Se eu me interessasse naqueles testes para saber qual personagem de “Jogos Vorazes” eu seria — ou qualquer teste do tipo — tenho certeza que meu resultado seria Jena Malone. Em outros filmes sua presença foi apenas secundária e rendeu um ou outro momento bom, mas neste ela realmente provou seu valor. Basicamente, com poucos minutos de tela e algumas linhas de diálogo sua personagem, Johanna Mason, define bem o que eu penso sobre a série “Jogos Vorazes”: um drama romântico e um ato em defesa dos oprimidos; exceto que não é um ato, o que faz tudo ser ainda mais insuportável. O primeiro filme já mostrara sinais de que os sucessores não seriam muito diferentes, “Mockingjay – Part 2” só prova isso novamente.
Após as 2 horas de absolutamente nada de “The Hunger Games: Mockingjay – Part 1“, esta continuação retoma exatamente do ponto que o último filme parou. Peeta Mellark (Josh Hutcherson) é resgatado de sua prisão na Capital e trazido para a segurança das instalações do Distrito 13, só que sua mente foi torturada e em seu reencontro com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) ele quase tira a vida da garota. Transtornada pela mudança de Peeta, Katniss faz o possível para tentar trazê-lo de volta ao normal enquanto mantém seu papel como o rosto da revolução, aquela que vai vencer a guerra contra o Presidente Snow.
Após um filme inteiro de espera, esta é a obra que mostra todo mundo realmente colocando a mão na massa. Levando em consideração a falta de eventos do predecessor, o que se vê aqui é claramente um avanço, embora simplesmente ter ação na tela não signifique que ela seja boa. Compreendo que o foco sempre foi Katniss, mas neste caso acredito que seu tempo de tela acaba roubando a pouca credibilidade que o plano de fundo possui. No segundo longa da franquia pode-se ver que haviam planos para uma revolução nos bastidores; no terceiro filme decidiram tornar a protagonista em uma estrela de videoclipe e mostrar os planos de ataque sendo bolados. Quando chega o momento de executar o que estiveram planejando todo esse tempo, falham em passar qualquer tipo de firmeza aos eventos em tela.
A Capital é, supostamente, uma estrutura altamente organizada, munida de instrumentos de vigilância e soldados treinados. Um plano para derrubar a cidade teria de ser realmente eficiente para ter sucesso, muito mais que uma garota com um arco e flechas pode oferecer, sem dúvida. O que incomoda nessa situação é que, por mais que seja claro que houve muito planejamento na “Parte 1”, não se dão o trabalho de mostrar como esses planos são postos em prática. Algumas coisas falam por si, como quando explicam que a cidade terá armadilhas, enquanto outras permanecem ali por simples conveniência. Uma análise de um espectador que mal esteja prestando atenção já mostra que há furos em todo esse plano bombástico; não os furos de sempre, como se vê em outros filmes de gênero, mas furos tão simples que é difícil entender porque eles foram parar no produto final.
Ainda que o espectador vire o rosto para estas inconsistências, não há como não reparar na insistência de tornar aos clichês terríveis da franquia, e do gênero Ação, para desenvolver os personagens e as cenas de ação. O fato de Peeta estar mentalmente instável é uma virada de jogo no final do último filme e neste permanece como um daqueles empecilhos que complicam uma progressão linear, até aí sem problema algum. Algumas decisões tomadas podem até parecer estranhas, mas no contexto da história chegam a ser bem explicadas para que não sejam completamente aleatórias; é o desenvolvimento decorrente dessas decisões que deixa a desejar muito. Quando a morte de algum personagem é imprescindível, evento que poderia trazer certo impacto, apresentam-o da forma mais casual possível, ao mesmo tempo que, mais frequentemente que não, recorrem a áreas de escape sentimentais para justificar tal casualidade e até mesmo as inconsistências de roteiro.
Realmente, é um ato de drama romântico, com exceção de que não é um ato, é tudo verdade. Pouco importa se câmeras de vigilância, soldados treinados e equipamento moderno podem facilmente acabar com o plano, o que interessa, no final das contas, é que o amor mudará o destino de todos de alguma forma. Antes tivessem condensado as duas parte de “A Esperança” em um longa-metragem só, pelo menos o espectador seria poupado de duas demonstrações de Cinema ruim.