Um remake de “La Totale!”, um filme de comédia francês lançado em 1991, “True Lies” é a única colaboração entre Schwarzenegger e James Cameron fora da franquia “Exterminador do Futuro”. Na época em que foi lançado, este foi o filme mais caro de todos os tempos. O longa-metragem também foi o primeiro filme a ultrapassar U$100 milhões de dólares de orçamento de produção, sem contar os outros custos envolvendo promoção e divulgação da obra.
A história contada é a de Harry Tasker (Arnold Schwarzenegger), um agente secreto que trabalha para uma organização anti-terrorista, profissão mantida em segredo de sua ingênua família. As coisas correm normalmente em casa, até que Harry vê sua vida virada de ponta cabeça quando descobre que sua esposa está tendo um caso com um vendedor de carros usados. Para resolver esse problema, o protagonista decide adicionar um pouco de aventura na vida de sua esposa, ao mesmo tempo que lida com terroristas.
Aparentemente outro filme de ação estrelando Arnold Schwarzenegger, este longa inclui diversos elementos de comédia em sua composição, fazendo esta obra pertencer igualmente ao gênero comédia e ação. Enquanto a comédia é apenas bem manuseada de maneira que não atrapalhe a ação; por outro o filme brilha em suas diversas sequências de ação criativas e bem produzidas, sem dúvidas reflexos do altíssimo orçamento usado. As sequências são boas, mas nada extraordinárias por si; o que coopera com a construção de seu sucesso é justamente o humor bem colocado, que dá um toque inusitado de criatividade às cenas.
O que me incomoda em tudo isso é a trama, que apesar de começar bem logo vai em direção a um caminho bem estúpido. Por mais que as cenas de ação sejam um tanto impressionantes, parece que muitas delas perdem um pouco da magia por causa da motivação retardada. Começando como um bom filme de ação e um tom um pouco James Bondiano, a trama logo toma um rumo duvidoso, sendo tão sacudida quanto a vida do próprio Harry. Enquanto um filme de ação rotineiro exibiria o herói usando dos recursos da organização para combater os bandidos, aqui o protagonista usa dessas ferramentas para motivos dúbios e pouco plausíveis. O pior de tudo não é a falta de plausibilidade, pois uma dose de suspensão de descrença sempre se faz necessária em filmes de ação, mas sim o porquê de tudo aquilo. É como se alguém chamasse a Marinha para acabar com a raça de um tubarão malvado que comeu um pobre peixe indefeso.
O que contribui para esse sentimento implausibilidade é a diferença gigantesca entre a grandiosidade de trama e ação. Enquanto o movimento na tela é intenso e vigoroso, com sequências movimentadíssimas, a trama é rasa e com pouca empolgação. O conteúdo ser tão mais movimentado e superior que a trama cria um sentimento anti-climático entre os dois elementos, que por sua vez dá a impressão que o filme se estende demais em seus 141 minutos. Ao menos a criatividade envolvida na execução das cenas de ação minimiza a história sem graça, que coloca Arnold como um 007 mais preocupado com sua esposa meia boca que com o bando de terroristas que querem destruir o país. Inclusive, esta obra de James Cameron tem muitos elementos que são frequentes em filmes de James Bond. Com um humor mais exagerado e uma excentricidade mais notável, o que separa este longa do excelente “GoldenEye”, lançado no ano seguinte, é justamente essa escolha ruim de direcionamento.
No final das contas, o que acaba realmente estragando a experiência de “True Lies” é a mudança infeliz de direcionamento que acontece cerca de 1/4 de duração de filme. Mantendo um clima humorístico, exagerado e intenso que perdura o filme inteiro, a tonalidade puxada para a Ação é logo substituída pelo foco desinteressante que acaba arruinando um pouco este longa-metragem.