Pensei em começar esse texto dizendo como é bom ver finalmente algo que sai do padrão de filmes de super-herói; sem a fórmula Marvel de ter piadinhas a cada tantos minutos ou a insistência da DC em manter uma postura séria — que mais recentemente tentou sair desse espectro e resultou no bagunçado “Esquadrão Suicida“. Mas não, “The LEGO Batman Movie” não pode nem deve ser comparado com esses exemplos recentes, pois ele não segue fórmula alguma. É justamente o contrário, esta é uma história tão desvairada e insana que impressiona por ter qualquer coerência no final das contas. Se não pelos seus visuais impressionantes, merece atenção por ser original em como tira risadas da audiência.
Depois de seus pais serem assassinados tragicamente, Bruce Wayne se torna Batman, o herói… mais descolado da cidade? Ele salva a cidade e prende todos os vilões sem fazer o menor esforço, amado e homenageado pelos cidadãos cada vez que faz seu trabalho. Mas quando o Comissário Gordon se aposenta e dá lugar para sua filha, Barbara Gordon, ela institui uma nova política de cooperação entre a polícia e o Batman. Ele, por sua vez, não gosta muito de dividir o holofote e vê mais problemas com os novos planos do Coringa e um garoto que adotou sem querer numa festa.
“Deadpool” foi um filme que também se destacou por não ser como todos os outros. Foi justamente no ponto em que ele se aproxima — sua história de origem — onde as críticas se concentraram, mostrando que o público está buscando algo diferente. “The LEGO Batman Movie” traz exatamente isso, uma experiência que não segue nenhum tipo de regra e consegue não ser uma bagunça sem pé nem cabeça. Esta é uma nova versão do cavaleiro das trevas. Sem o rígido senso de dever e a personalidade fechada, sem tendências homicidas, ele é um herói que está ali como uma piada pronta para toda sua história nesses mais de 70 anos. No começo, é um tanto esquisito sua cantoria sobre ele ser o melhor herói enquanto derrota praticamente todos os vilões de seu universo ao mesmo tempo. Escolhem logo a premissa de “Knightfall”, um dos arcos mais famosos do herói, para tirar sarro? As preocupações logo morrem, pois não demora para tudo fazer sentido. Essa é muito menos uma história sobre o Batman do que uma grande sátira de todo o legado dos heróis na cultura popular e até da própria cultura popular.
Um de meus medos era que essa fosse uma história estritamente sobre o Cavaleiro das Trevas, pensei que não poderia haver muita coisa em seu universo para render um filme inteiro de comédia. Os trailers também não ajudaram muito nessa parte. Para mim, “The LEGO Batman Movie” pareceu uma tentativa de ser engraçado demais que acabaria por manchar o nome do herói. Mas como essa primeira grande sequência mostra, não se deve pensar no que veio antes exceto como referência para uma nova piada. Nenhuma das aparições do herói escapam: desde o mais recente embate contra Superman até a bizarra série de TV dos Anos 60. Nem mesmo “Esquadrão Suicida” se salva de algumas alfinetadas aqui e ali, não quando as convenções de histórias de heróis — seja no cinema ou não — são o verdadeiro alvo da comédia. Super-herói cheio de traumas? Presente. Os motivos supostamente complexos por trás de um grande vilão? Também. O clichê da grande batalha no clímax de tudo? Idem. Não quero estragar nada, porque as surpresas surgem da quantidade de coisas sem sentido e até completamente loucas que conseguem encaixar para reforçar o humor sem perder a linha. Mas posso dizer uma coisa: tudo aqui é muito maior que o próprio Batman, ele é mais um protagonista por acaso numa história que veio para descontrair todos esses filmes se levando a sério demais.
Sem ter assistido ao primeiro filme do LEGO, essa foi uma surpresa e tanto. Não sei dizer quão parecido ele é com seu predecessor ou se ele inova em alguma coisa. Talvez esteja sendo repetitivo ao dizer que achei fantástico como as piadinhas mais infantis e imaturas conseguem tirar risadas genuínas da audiência. Nunca pensei que iria ouvir o Batman se achando por ter um tanquinho maneiro ou que está amarradão numa gatinha e dizer que o filme foi bom. Se “The LEGO Batman Movie” acerta em alguma coisa, é na hora de transformar as piadas mais infames num humor original e eficiente. É estranho se acostumar com essas infantilidades no começo e até é fácil pensar que esse é outro filme burro para crianças, um público que não ficaria analisando a obra a fundo. Então todas as gracinhas mostram que vieram pra ficar. O roteiro não tem nada de convencional, ele joga uma piadinha atrás da outra, transforma todos em caricaturas e cria um clima deliciosamente divertido. É muito difícil se agarrar a qualquer pré-julgamento com personagens famosos fazendo palhaçadas à beça e se divertindo no processo. É uma experiência contagiante, que só pede para o espectador abraçar a causa e entrar na brincadeira enquanto clichês são satirizados, referências são incorporadas no humor e personagens clássicos são reimaginados sem nunca ofender seu próprio legado. Pelo contrário, essa é uma grande homenagem ao passado, acima de tudo.
Muito melhor do que eu esperava, “The LEGO Batman Movie” é um filme tão original em sua proposta que só poderia causar certa estranheza, especialmente quando o protagonista é um herói conhecido como Cavaleiro das Trevas. Mais cedo do que tarde a proposta real aparece, mostrando que o passado dos personagens tem o mesmo propósito que qualquer outra coisa aqui: criar uma experiência divertida e diferente do que todos já estão acostumados a ver.