Se a preocupação é sobre “The Predator” ser um lixo extraterrestre direto de Hollywood, não há motivo porque não é o que acontece. O filme tem sido alvo de críticas de todos os tipos, contraditórias entre si por alguns gostarem e outros dizerem que é um dos maiores fracassos a atingir os cinemas ultimamente. Talvez as críticas negativas acendam o alerta vermelho para uma repetição do que se viu em “Iron Man 3“, outra continuação de série famosa dirigida por Shane Black e fuzilada por comentários apontando-o como o pior do Universo Marvel até então. O quarto longa do Predador não é uma maravilha nem um lixo completo, consiste de um resultado decente e surpreendente diante de tantas críticas pesadas.
Na galáxia afora, há uma raça alienígena com uma idéia bem peculiar de entretenimento. Os chamados Predadores escolhem membros considerados dignos e poderosos para participar de jogos de caça e caçador, com os alienígenas usando suas habilidades e equipamento avançado para abater suas presas e depois usá-las como troféus. Em uma nova visita ao planeta Terra, um espécime chega no planeta com intenções curiosas. Já não se trata de uma simples caçada quando o próprio Predador é caçado por outros de sua raça.
É fácil imaginar por que algumas pessoas odiariam “The Predator”: tem tudo a ver com o estilo de direção de Shane Black. Particularmente, não é a primeira pessoa em que se pensa quando se leva em conta uma série envolvendo ação, suspense e seriedade. Não quando ele é um diretor conhecido pela variedade de humores em sua carreira — negro, escrachado, engraçadinho, sem sentido e por aí vai. Talvez encaixasse com o personagem sarcástico e comediante de Tony Stark, não tanto com uma série cujos três filmes envolveram a tensão de saber que se está sendo caçado e observado por um inimigo capaz. Por mais que ele tenha tido papel coadjuvante no “Predador” original, é de se pensar que talvez um diretor mais inclinado para filmes de ação tensos fosse mais apropriado.
Sem surpreender ninguém, o estilo de Black está aqui. “The Predator” possui vários momentos em que se pode identificar, inconfundivelmente, o toque do diretor. Felizmente, não se transforma a história já conhecida em uma sátira ou algo no estilo Marvel — filmes da ação com piadas freqüentes. Nada como “Thor: Ragnarok“, o que provavelmente seria um desastre por conta do histórico do Predador não ter muita comédia. O que se encontra, por outro lado, é humor negro na forma de violência explícita e as gracinhas já esperadas aplicadas sem serem invasivas, executadas através de um elenco que permite sua existência sem parecer que foram colocadas ali sem um cuidado na adaptação. Se são contribuições ricas ou decisões inteligentes de entonação, é outra história. Ao menos com o que se tem, é possível dizer que não se transforma um grande símbolo da cultura pop em motivo de piada. Apenas fazem uma ou outra de vez em quando.
Em primeiro lugar, o humor negro acontece principalmente quando o alienígena está em ação. Apesar da abordagem aparentemente mais leve, “The Predator” é o mais sangrento e violento de toda a série, de longe. É bem comum ver tripas pelo chão e membros decepados quando as famosas lâminas das manoplas rasgam soldados e os fracos humanos como se fossem bonecos de palha, além de gente pintando as paredes de sangue quando explodem e quebrando a coluna quando arremessados. Mais no estilo caricato de Quentin Tarantino do que algo sério e chocante, como seria o caso de um filme de terror, a violência funciona como válvula de escape para Shane Black ao mesmo tempo que permite ao Predador fazer o que faz de melhor de um jeito nunca tão intenso e gráfico.
Quanto ao resto do humor, a parte que inclui piadas, gracinhas e tentativas mais diretas de fazer o espectador rir, ela é centrada no elenco de coadjuvantes. Francamente, pode-se argumentar que a utilidade deles ou seu desenvolvimento é questionável, no mínimo. Dizer que são bem trabalhados e essenciais para o enredo de “The Predator” é exagerar e muito um trabalho que não necessariamente é ruim. Sua função é maior do que servir de número para a contagem de corpos e menor que a de um personagem bem escrito, estando num meio termo envolvendo carisma e simpatia. Nenhum deles é memorável ou relevante, mas praticamente todo seu tempo de tela é preenchido de forma que o entretenimento é alcançado, normalmente aproveitando o fato de que todos são meio loucos e totalmente desajustados para colocar um pouco da comédia sem sentido característica de Shane Black.
“The Predator” não deixa a desejar quando tenta ser engraçado nestes dois casos exceto por algumas ocasiões pontuais. No entanto, há certos momentos em que o humor não se encaixa nem na categoria bem adaptada, nem nas outras ocasiões em que o simples propósito é fazer graça. Há certas partes da história, facilmente o elo mais fraco da experiência, que estão ali porque sim. Por vezes falta uma explicação lógica e aceitável, então simplesmente se coloca a máscara do humor para fingir que é mais uma piadinha e por isso essa e aquela decisão não devem ser levadas muito a sério. Especialmente na última parte da obra, essas conveniências disfarçadas dão as caras para tentar esconder a verdadeira natureza mal concebida vinda do roteiro. Nada que machuque irreparavelmente, mas um deslize perceptível, ainda assim.
Outro destes é a trilha sonora. Sendo justo, ela não é ruim. As composições não são desagradáveis e com certeza fariam um bom trabalho de despertar a imaginação do espectador sobre quais imagens a acompanhariam se este as escutasse. Contudo, tenho minhas dúvidas se essas imagens seriam as de “The Predator”: ação intensa com bastante violência. A experiência não é tensa para requerer melodias sóbrias mas também não o tom de aventura que se encontra aqui. A música não é ruim, só não se encaixa.
No geral, a tentativa de Shane Black de resgatar o famoso Predador para uma nova audiência não é perfeita ou incrível, com certeza não é ofensiva. Talvez puristas não gostem do tom mais leve e mais puxado para a ação explosiva do que para o suspense reprimido; ou da história que tenta variar o modelo de caça e caçador. A primeira é uma mudança notável que não necessariamente piora a experiência por conta da violência explícita mostrar a real capacidade do Predador e pelo elenco simpático, ainda que a direção da ação não seja das melhores. Já a segunda deixa a desejar vez ou outra por nem sempre trazer idéias muito bem concebidas, especialmente quando tentam dramatizar minimamente ou fazer um comentário social pretensioso.