Aos que acham que a comédia romântica é um gênero tipicamente moderno — doa anos 2000 em especial — “Cassy Jones – O Magnífico Sedutor” será uma bela surpresa. Não apenas uma que foi feita nos Anos 70, mas o trabalho de um brasileiro: Luís Sérgio Person. O cineasta é homenageado pelo 5º Olhar de Cinema no ano em que sua morte completa 40 anos, com 4 de seus longas-metragens marcando presença. Deixo um alerta aos espectadores cativados pelo título, no entanto: em vez de “Késsi Djons” a pronúncia do nome do protagonista é o abrasileirado “Kássi Jônez”. Felizmente, esta é uma das poucas decepções desta comédia brasileira.
Cassy Jones (Paulo José) é um verdadeiro imã de mulheres. Por onde ele passa os olhares ardentes de desejo acompanham, tornando uma vida normal algo impossível. Das mulheres ele quer mais do que a fruta, ele adora romantizar o processo de subir na árvore; comer um fruto que cai espontaneamente não tem a mesma graça, embora ele não seja de negar ofertas. Seu amigo Rouboult (Hugo Bidet) o acompanha em suas jornadas e tenta ser como ele, mas não passa de uma versão pouco bem sucedida. Cada mulher é um diferente romance de uma noite, mas a chegada de Clara (Sandra Bréa) pode mudar essa rotina.
Não sei dizer ao certo se foi de propósito ou não, mas, atualmente, parte da graça vem da escolha de Paulo José para o papel principal. Ele pode ser tratado como um dos atores mais competentes e completos do Brasil, mas com certeza não tem nada de magnífico sedutor em si. Não é pelo cabelo fora de moda ou pelo terno branco, o ator simplesmente não tem pinta de galã; o que para um filme de Comédia é especialmente bom. Ele está no papel em alma, não em corpo, mas certamente acredita que sim e nessa crença provoca várias risadas. As mulheres são doidas por Jones enquanto ele claramente não se esforça muito para seduzir ninguém, é quase uma versão exagerada e bem humorada de “Perfume: The Story of a Murderer“. O fato de Cassy Jones ter uma noção bem única de romance apenas melhora seu personagem quando seu efeito nas mulheres é claramente contrário ao que ele quer. Ele entra num elevador e faz as mulheres ali irem à loucura quase de graça, mas o protagonista gosta mesmo é da caçada, ou melhor, de criar esquemas complicados para conquistar as mulheres.
Em um filme de Comédia como “Cassy Jones – O Magnífico Sedutor” isso é uma oportunidade de ouro para encaixar esquetes cômicos sem deixar nada gratuito. Seja em casa ou nas ruas do Rio de Janeiro, Cassy sempre acaba se metendo alguma situação bizarra para conseguir algo que ele pode ter num piscar de olhos. Somando isso a um olhar do Brasil nos Anos 70, o resultado é uma experiência histórica, pois o espectador tem a chance de conhecer tanto o Brasil de décadas atrás como sua história no cinema pelas mãos de Luís Sérgio Person. De resto, não há muito que torne “Cassy Jones – O Megnífico Sedutor” uma jóia do cinema nacional. Person até coloca algumas cenas de fantasia meio psicodélicas, meio oníricas, meio loucas para incrementar um filme bem direto ao ponto, mas elas não são exatamente boas. Ao contrário dos esquetes de comédia, elas parecem toques vanguardistas aleatórios que não mudam muito a imagem dessa simples comédia romântica de época.
Perto do final há ainda uma grande virada na história que simplesmente não desce muito bem. Ela muda quase tudo que havia sido construído até então e dá uma bela sacudida nos personagens e seus papéis sem dar chão para tanta mudança. Efetivamente tornando o súbito desenvolvimento difícil de engolir. Sua presença é essencial para os eventos acontecerem do jeito que acontecem, então a solução não é uma questão de retirar essa virada da história; só faltou deixar esse processo menos súbito. Felizmente, as coisas voltam aos eixos a tempo de entregar um final apropriado. Nada exatamente surpreendente, mas que ao menos algo conclui a história.
A divertida aventura de um mulherengo pouco convencional, “Cassy Jones – O Magnífico Sedutor” mostra que, enquanto muito do cinema nacional atual deixa a desejar, o passado revela ter bons trabalhos como este. Não diria que é imperdível, mas dificilmente será tratado como um filme ruim, especialmente se o jingle do começo for levado em conta.