A primeira aventura de Indiana Jones surgiu à partir de uma famosa colaboração entre dois grandes nomes da indústria cinematográfica: George Lucas, da franquia Star Wars; e Steven Spielberg, de “Tubarão”. Em seu lançamento o longa saiu apenas como “Raiders of the Lost Ark”, mas tão logo que o protagonista se tornou popular, as continuações tiveram a adição do nome Indiana Jones antes do título em si. Tratado frequentemente como um dos melhores filmes de aventura de todos os tempos, talvez esta obra não supere sua segunda continuação, mas ainda assim mostra-se bem competente.
Professor universitário de arqueologia durante a semana e aventureiro nas horas vagas, Indiana Jones (Harrison Ford) está sempre à procura de algum tesouro raro ou um lugar inóspito para procurar aventura. Após conseguir um diário com pistas para a localização de um artefato bíblico mitológico, a Arca da Aliança, Jones viaja por diversos países em busca da tal arca perdida. Em uma de suas paradas, ele encontra Marion (Karen Allen), uma moça de seu passado com quem deixou algumas pontas soltas. Para que consigam superar seus oponentes nazistas, Jones e Marion precisam trabalhar juntos nesta empreitada excitante.
Se existe algo para se falar deste Indiana Jones, é que há um espectro de clássico em quase todas suas cenas. Devo dizer que sinto inveja de quem presencia as diversas cenas épicas deste filme pela primeira vez, pois imagino que seja uma experiência e tanto. Mesmo tendo visto esta obra outras vezes, ver tantas sequências icônicas sabendo quase tudo o que está para acontecer ainda é empolgante. Não ter mais o fator surpresa não tira a graça do filme, e isto tem muito a dizer sobre as qualidades deste longa-metragem. Cenas como a das cobras, a da bola de pedra gigante, a da perseguição de jipes, e a da briga no avião todas continuam ótimas; tão boas quanto na primeira vez, que muitos espectadores viram quando ainda eram crianças.
Mas se por um lado estas cenas únicas mostram-se imunes ao teste do tempo, contrapondo elas estão algumas outras surpresas, estas não tão agradáveis. A questão que permanece no ar o tempo todo depois que surge pela primeira vez é a entonação do filme, pois não dá para saber bem o que Spielberg queria atingir com este filme. Em uma cena temos sangue espirrado em janelas e paredes, violência quase explícita, e outros elementos de filmes maduros; enquanto em outra temos momentos que quase beiram a galhofa, como closes em múmias com sons de grito ao fundo, uma após a outra. Fica difícil saber que tipo de linha queriam seguir com o filme quando uma cena tem uma diferença tão gritante com a outra; querem atingir um público mais infantil ao inserir bobeirinhas ou gente mais velha com a violência e realismo de certas cenas? Certamente o que este filme não faz é agradar gregos e troianos, embora possa dizer também que não chega a desagradar nenhum dos dois lados.
Um conflito parecido se nota em relação à qualidade das várias cenas de ação, pois ao mesmo tempo que algumas tem um caráter de clássico e qualidade indiscutível, outras trazem aquela sensação de que talvez o filme fosse melhor na memória. Uma sequência em especial representa bem esta última parte: um grupo de assassinos, parecendo ser perigosos, é enviado para atacar Indiana Jones, que facilmente se livra da situação ao fazer um assassino empalar o outro com um simples movimento, enquanto despacha os outros com duvidosos socos. Sem dúvida um daqueles momentos em que o espectador questiona seu próprio gosto, mas que como muitos destes errinhos acaba sendo compensado por uma ótima sequência logo depois. Este seria o exemplo do clássico duelo mais rápido da história do cinema, que ocorre logo depois. Em geral, isso é o que acontece por boa parte do tempo; alguma cena muito boa seguida de uma pior, com os erros sendo compensados por acertos significativamente maiores.
Apesar de não ser a melhor entre as quatro aventuras de Indiana Jones, “Raiders of the Lost Ark” permanece como o mais clássico entre todos os lançados. Alguns pontos acabam ficando meio mal executados, talvez pelo caráter experimental e pela fórmula da franquia ainda não estar bem definida, porém os acertos acabam se mostrando muito mais impactantes que qualquer erro. A qualidade do longa em geral não é mais alta de todas, mas por ter tantas cenas icônicas este será sempre o Indiana Jones mais bem lembrado.