Uma das grandes ambições de aspirantes a cineasta é realizar um filme gastando pouco e entregando muito, fazendo o melhor possível com os recursos disponíveis. Um filme tão bom quanto este usar tão poucas ferramentas em sua execução deveria ser inspiração o bastante para qualquer novato na área com sonhos de sucesso. Afinal de contas, efeitos especiais espalhafatosos e um orçamento exorbitante novamente mostram que nunca foram, e provavelmente nunca serão, o coração de um filme bom.
Logo de cara o espectador é introduzido ao julgamento de um jovem, acusado de assassinar o próprio pai. As palavras do juiz situam bem em quais termos o caso está, deixando o destino do réu nas mãos de um júri composto por 12 pessoas. A tarefa deste grupo é condenar ou absolver o acusado, que caminhará livre ou irá direto para a cadeira elétrica, mas para isso a decisão deve ser unânime; qualquer voto dissidente fará com que o caso seja julgado novamente. De começo, a maioria esmagadora mostra-se a favor da condenação do rapaz, com exceção de um jurado, que faz da dúvida o principal motivo para justificar sua posição. Através do puro poder da argumentação, este jurado tenta mostrar que o caso talvez não estivesse tão claro quanto parecia na corte.
De longe o aspecto mais chamativo aqui é como sustentam o longa com relativamente poucos recursos. A variedade de ambientes usados, por exemplo, é quase nula. Com exceção do fórum de justiça, que aparece brevemente no início, o filme todo se passa em uma sala e um banheiro: doze pessoas com os nervos à flor da pele discutindo um caso em uma sala quente e apenas isso. Diálogo em cima de diálogo pode parecer a fórmula de um filme tremendamente tedioso, mas por sorte a petulância é uma característica forte de alguns jurados; tornando uma possível conversa cheia de tecnicalidades em um verdadeiro bate boca, inclusive com direito a eventuais baixarias. Nada que vá fazer o espectador reclamar, claro, afinal de contas um pouco de vulgaridade em uma sala onde todos trajam passeio completo é sempre uma adição interessante.
Com a limitação de ambientes, era de se imaginar que algumas técnicas de direção sofreriam limitações. Uma cena panorâmica da cidade não seria possível, quem dera qualquer tipo de ação minimamente complexa. Ainda assim, é notável como Sidney Lumet não falha em impressionar, mesmo em uma sala com pouco espaço até mesmo para o equipamento básico de filmagem. Planos sequência estão em peso, assim como closes e atuações espetaculares, estabelecendo, junto com outros elementos, uma mise-en-scène no mínimo invejável. Para aumentar a tensão e manter a atenção do espectador, uma integração inteligente entre elementos de cena é apresentada. Enquanto uma pessoa fala, outra se coça para interromper com algum argumento ácido, enquanto a temperatura faz o favor de ficar cada vez mais alta e apimentar como pode a situação.
Elogiar estes elementos, no entanto, não é desmerecer de nenhuma forma a real razão do sucesso deste longa: o poder das palavras. Inicialmente, ao menos em meu caso, o espectador começa um pouco cético quanto a situação em geral; não sabe no que, ou em quem, acreditar, e talvez até exista certa inclinação ao julgamento de culpado pelos fatos apresentados. A genialidade dos diálogos então vem com o real poder argumentativo deles, pois assim como os personagens vão se mostrando convencidos, o espectador vai também mudando de opinião. Os pontos apresentados são fortes e até surpreendem por não terem sido colocados em jogo na corte antes, com exceção de alguns que pecam por serem um pouco conveniente demais. Eles não são infundados, mas em uma certa ocasião, por exemplo, é muito propício que exatamente o personagem que se mantém cético se encaixe em todas as proposições de quem debate com ele. Atuações boas são cruciais para que o diálogo seja realmente efetivo, sendo essencialmente o combustível que alimenta a argumentação. Mesmo extenso, o elenco consegue ser de certa forma carismático, sendo difícil olhar para qualquer um dos jurados e dizer que ele está ali apenas para fazer número. A maioria nem nome atribuído tem, apenas um número conforme a ordem em que estão sentados na mesa, e ainda assim suas identidades conseguem ser icônicas o bastante para serem lembradas, sem que as características sejam simplistas a ponto de tornar o personagem raso.
Um filme tão estritamente simples no papel conseguir ser tão bom é uma grande conquista da sétima arte, podendo ser usado como estandarte por qualquer cineasta que se pegar necessitando de algum tipo de inspiração. Como toda arte, não há uma fórmula que torne obras em algo bom, há apenas tentativa e erro. Este é um perfeito exemplo de trabalho que poderia muito bem ter sido uma bomba de baixo orçamento, mas que se tornou justamente o contrário: “12 Angry Men” se manteve como um dos filmes mais bem conceituados de todos os tempos, muito dessa fama por conta de seu cuidado na execução de sua estrutura simples.