Um dos diretores mais proeminentes do México, Alfonso Cuarón aos poucos foi ganhando notoriedade com seus trabalhos até fazer seus próprios filmes em Hollywood. Uma produção conjunta da Inglaterra com os Estados Unidos, esta obra teve seu roteiro desenvolvido com base o livro homônimo de P.D. James. Apresentando uma premissa capaz de capturar o interesse alheio facilmente e um conjunto de técnicas cinematográficas respeitáveis por parte de Cuarón, os pecados acabam mostrando as caras em outros aspectos elementares; que por fim acabam evitando que a experiência seja melhor aproveitável.
A história se passa no ano de 2027, quando a maioria dos países da Terra encontram-se obliterados e apenas a Grã-Bretanha se salva, mesmo que de maneira precária. Refugiados do resto do mundo tentam se abrigar na Terra da Rainha, apenas para serem caçados pelo governo e isolados dos cidadãos regularizados. Para complicar ainda mais, as mulheres do mundo, sem razão conhecida, perderam o dom da fertilidade e há 18 anos nenhum bebê nasce. Nessa situação encontra-se Theo (Clive Owen), um homem comum que se vê envolvido nos planos de sua ex-mulher, uma ativista radical, de transportar uma mulher grávida para uma organização científica secreta analisá-la e talvez achar a cura da infertilidade mundial.
Embora este não seja lá um filme muito curto, beirando quase 2 horas, a impressão que tive é que as coisas acontecem um pouco rápido demais. Não por conta de uma edição que gere mais cortes e cenas mais curtas ou uma ação quase ininterrupta, pois até mesmo eventos com um caráter mais tranquilo parecem apenas meras eventualidades no contexto geral. Inclusive se tecnicalidades forem analisadas, muitos planos-sequência e tomadas longas serão notadas na estrutura, o que neste filme, como em muitos outros, aumenta a tensão e o suspense da cena em questão. Ainda assim, um sentimento de que tudo passa rápido e às vezes de maneira superficial é sentido. Enquanto é explícito que os eventos apresentados possuem importância extrema no contexto da história, como a amizade de um velho amigo para o protagonista, parece que no geral o filme não se importa tanto com as ambições da própria trama; uma vez que personagens, acontecimentos e traumas às vezes não são explorados o bastante para o espectador se preocupar com eles.
Esta sensação de que tudo foi apressadamente mostrado é uma pena realmente, pois o universo criado parece ser denso o bastante para ser explorado mais a fundo. Entretanto, isso não traz apenas defeitos, pois o uso de diversos planos-sequência dá uma sensação de fluidez além da já mencionada tensão. Assim pode-se dizer que a experiência nem de longe chega a se tornar inconveniente, mantendo um ritmo que até poderia ter arriscado ficar um pouco mais de tempo na tela do que ficou. Este sim é um exemplo de filme digno de beirar a duração de um Épico, com conteúdo para satisfazer qualquer desejo de um interessado espectador; mas enquanto isso temos filmes como “Transformers: Age of Extinction” chegando nas 3 horas, quando tal duração é no mínimo injustificada.
Reforço ainda as conquistas técnicas deste filme, algo de um nível que faria até mesmo o pior dos filmes enganar espectadores que associam qualidade com estética. O interessante é que o bonito deste filme não se atinge através de computação gráfica, mas sim através da captura competente do ambiente natural e suas características, sejam elas inerentes ou artificiais. O que poderia ser apenas uma passagem por um túnel acaba sendo impactante pelo uso das sombras e iluminação, brincando com a transformação do indivíduo entre silhueta e iluminado; e até mesmo podendo caracterizar metáfora sobre a moralidade do personagem em questão, para aqueles que acharem apropriado extrair algum significado implícito da sequência. A direção de Cuarón também não deixa a desejar, trazendo à vida alguns momentos naturalmente clichês através de técnicas extravagantes. Essas tecnicalidades podem até parecer papo de pseudo-intelectual de cinema, mas na prática sua eficiência é mais que notada quando há melhora em algumas ocasiões desavantajadas por falhas de outros aspectos. Afinal de contas o Cinema é um tanto mais que uma simples junção de imagem e som, por trás dos panos muitas áreas trabalham para entregar o produto que chega às telonas.
Não chegando a ser ruim em um trecho específico demais para o erro poder ser relevado, este filme acaba causando um desapontamento um tanto geral; notável em várias ocasiões e transmitindo um gosto um pouco amargo, que evitou que a avaliação fosse mais positiva. Talvez com um pouco mais de tempo, um melhor desenvolvimento dos personagens e do universo pudesse ser atingido, assim tornando este longa-metragem ainda melhor do que já é.