Antes de Michael Bay encontrar a galinha dos ovos de ouro com a franquia Transformers, o diretor teve algumas aventuras em filmes de ação com uma pegada mais militar. Para os que pensavam que Bay teve algum outro tipo de estilo em suas primeiras obras, esta pode ser uma leve decepção por “The Rock” ser a origem dos estereótipos sobre seus filmes. Em seu segundo filme o diretor já emplaca seu estilo, que se mantém até os dias de hoje. Obviamente, a quantidade de efeitos especiais era bem menor antes, mas ainda assim não é algo que faça o espectador deixar de identificar o estilo.
Francis Hummel (Ed Harris) é um General do Exército Americano, herói de várias guerras e condecorado vezes demais para alguém saber todas de cor. Frustrado com as atitudes de seu governo perante seus companheiros que caíram em combate, Hummel decide fazer justiça com as próprias mãos e domina a ilha de Alcatraz com a ajuda de um pelotão de soldados. Sua exigência é 100 milhões de dólares, para serem distribuídos às famílias dos soldados mortos e entre os homens da operação. Caso as demandas não forem cumpridas, vários mísseis carregados com uma toxina mortal serão lançados na cidade de São Francisco. Para deter esta ameaça, o especialista em Química, Stanley Goodspeed (Nicolas Cage), é colocado em meio a uma equipe militar para infiltrar a antiga prisão. Mas como se entra indetectado em um dos lugares mais complexos de todos os tempos? Com a ajuda de John Mason (Sean Connery), o único ser humano que conseguiu fugir de Alcatraz.
Apesar dos vários anos entre as obras atuais de Bay e este filme, a fórmula continua basicamente a mesma: ação descompromissada e bem executada, um orçamento generoso e pouca profundidade no resto do filme. Realmente, é inegável dizer que o diretor tem certo tato para criar ótimas cenas de ação, o que para um filme do gênero costuma ser o bastante para uma experiência minimamente agradável. Há uma centena de clichês à vista, desde os próprios personagens principais até a lógica do roteiro, mas nenhum chega a ser gritante a ponto de incomodar muito. O personagem de Nicolas Cage, por exemplo, é o típico homem despreparado que acaba forçado a ir para a linha de frente, enquanto Sean Connery serve como o expert para corrigir as falhas de seu parceiro e de certa forma ser uma figura paterna inusitada.
Incrivelmente, Bay não bate muito nesta parte familiar, evitando que esta relação seja mal trabalhada como o drama costuma ser em seus trabalhos. Existem alguns paralelos entre John Mason e Stanley Goodspeed que reforçam esta visão, nada muito explícito ou exposto demais: Goodspeed acaba de descobrir que sua namorada está grávida, e a perspectiva de ser pai e marido o assusta; enquanto Mason passou a vida toda atrás das grades, sabendo que é pai apenas por uma fotografia antiga. A idéia é interessante por estar minimamente presente e é até um avanço para um filme de ação desenfreada como este. Uma exploração mais a fundo neste ponto seria muito bem vinda e daria profundidade aos personagens envolvidos, infelizmente permanecendo um pouco oculta demais para fazer a diferença nos personagens rasos.
A ação, por outro lado, é definitivamente o que faz esta obra valer a pena. Logo de começo o ritmo é estabelecido em uma cena tensa com Stanley Goodspeed: sua vida parada no laboratório é inusitadamente agitada pela chegada de uma bagagem com suspeita de origem terrorista. Logo depois ele recebe a notícia da gravidez de sua namorada e quase imediatamente é convocado para uma missão maior que o mundo. Se esta obra está longe da perfeição, com certeza não é por conta da ação. Ela cumpre seu papel muito bem com sequências solidamente executadas, ainda que algumas sofram por não deixarem o espectador entender muito bem o que acontece. O outro problema vem juntamente com a localidade, interessante por si e que oferece um plano de fundo diferenciado para um filme que poderia ser genérico caso contrário. Durante a história é reforçado que a arquitetura exata do local é um enigma por conta das diversas reconstruções, onde entra John Mason. Entretanto, por pura e descarada vantagem do roteiro a arquitetura do local acaba sendo simplificada para que a trama siga em frente. De uma hora para outra Mason não é mais necessário, pois Goodspeed já sabe para onde ir; ou então os objetivos aparecem, como sinal de boa fé do roteiro, imediatamente após uma caminhada por túneis quaisquer. Obviamente nenhum espectador conhece a estrutura de Alcatraz, mas isso não é justificativa para achar que por conta disso qualquer coisa seria aceita.
Uma dupla inusitada contra vários soldados treinados em uma das prisões mais lendárias da história garantem entretenimento de fina qualidade, ainda mais nos momentos quando nada importa além de tiros voando com frequência e explosões em todos os cantos. Hoje Michael Bay falha em qualquer tentativa de drama ou uma estrutura mais complexa, tanto quanto falhava em 1996; mas quando se fala em explosões e destruição total, aí sim ele acerta para ninguém botar defeito.