Se uma atuação é ruim, a culpa é dos atores ou do diretor? Quando acontece o contrário e a interpretação é boa, o crédito vai ao ator; embora parte deste sucesso seja também do diretor, que conduziu o elenco na concretização de sua visão. E quando ela é ruim? Seria falta de habilidade do intérprete ou do diretor que não soube dirigir seus atores? “Delusion” deixa essas perguntas no ar conforme desaponta repetidamente a cada nova interpretação introduzida. O maior pecado em meio a uma grande coleção de frustrações e idéias mal executadas.
A esposa de Frank (David Graziano) morreu há 3 anos. Ele nunca superou sua morte direito, dado seu carinho por ela e as circunstâncias bizarras da morte. Porém sua vida toma um novo rumo quando uma carta dela chega no correio. A situação começa a melhorar e Frank, mais tranquilo com o que leu, decide seguir em frente. Isto é, até que o surgimento de um homem misterioso e uma atraente mulher colocam essa melhora em risco. As previsões de uma clarividente alertam perigo, mas problemas chegam perigosamente próximos por Frank não saber em quem confiar: seu coração ou os alertas.
Há quem ache que críticos de cinema regozijam-se em escrever sobre filmes ruins. Não acho que isso seja verdade para todos. Eu não sinto prazer nenhum em dizer que uma produção independente falha em cumprir sua proposta. A equipe é menor, o orçamento também, enquanto os problemas enfrentados no set continuam gigantes. Depredar o esforço alheio não é algo que me atrai, mas as circunstâncias da produção não devem reprimir quaisquer críticas. “Havia uma história boa em algum lugar aqui” é algo que pensei quando este longa acabou. Não é como se o fracasso estivesse previsto já na premissa. Entre os dois screeners de filmes independentes que recebi — o outro sendo “The Dark Tapes” — havia achado este o mais interessante. Infelizmente, os dois acabaram me decepcionando; com “Delusion” sendo o pior dos dois.
Gostaria de ter coisas melhores para dizer sobre “Delusion”, mas eu realmente não gostei do resultado final. A premissa traz toques de terror e suspense sobrenatural, assim como um lado dramático envolvendo a perda do protagonista. Mas tudo isso morre já nos primeiros minutos quando um diálogo dá um sinal forte do que está por vir. Dois personagens estão numa colina conversando sobre a vista imbatível. Um deles pergunta qual é o grande segredo e Frank tira do bolso a carta de sua esposa. Mas se ela morreu, como isso é possível? “Tio Frank, isso é bizarro”, diz o sobrinho com um sorriso na cara. Assim como a sequência do casamento encompassa os sucessos de “The Godfather“, este diálogo traz um gosto de todos os defeitos subsequentes.
Em primeiro lugar, a direção. Os personagens são apresentados num contexto que não soa natural. Tanto neste ponto quanto mais pra frente, as cenas não passam a impressão de naturalidade. A artificialidade reina quando duas pessoas conversam sobre um assunto sério e mal trocam olhares; ou quando clientes de um café, em um robótico estado, nem escondem que são figurantes. A montagem desta e outras cenas não funciona porque nenhum dos dois aparenta estar engajado na conversa. Parece que os personagens estão mais interessados em olhar para o horizonte que conversar, embora o assunto discutido seja sério.
Em seguida, o roteiro representa outro grande problema de “Delusion”. Ao ler a carta, os personagens falam abertamente sobre quais sentimentos ela despertou — “Talvez esse seja o ponto. Encontrar paz” “Você está certo, eu estou mais em paz do que estava antes”. Com uma conversa elucidativa dessa, Frank deveria agradecer por ter um amigo que resolve dilemas sentimentais tão facilmente. O roteiro se resume a personagens mal desenvolvidos numa história incrivelmente óbvia, sem nunca chegar a uma conclusão surpreendente ou satisfatória. O drama dá lugar a diálogos artificiais e carentes de emoção, e o aspecto sobrenatural da história é abordado sem sutileza alguma. Basta ver quando incluem o mundo espiritual na história e um homem de feição sinistra, terno escuro e fumando um cigarro entra em jogo. Nem preciso dizer quem ele é.
O terceiro grande problema é facilmente o maior deles. Todas as atuações são ineficientes, sem exceção. Neste aspecto, “Delusion” decepciona nos exemplos grandes e pequenos. Figurantes num café não fazem o mínimo para simular uma pessoa comendo algo ou lendo o jornal; ao passo que os personagens maiores, especialmente o Tommy de Justin Thibault, dificultam o envolvimento do espectador com a história. É difícil levar a sério o sofrimento de um protagonista interpretado sem emoção alguma. O conflito de Frank, um dos aspectos elementares da trama, nunca chega a ser palpável. Ele fala como é difícil lembrar de sua esposa com o mesmo investimento emocional de alguém que conta o que comeu no café da manhã. Tommy, por sua vez, reage com um misto de expressões inadequadas e uma total inaptidão dramática. Mal posso dizer que ele atua mal porque mais parece que ele está lendo as falas sem tentar entrar no personagem, segurando o riso referente a um papel que ele claramente não está levando a sério.
“Delusion” é uma experiência sem pontos fortes. Exceto por uma ou outra sequência e a parte estética da fotografia, não consigo pensar em elogio algum. Um homem em um luto conturbado por sua esposa não demonstra o sofrimento do qual fala tanto; o sobrenatural invade a história desacompanhado de uma abordagem original ou eficiente; e a história, tentando casar Drama com Mistério, é minada por atuações e roteiro deploráveis. Resta a questão de quanto do insucesso das atuações é culpa do Diretor ou do elenco.