Mais de uma vez me peguei pensando sobre por que “The Omen”, dentre tantos outros ditos clássicos, foi o escolhido pelo Cinemark na leva deste primeiro semestre. Ele tem certa reputação, ganhou um Oscar e fez bastante sucesso nas bilheterias em seu tempo, mas nada que tenha sido um grande estrondo. Se por acaso foi e estou enganado, então o tempo amenizou tal impressão forte até chegar na atual. Não digo que as pessoas esqueceram de Damien ou algo assim, pois ao menos uma marca na cultura popular o filme deixou. Talvez esta obra tenha perdido a graça ou nunca teve tanta, em primeiro lugar.
Robert Thorne (Gregory Peck) finalmente está para ter seu primeiro filho com sua bela esposa, Katherine (Lee Remick). Depois de conquistar sucesso profissional e um patrimônio considerável, o casal realiza o sonho antigo de constituir família. Entretanto, o bebê nasce morto e acaba sendo substituído por um órfão pelo pai e um padre sem a mãe saber. Damien (Harvey Stephens), o filho, cresce saudável e faz os Thorne tão felizes quanto possível até que eventos esquisitos começam a ocorrer. Acontecimentos sinistros rodeiam a criança e levantam a suspeita de que pode haver alguma coisa errada com ela, algo de grande maldade.
Sempre que lembrava da série “A Profecia”, tinha mais ou menos certo que o primeiro era o melhor ou que os dois primeiros estavam muito próximos com o terceiro estando mais atrás. Sobre o quarto filme, feito diretamente para a TV, prefiro nem comentar para não gastar a ponta dos dedos com besteira quando não é o foco. De qualquer forma, “The Omen” sem dúvida era melhor na minha memória do que foi nesta última assistida, mais de cinco depois da última. Sem chegar no naipe da mediocridade ou do mau gosto, o primeiro episódio da saga de Damien Thorne atualmente soa como um filme cuja execução não faz jus ao conceito. A idéia de um filho de origens satânicas continua forte, assim como a das tragédias acontecerem indiretamente — o oposto do caso dos assassinos em série. Ao mesmo tempo, alguns detalhes afastam a experiência de seu potencial.
A narrativa consegue moldar-se à proposta do título ao contar uma história que guarda espaço para ambos choque e sentimento de cumprimento de destino. É sabido que existe algo de sinistro na vida dos Thorne. A sequência de eventos infelizes começa agressivamente e assusta os envolvidos demais para que consigam pensar racionalmente e suspeitar de algo. Mais tarde, porém, tal progressão não continua com a mesma sutileza quando certos personagens entram na história para explicitar qual o perigo real. A história perde um pouco de seu charme, mas compensa isso um pouco ao mudar a dinâmica. Uma parte elementar do mistério é revelada, faltando descobrir os detalhes para chegar na verdade. Neste outro trecho, o espectador tem uma idéia do que pode acontecer, mas nunca do quando ou do como. “The Omen” ainda guarda uma carta na manga relacionada a esses dois detalhes.
Não poderia deixar de elogiar como a trilha sonora de Jerry Goldsmith permanece um semblante inesquecível do cinema do Terror. Se por acaso fizessem uma cápsula do tempo do gênero, aceitaria deixar “The Omen” de fora caso sua trilha sonora entrasse em seu lugar. Na mesma onda de filmes regulares com ótimas trilhas sonoras — como acontece com Harry Manfredini e alguns Sexta-Feira 13 — as canções de Goldsmith carregam algumas cenas nas costas para um patamar acima da ação vacilante. É como num videoclipe: se não houvesse a música que interessa ao espectador, ele provavelmente notaria como a maioria das imagens e sua montagem não faz sentido. Obviamente, a ação nunca alcança a ininteligibilidade, mas isso não muda o fato da trilha conseguir incorporar o espírito satânico entre violinos violentos e corais que ressoam até a última célula da espinha dorsal da audiência.
O maior problema são alguns momentos que podem parecer exagero por serem pontuais, como procurar defeitos na obra para ter do que reclamar, porém são essas diferenças que ajudam ou prejudicam a obra de pouco em pouco. Sempre que se tenta dramatizar uma cena intensamente, o resultado é fracasso. “The Omen” tem várias ocasiões em que alguém está para morrer, sofrer um acidente ou tomar um susto quando de repente a câmera corta para um close intenso seguido de um efeito sonoro. É como Janet Leigh no chuveiro em “Psycho” sem o mesmo propósito de ocultar o assassino, a violência e a continuidade exata. O resultado aqui é um redirecionamento intenso de atenção que só faz com que o espectador repare que muitas vezes não há muito para ser visto. Richard Donner deixa o terror virar galhofa nesses momentos e até prejudica a atuação de Lee Remick no caminho, que se vê num tiroteio entre a encenação artificial do diretor e as oportunidades limitadas do roteiro. Apenas Gregory Peck pode ser elogiado em termos de atuação, pois ainda consegue transmitir emoção com o pouco que recebe do roteiro. Numa ocasião, por exemplo, Peck repete a mesma fala pelo menos duas ou três vezes, mas cumpre sua função de demonstrar carinho pela esposa com cada frase dita.
“The Omen” certamente não se conservou tão bem com o passar dos anos. Não por usar técnicas que se tornaram ultrapassadas e, consequentemente, risíveis, mas por outras que já naquela época devem ter sido consideradas exageradas, dada a evolução da linguagem cinematográfica que aconteceu antes de 1976. Entre vários momentos bons, alguns outros engraçados em sua tentativa de ser dramáticos e assustadores ainda assim são embaladas com naturalidade pela trilha sonora de Jerry Goldsmith, o aspecto que continua tão incrível quanto sempre foi.