Harvard. O lugar que cria respeito instantâneo nas pessoas tão logo que seu nome é dito, lar de grandes nomes como Bill Gates e Barack Obama também foi o berço de algo diferente. O humor peculiar da “Harvard Lampoon” surgiu dentre tantos acadêmicos sérios de áreas respeitadas e chegou a ir além: transformou-se na “National Lampoon” na década de 70, uma das maiores revistas de humor dos Estados Unidos. Por trás dela, Douglas Kenney (Will Forte) e Henry Beard (Domhnall Gleeson) reúnem uma equipe para criar as melhores piores piadas do país. Alguns detestavam, outros amavam, enquanto a revista seguia em frente ditando as próprias regras de qualquer forma. “A Futile and Stupid Gesture” é a, não surpreendentemente, cômica e atrapalhada história de como Kenney permaneceu a vida toda tentando fazer o que mais gostava: graça com tudo.
Não sei dizer para o resto do Brasil, mas acredito que a “National Lampoon” nunca chegou a ser lançada nele ou sequer foi muito conhecida. A internet ainda não existia para divulgar as bobagens que os colegas americanos publicavam mensalmente e, para ajudar, a ditadura provavelmente não iria aprovar humor que não compartilha seus ideais. Assim, “A Futile and Stupid Gesture” foi uma completa novidade para mim. Nunca havia ouvido falar da revista e muito menos de Douglas Kenney e Henry Beard. O mais próximo disso foi conhecer por cima “Caddyshack”, filme em que Kenney colaborou, e a revista “Mad”, outra publicação de humor da época mencionada no longa-metragem. Não é como se o filme tivesse capturado meu interesse por eu saber do que se trata. Fui espectador de primeira viagem e, felizmente, a obra funciona melhor para quem sabe menos, aparentemente.
Um comentário recorrente trata justamente desse assunto. Há quem diga que outras obras, livros e documentários do passado já contaram melhor a mesma coisa. Há também aqueles que conhecem a história da revista a ponto tão a fundo que questionam decisões narrativas de “A Futile and Stupid Gesture”. É provável que tais pessoas tenham um ponto, porém existir um filme melhor não significa que quaisquer outras do mesmo assunto não possam ter seus pontos fortes. Prova disso é este filme incluir um truque possivelmente tosco para quem sabe todos os eventos e perfeitamente funcional bem para todo o resto. Essa é apenas uma das formas de transformar a obra em uma representação fiel da veia comediante de Kenney e sua revista, em mais do que uma simples narrativa que descreve e conta eventos.
Novamente, quem não leu as revistas e não conhece exatamente seu tipo de comédia dificilmente será um bom juiz da fidelidade do filme. Mas isso só vale se a comparação for feita com conhecimento externo. Se o indivíduo lidar com o material que “A Futile and Stupid Gesture” fornece, acredito que a representação do humor do protagonista é certeira. As piadinhas e a dinâmica da narrativa estão em concordância com a personalidade do Douglas Kenney mostrado aqui, cortes rápidos com uma piada atrás da outra em inúmeras formas; uma avalanche de humor de forma que não parece inteiramente possível e vem à vida quando monta-se uma empresa inteira apenas com pessoas com pessoas querendo fazer comédia. Da mesma fonte de uma coletânea de trocadilhos supostamente engenhosos chamada “Bored of the Rings” vem uma tirada incrível de sacanear por completo um pilar da educação americana, os anuários. Nada se salva da chacota se a risada for boa.
As piadas nem sempre são geniais, de fato, e deve ser assim porque uma mente funciona dessa forma. Grande parte dos grandes artistas famosos produziu muito em vida para apenas uma parcela ficar marcada na história, nada como se eles tivessem um aproveitamento surrealmente alto e apenas obras-primas no repertório. O dia-a-dia da “National Lampoon” tem muita besteira e uma parte disso faz aparição em “A Futile and Stupid Gesture”. Há um ponto de vista interessante sobre como as coisas funcionam em um produto que praticamente exala insanidade e, na maioria das vezes, é justamente insanidade que alimenta tudo. Ver o que acontece nos bastidores mostra que a vida criativa não vive de resultados finos o tempo todo, mais ou menos como a própria vida das pessoas envolvidas.
Não há dúvidas de que “A Futile and Stupid Gesture” é um filme engraçado e variado em seu humor, inclusive. Quanto a revista, há uma linha geral para seu humor, pendendo para um lado mais ácido, negro e crítico de algo enquanto a prática é infinitamente mais diversa. Ela vai além de falar umas lorotas ousadas, é usar fotografia, ilustrações, trocadilhos e piadinhas de maturidade nível “American Pie” para criar uma coletânea de humor como nenhuma outra. Como alguém que não conhecia absolutamente nada da história da “National Lampoon”, tive a impressão de que conheci pelo menos um pouco de sua identidade, o bastante para saber o que ela é e qual seu tipo de conteúdo.
Tudo é lucro para quem não sabia nada. Mesmo assim, restam duas impressões não tão positivas. A primeira envolve o ritmo da informação, que parece acelerado e compactado demais a ponto de não se saber quanto tempo passa entre e, conseqüentemente, quão longe foi o legado da revista. É como se muito material fosse comprimido em pouco tempo para cobrir todas as bases. A segunda envolve a narrativa do protagonista, o qual tem sua vida pessoal em foco em “A Futile and Stupid Gesture”. O caminho é bastante incomum, afinal são pouquíssimas as pessoas que podem dizer que vivem de comédia e menos ainda aquelas que fazem sucesso com essa carreira; mais do que isso, o trajeto tem uma parcela bem generosa de peculiaridades para diferenciá-lo ainda mais. Nada disso, curiosamente, afasta a noção de estereótipo ou clichê. Basta olhar para a estrutura como um todo para perceber que é basicamente a mesma história vista tantas outras vezes por aí no mundo dos artistas com roupagem nova.
Talvez as coisas tenham de fato acontecido como é mostrado, com a seqüência cronológica sendo respeitada em sua maior parte e alguns ocasionais pontos exagerados para incrementar a narrativa com os notáveis toques de humor. No entanto, há algo a ser dito sobre possibilidades na escrita de uma história. O conteúdo pode ser o mesmo em várias e produções e os produtos serem totalmente diferentes por um simples motivo: apresentação. Infelizmente, os vários pontos fortes de “A Futile and Stupid Gesture” por vezes se encontram em meio a um ritmo atropelado e a uma estrutura que faz os eventos soarem mais como “apenas mais um caso de” do que “a singular história de”.