra, Billy Batson se torna o Capitão Marvel (Zachary Levi), também conhecido como… Shazam!
A história segue muito de perto a história de origem do Capitão Marvel nos Novos 52, publicada no Brasil como “Shazam: Com uma Palavra Mágica” com algumas diferenças pontuais. Há apenas um vilão em vez de dois e o começo é um tanto diferente para comportar essa mudança de antagonista. De resto, as linhas gerais, a progressão e os grandes momentos estão todos ali, nenhuma surpresa para quem já leu o quadrinho. Mas isso não quer dizer que a experiência de revisitar o material em forma de filme não seja uma experiência que consegue divertir e entreter acima de tudo, sem medo de se render ocasionalmente a um humor besta que só às vezes acaba sendo mongolóide demais e conseqüentemente sem graça. Fazer comédia é se arriscar e nem sempre dá certo. Algumas piadas ainda se safam por serem tão ruins que são simpáticas, mas outras não têm a mesma sorte e falham em causar uma impressão qualquer.
Infelizmente, isso é algo comum em “Shazam!” porque as piadas vêm uma atrás da outra o tempo todo. Dentre os filmes de super-herói com inclinação para a comédia, está mais para um “Guardiões da Galáxia” do que para o resto e seus momentos engraçados lá e cá, sem que eles sejam dominantes. Há um problema nisso? Não exatamente. A não ser que o espectador não goste de bobeiras em suas histórias de herói, a comédia funciona do jeito que deveria, afinal de contas o Capitão Marvel é um garoto de 14 anos com aparência de mais velho, mais forte e poderes variados. A aparência não muda o fato da pessoa por dentro continuar sendo uma criança com todas as idéias bobonas de criança se imaginando num corpo de adulto.
“Se eu fosse mais velho, sairia para comprar umas cervejas e beberia até acordar no gramado de casa com ressaca, depois ligaria para a namorada para tomar um milkshake e curar a dor de cabeça”. Que belo sonho, não? É uma fantasia comum pensar que as coisas serão diferentes quando mais velho, principalmente se envolver um emprego com um bom salário e possibilidade de fazer o que quiser a hora que quiser. Nunca é tão simples. Se há uma coisa que “Shazam!” faz certo, debaixo de toda a caracterização das bobagens, é evocar esta vontade infantil de ter muitas coisas subitamente, querer muito e conseguir quase imediatamente. Muitas crianças lêem quadrinhos e imaginam como seria ir até o centro da cidade voando ou escalar a parede do prédio até a janela do quarto sem ter que esperar o elevador. Como seria ter praticamente os poderes do Super Homem?
Dá para dizer com folga que o grande do foco de “Shazam!” é esse. Assim como “Guardiões da Galáxia“, não há tanto para se ver nas cenas de ação, que costumam ser o foco de obras do gênero. A maior parte da história está centrada na forma peculiar como Billy descobre seus poderes, talvez o maior diferencial porque essa descoberta não tem nada a ver como costuma acontecer, com o herói aprendendo coisas novas antes do vilão aparecer de fato. Aqui mal há tempo para isso, ou melhor, até haveria tempo se o personagem estivesse preocupado com treinar para ser um herói e aprender o que pode fazer para cumprir sua função de protetor do povo. Zachary Levi é apenas uma criança em tamanho grande e faz um bom trabalho no papel. Talvez não seja ideal ou a representação mais perfeita de sua versão mais jovem, mas já é bem mais do que aceitável.
Essa é a parte legal da história, o que não quer dizer que as cenas de ação sejam negligenciadas e executadas com desleixo puramente porque o foco é outro. Elas são encaixadas na tal zoeira e funcionam organicamente como parte dela, aproveitando até para tirar sarro de alguns clichês comuns em filmes de ação e de heróis. Os únicos problemas em relação a isso se encontram na incoerência de certos momentos, como estratégias de inimigos e a explicação de alguns poderes. São pequenas coisas que se notam e acabam fazendo a diferença na hora de avaliar a obra como um todo, considerando a solidez geral do roteiro.
O único grande problema indefensável de “Shazam!” é a computação gráfica às vezes ridiculamente feia, inexplicavelmente malfeita e impossível de tomar como crível. É como aquela situação esdrúxula de filmes da década passada em que os atores claramente não estão interagindo com algo real. Nem precisa procurar muito para descobrir onde estão estes deslizes monstros. De resto, não é um filme perfeito, incrível ou a redenção suprema da DC no cinema, mas não deixa de ser uma oportunidade diferenciada e divertida de conhecer um novo herói. Resta esperar que ele seja bem aproveitado em próximas aventuras do Universo DC, seja lá como isso vá funcionar já que “Liga da Justiça” já foi lançado.