Aproveitando para tirar o atraso por conta do lançamento de “Mission: Impossible – Rogue Nation“, decidi verificar se a aclamação em cima de “Ghost Protocol” era realmente justificada. A expectativa nunca passou muito longe de um filme de ação minimamente competente, algo que pelo menos justifique mais uma continuação, que é mais ou menos o que se tem aqui. Acima da média dos lançamentos do gênero, normalmente algo genérico estrelado por Dwayne Johnson ou Jason Statham, este filme se destaca principalmente por algumas sequências de ação excepcionalmente executadas; enquanto o resto da obra ainda peca um pouco por falhar em oferecer inovação ou a mesma elaboração de tais cenas.
Ethan Hunt (Tom Cruise) é um agente da organização secreta IMF e curiosamente se encontra contido em uma prisão da Rússia. Após ser libertado por seus companheiros de equipe, Ethan aceita uma nova missão: infiltrar o Kremlin e descobrir a identidade de uma figura por trás de uma conspiração nuclear. No meio da missão alguém sabota a comunicação do grupo infiltrado e a missão é colocada em risco, forçando Hunt a abortar o objetivo e sair do lugar imediatamente. Quase imediatamente o Kremlin sofre um ataque terrorista que causa uma explosão enorme, implicando a IMF como responsável e forçando o grupo a agir independentemente do governo, sem qualquer tipo de auxílio.
Sendo um filme de ação, não é de se surpreender que o elemento que realmente vende a obra para o público seja a própria ação. Imagino que, assim como eu, as pessoas que ainda não viram “Ghost Protocol” pelo menos ouviram falar da tal sequência de escalada do prédio em Dubai, um dos momentos em que as vantagens de um orçamento alto dão as caras. Seja vendo um trecho da sequência nos trailers ou em algum artigo sobre como Tom Cruise realizou todas suas cenas sem dublê, a isca foi lançada de alguma forma, restando apenas ao espectador verificar se tal sequência é boa mesmo e acompanhada de outras nos mesmo nível. E, de fato, existem várias delas que se encaixam neste posto, fazendo muito bem sua parte de empolgar o espectador através das mais variadas façanhas e não deixar dúvida de que a série “Missão: Impossível” ainda tem várias cartas em sua manga. Há a comentada escalada de um prédio de mais de 200 andares com janelas de vidro quase derretendo de calor, perseguições em meio a uma tempestade de areia e até um festival de fraturas durante uma briga num estacionamento vertical. Inicialmente tais cenas são um pouco raras, chegando a fazer falta em meio a tantas sequências genéricas, mas logo sua frequência aumenta e o show segue ininterrupto até o fim.
E essa é a grande cartada de “Ghost Protocol”. É difícil olhar para ele e dizer que seu roteiro é excepcional ou que os personagens são memoráveis e bem utilizados nos planos da história. O que não se pode criticar é o fator ação da experiência. É aqui que se consolida a filosofia de trabalhar com grandes números, as tais grandes sequências de ação — setpieces, no termo original. Não há apenas momentos cruciais de ação a serem encontradas, como em qualquer filme de ação, e sim cenas que se destacam de longe por sua ambição. A tal escalada do prédio em Dubai continua sendo o melhor exemplo disso.
No entanto, é difícil ignorar o resto. Quando “Ghost Protocol” não está deixando os queixos alheios no chão com ambiciosas sequências ambientadas nos lugares mais peculiares, ele está sendo incrivelmente comum. Tirando personagens que viriam a aparecer outras vezes nos filmes seguintes, é difícil lembrar dos outros elementos do elenco o que pesa bastante negativamente. Por mais que a morte de um personagem, por exemplo, não seja acompanhada de nenhum tipo de previsibilidade, é difícil se importar com uma vítima que sequer foi bem introduzida, quem dirá minimamente desenvolvida. Por esses motivos, uma atmosfera de filme genérico permeia este longa, retirando uma boa porção da credibilidade que vem com o nome “Missão: Impossível”. Entretanto, um trabalho competente é feito com os protagonistas e, mesmo que estes não sejam bons exemplos de tridimensionalidade, ao menos são carismáticos. Neste ponto as coisas começam a ser menos usuais e adquirem uma identidade melhor definida, extremamente bem representada pelas excelentes cenas de ação, que com folga superam as de caráter medíocre.
O CGI, por sua vez, acaba decepcionando por conta da heterogeneidade quase gritante em relação ao resto dos elementos na tela, chegando a falhar até mesmo em efeitos relativamente simples, como a própria explosão do Kremlin. Era de se esperar que uma atenção maior seria dedicada a algo tão central para o enredo, pois se a expectativa da obra é fazer o espectador se sentir movido pelos eventos, um ótimo primeiro passo seria apresentar as imagens de modo acreditável. Quando algo extraordinário é procurado, uma suspensão de descrença frequentemente acompanha tal vontade. A eficácia das imagens, porém, depende da manutenção de uma imersão visual por parte do próprio filme. Em algumas ocasiões isso simplesmente não acontece, o que prejudica algumas sequências de ação com esse toque de artificialidade.
Ainda que algumas cenas de ação estejam entre uma das melhores dos últimos tempos, a mediocridade em outros aspectos mostra presença e por vezes faz “Ghost Protocol” ser menos merecedor dos diversos elogios atribuídos. No geral não há nenhuma variação dos moldes do gênero digna de nota, pois mesmo os trechos com qualidade ainda ostentam uma familiaridade em sua essência; o que se tem é mais do mesmo que, uma vez que pega ritmo, faz a experiência realmente valer os diversos minutos de trivialidades.