Antes de estrear como diretor na franquia 007, Sam Mendes dirigiu um dos Dramas mais premiados da década de 90 com “American Beauty”. Vencedor de 5 Oscars, esta obra foi recebida positivamente pela crítica e pelo público. Mas será que por detrás da popularidade e dos prêmios existe realmente um bom filme? Devo admitir que esperava mais de uma obra tão bem falada, e apesar de não ser um filme ruim também não acredito que seja digno de tanto aplauso como foi este caso.
O casamento de Lester Burnham (Kevin Spacey) já anda mal das pernas faz tempo, seu emprego medíocre não é exatamente satisfatório e para ajudar sua filha Jane (Thora Birch) não é do tipo que traz boas notícias para casa. Vivendo através da inércia da rotina, Lester vê sua vida virar de ponta cabeça quando repentinamente se apaixona por uma das amigas de sua filha. Embora pareça um filme de romance de baixo orçamento sobre um casal improvável que dá certo apesar dos rótulos da sociedade, este não é bem o caso. Curiosamente, o que faz “American Beauty” se aproximar da mediocridade não é sua trama pouco atraente, mas sim uma série de outros elementos que rodeiam o enredo.
Incrivelmente, a trama consegue se descolar facilmente de toda e qualquer projeção que a sinopse pode ter passado. Não se tem uma história bonitinha sobre como uma garota jovem descobre o amor em alguém com idade para ser seu pai, pelo contrário; esta pequena introdução serve apenas como o estopim para todos os eventos que vem depois, sem um grande desenvolvimento em cima do que foi inicialmente apresentado. Este é provavelmente um dos dois pontos mais atraentes deste filme, pois o estudo de personagem que este filme se torna mais além é além de competente uma surpresa bem vinda. Passando bem longe de uma história de amor meia boca, o enredo faz um ótimo uso da vida do protagonista como combustível para o filme ir para frente. No fim, a profundidade de Lester Burnham acaba fazendo mais pelo filme do que talvez foi planejado, tornando o mesmo em um potente estudo sobre as crises de vida de um adulto moderno.
Para ambientar melhor o protagonista, uma equipe de coadjuvantes entra em cena diretamente de um estoque de personagens genéricos. Sinceramente, não há um exemplo sequer que se salve para fazer jus ao trabalho magnífico de Spacey. O incrível repertório é composto por alguns dos personagens mais icônicos de Hollywood, tais como: a adolescente rebelde sem causa, a esposa frustrada, o ricão que tem adultério como hobby, o militar abusivo de extrema direita, e a patricinha que sonha em ser modelo. Por mais que tentem justificar essas características exacerbadas como contraste para as atitudes divergentes de Lester, não tem como simplesmente aceitá-las por causa do que elas tentam representar. Se um contraste é o que se tem em mente, então que entreguem personagens bem desenvolvidos em vez de meros estereótipos rasos.
É aqui que entra Kevin Spacey com sua genialidade, onde seu bom personagem é quase como um deus entre homens. Se por um lado temos diversas desculpas para contratar atores, em contrapartida se tem o brilhante Spacey dando uma aula de como não ser ordinário. Ao escalar o ator para o papel de protagonista, Sam Mendes provavelmente tinha em mente que o mesmo chamaria a atenção mais que o resto do elenco; o que talvez o diretor não esperava é que o ator praticamente salvaria sua obra de cair ainda mais fundo no limbo da mediocridade. Em um mar de personagens desinteressantes, Lester exibe-se como a exceção. Literalmente mostrando seu dedo mais bonito para as convenções e rótulos involuntariamente integrados à sua vida, seu personagem encontra em uma coisa tão estúpida como se apaixonar pela líder de torcida loira sentido para a vida. E se ainda assim isso parecer clichê, fique tranquilo que quando o ator assume o timão as marés mudam.
Embora o filme às vezes force a barra um pouco demais em tentar passar sua mensagem, ela acaba encaminhada com sucesso através das atitudes e da atuação do personagem Lester Burnham. O enredo junto do elenco em sua maioria podem apontar para nada além de clichê, mas a abordagem de Spacey sem dúvida entrega mais de uma surpresa em cima do que parece que já foi visto. Certamente um filme falho, este longa-metragem ainda consegue entregar algumas novidades através do trabalho exímio de seu protagonista e da abordagem notável de uma trama inicialmente pouco atraente.
2 comments
Gosto muito do Cine Grandiose! Parabéns pelo grande trabalho, Caio. Bom, eu realmente gostei muito desse filme. A cena da sacola voando e aquela belíssima música (trilha sonora do brilhante Thomas Newman) é emocionante, além disso, o filme é de fato uma bela crítica ao estilo de vida americano (com o belo paralelo da rosas vermelhas que são lindas, mas não têm perfume e espinhos). Apesar do exagero em certos momentos que você comentou, acho que a mensagem é transmitida muito bem. Um abraço!
Muito obrigado pelo carinho, Brian! Bem, este é o tipo de filme de que eu não gosto muito, mas entendo quem gosta. Dá pra ver onde o Sam Mendes tentou chegar com diversas coisas e quais suas pretensões. Acho uma tentativa válida, só que não me capturou tanto quanto outras pessoas. Mesmo assim, fico feliz de que minha opinião contrária não tenha sido motivo de fúria. haha
Abraço!