Se hoje em dia dizem que Hollywood não é mais a mesma por causa dos tantos remakes lançados, talvez “The Magnificent Seven” sirva como algo para pensar. Baseado em “Os Sete Samurais“, este filme pega grande parte das idéias principais da obra de Akira Kurosawa e muda o contexto: em vez do Japão Feudal, a trama se passa no Velho Oeste. Mal haviam passado 6 anos do lançamento do longa de Kurosawa e um remake já estava nas telas. Hoje, cerca de 62 anos após o lançamento da obra japonesa, teremos uma nova versão deste Faroeste, o verdadeiro remake do remake.
No México, um pequeno vilarejo de fazendeiros sofre constante abuso de Calvera (Eli Wallach) e sua gangue. Mais ou menos 30 homens aparecem por vez e pegam o que querem: alimento, fumo, bebida ou qualquer tipo de suprimento. Cansados de ter de passar fome por causa de um bando de vagabundos, três homens pedem o conselho do velho do vilarejo, que recomenda que eles lutem. Os fazendeiros vão para a cidade em busca de armas e encontram a ajuda de Chris (Yul Brynner), um pistoleiro de boa índole. Ele diz aos homens que contratar homens sairia mais barato que comprar armas, ainda mais quando nenhum deles sabe atirar. Após decidir que vai ajudar, Chris sai em busca de outros 6 pistoleiros para combater Calvera.
Antes de qualquer coisa, este é um bom Faroeste por si. Considerada objetivamente, a trama é muito bem executada; desde a preparação para os ataques até a hora que as os tiros começam a rolar. John Sturges acerta tanto no ritmo do filme, que em momento algum parece obsoleto ou arrastado, quanto na escolha de seu elenco, ao escalar grandes nomes da época para protagonizar sua história. Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson e Robert Vaughn não são apenas rostos famosos usados para comercializar esta obra, são atores grandes em papéis simples, porém bem caracterizado. Até chega a ser engraçado ver o Príncipe do Egito e Harmonica no mesmo bando, quase o sonho de um fã se materializando. Pensando nisso, hoje em dia parece piada quando pedem para Batman lutar contra Darth Vader ou Superman contra Goku. De sua forma, esta obra carrega a magia do sonho em um filme moderado, mais preocupado em contar sua história do que ostentar seu elenco de estrelas. Além dos artistas, o elemento mais conhecido dessa obra com certeza é a trilha sonora, que para mim soou um pouco… bizarra. Alguns momentos são inquestionavelmente excelentes, aliás, todas as melodias são boas. O tema principal, por exemplo, é cativante e fica na memória rapidamente, ressonante e cheio vida. Não é qualidade que falta, Elmer Bernstein, o compositor, se assegura dessa parte. O ponto é que ele parece se empolgar na êxtase de seu tema principal e esquece que alguns momentos são trágicos, tensos ou calmos, mantendo a, inapropriada, alegria na melodia mesmo assim.
Como disse na minha análise de “Os Sete Samurais“, o pecado do filme é o excesso. São quase 3 horas e meia para contar, essencialmente, a mesma história daqui. Analisando a obra, pude notar que diversas sequências poderiam ser cortadas ou reduzidas para que o ritmo e a duração geral ficassem mais amigáveis, tornando o enredo mais enxuto. “The Magnificent Seven” tem 128 minutos, cerca de 79 a menos que sua contraparte japonesa, outro pecado, dessa vez pela escassez. Nessa redução, muito conteúdo importante é excluído. Tendo assistido ao filme japonês antes, é difícil escrever uma análise virgem, livre de qualquer tipo de comparação. Eu até posso omitir no texto estes paralelos, mas isso não muda o fato deles já estarem em minha mente quando eu vi este Faroeste.
Por um lado, a escolha de atores famosos para o papel dos sete protagonistas ajuda muito na hora de caracterizar os personagens. Todos sabem que Charles Bronson é Charles Bronson, basta ter visto seu rosto ou o de qualquer outro famoso do elenco para que os personagens sejam diferenciados. Por outro lado, isto não compensa a falta de desenvolvimento vista aqui. Em nenhuma hora haverá confusão de quem é quem, mas com exceção de um traço de personalidade ou outro não há nada que os torne humanos, personagens com quem o espectador realmente se importa. É aí que o conteúdo cortado entra em cena, antes havia demais, agora há pouco; antes era difícil distinguir o visual dos samurais, mas a personalidade de cada um era tão sólida que raramente havia engano. Parece que a preocupação está muito em cima do enredo bruto, sendo que parte do motivo dele funcionar é por conta de detalhes e sutilezas, que davam significado a muitos de seus acontecimentos. Alguns poucos momentos dedicados mostram que os pistoleiros possuem algum tipo de personalidade, como quando o personagem de Bronson faz amizade com alguns garotos da vila e dá alguns discursos sobre responsabilidade e coragem. Caso tais momentos fossem explorados mais a fundo, poderia dizer que algumas cenas críticas seriam muito mais impactantes. Mas avaliando o que se tem em mãos, só posso dizer que não é uma qualidade ou cinco minutos de tela que caracterizam um ser humano.
Imagino que mesmo sem ter visto o longa de Kurosawa, este sentimento de falta estaria presente de alguma forma. Não é tanto pela falta de desenvolvimento, mas algumas cenas simplesmente não apresentam a composição adequada para um evento de impacto; querem que o acontecimento seja chocante, mas a apresentação permanece casual e simples. Talvez meia hora a mais faria maravilhas por este Faroeste, talvez mais do que meia hora, talvez menos. Do jeito que “The Magnificent Seven” saiu temos um filme sólido em geral, com empolgação demais na trilha sonora e polimento de menos no desenvolvimento dos personagens.