Como já foi mencionado em outras análises, em meados do fim dos Anos 80 e ao longo dos Anos 90 os Slashers sofreram um declínio significativo de popularidade. Vendo várias franquias grandes quase sumir do mapa, alguns cineastas decidiram apelar para o humor como resposta. Mas não um humor deslocado, que apenas se aproveita das figuras famosas para sugar dinheiro; mas sim um humor auto-consciente, fazendo dos próprios clichês do gênero a fonte de piadas. Diversos filmes já abusaram desta abordagem, mas poucos fizeram como “The Cabin in the Woods” fez.
Neste caso em específico, vou ter de pedir um voto de confiança para o caro leitor, pois qualquer detalhe que for revelado a mais pode estragar muito a experiência. A sinopse em si parece apontar para apenas mais um filme de Terror sem nada novo na mesa, mas esta obra é definitivamente mais que isso. Cinco amigos se reúnem para passar um tempo juntos numa cabana na floresta, onde diversão não parece estar em pouca quantidade. Não demora muito para os jovens descobrirem que há mais do que parece por trás de tal curtição, e juntos eles devem descobrir o segredo da cabana.
Sacanear com os esterótipos do gênero nas mesmas franquias em que tais clichês foram cometidos é no mínimo genial, mas fazer o que foi feito aqui vai muito além disso. Dizer que este filme serve como uma sátira do Terror é uma sutileza atenuada, pois a implementação do humor não é simplesmente inserida para repetir o sucesso de outras obras. Em vez de fazer um Slasher com elementos satíricos referentes a outras franquias, uma história totalmente original é criada em cima de clichês, qualidades, e defeitos do gênero; com direito a diversas homenagens à uma enxurrada de obras icônicas do Terror. Usar o humor autoconsciente foi um inesperado passo à frente, mas usar da típica burrice de tais trabalhos para construir um enredo inteligente é sem dúvida um esforço admirável.
Se o Cinema fosse um jogo de cartas, o roteiro escrito por Joss Whedon e Drew Goddard com certeza seria uma mão muito boa. Se por um lado o mesmo não é um filme perfeito, por outro as cartas jogadas pelos roteiristas dão conta de criar uma experiência única na história do gênero. Da maneira como a trama se estrutura, quase qualquer defeito torna-se imune às críticas de sempre; ou seja, por mais que algo pareça muito exagerado, seja em estupidez ou conveniência, há sempre a justificativa que aquilo é uma crítica ou sátira de artifícios frequentes de obras do gênero. Mais impressionante é como esta técnica funciona tão perfeitamente, mesmo estando tão na cara do espectador. Não é uma sutileza que se nota através de análise mais profunda, mas sim uma manobra descarada dos roteiristas de transformar qualquer condenação em um mecanismo da trama.
Este não é um filme que foi feito para deixar o espectador tenso, com medo, chocado, com nojo, ou assustado, pelo contrário, essa obra está mais para uma excelente história inserida no universo curioso dos filmes de Terror. Todos os elementos estão lá, desde o grupo de jovens burros até a nudez gratuita; porém mais do que apenas criar boas desculpas para possíveis falhas, esta obra vai além e cria uma explicação espertinha até mesmo para o que não gerava dúvida nenhuma. Há um motivo para as atitudes imbecis e questionáveis dos personagens, o macho alfa é assim por uma razão maior que simplesmente se encaixar no roteiro; da mesma forma finalmente dão uma explicação, ainda que absurda, do porquê aquela garota pura e madura sempre sobrevive no final do massacre. Talvez o único problema a ser visto aqui, é a abrangência relativamente limitada do público que aproveitará este filme de verdade. Fãs do Terror, ou ao menos conhecedores do gênero, descascarão este trabalho até o talo e, mais provavelmente do que não, gostarão do resultado. Mas espectadores que assistam esperando sustos repentinos ou um banho de sangue alheio, sem dúvida odiarão a proposta.
Dizer que este longa é apenas uma boa variação da fórmula do Terror é ser modesto, pois a desconstrução dos clichês vista aqui é bem mais do que isso. Uma mudança não vista no gênero há muitos anos, é difícil acreditar que ela possa ser levada adiante sem que a originalidade se perca. Ainda que o sucesso deste filme seja notável, prefiro continuar na torcida de que esta obra permaneça como um ponto alto singular. Que outras obras no mesmo nível criativo venham, mas sem tentar reproduzir a genialidade de alguns artifícios tão bem aplicados aqui.