Embora este seja o primeiro trabalho de Dan Gilroy como diretor, outras obras tiveram a mão do cineasta em sua composição, como “Gigantes de Aço” e “O Legado Bourne”. Este longa-metragem foi dirigido e escrito por Dan Gilroy, enquanto seu irmão gêmeo, John Gilroy, ficou responsável pela edição do longa. John Gilroy já trabalhou em diversos projetos famosos como editor, começando seu trabalho em 1989 com “The Luckiest Man in the World” e mais tarde participando de outros projetos como “Pacific Rim” e “Salt”.
A história gira em torno de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), um aparente desocupado que ganha a vida com pequenos furtos, procurando algo na vida para ostentar como carreira. Após tentar a sorte com o ramo de construção civil, Louis se vê fascinado com o trabalho de um cinegrafista amador em cima de um acidente de carro. Instigado a perseguir carreira em tal ramo profissional, o protagonista adquire uma câmera e um rádio de polícia para poder exercer seu desejado trabalho, contratando o desesperado Rick (Riz Ahmed) como parceiro no processo.
A trama é contada de uma maneira relativamente tranquila, usufruindo de um modelo não ordinário para exibir sua história. Quando digo não ordinário, quero dizer que o formato do enredo em geral não é o que se costuma ver nas obras corriqueiras vistas em Hollywood. Ao adotar tal modelo, Dan Gilroy segue um estilo muito similar ao que se vê no Noir, sem uma linearidade nem um padrão previsível de eventos. Tudo o que acontece neste longa é exibido de uma maneira que pareça como apenas mais um dia na vida dos personagens, tornando imprevisível a ocorrência dos eventos apresentados, tal como acontece em vários outros filmes do gênero.
Explorar uma esfera tão pouco visitada por outros cineastas também coopera com esse sentimento de imprevisibilidade, mas de uma maneira perigosa: se por um lado uma pessoa interessada possa ficar muito instigada a descobrir o que acontece; por outro lado uma pessoa que não veja tanto potencial no direcionamento da trama pode se sentir bem entediada pelas próximas horas de filme. O que acontece aqui é um jogo de acerto e erro, pois por mais que o longa se mostre muito competente em ambos os casos, a diferença entre um e outro é que uma pessoa pode achar a obra genial enquanto outra vai simplesmente achar apenas uma experiência decente. O meu caso foi o primeiro, e por conta disso me vi muito instigado a descobrir mais e mais sobre o perigoso ramo de trabalho do protagonista, desde pequenos detalhes até outros elementos que servem como referência de direção da trama.
Mas o que realmente traça a linha definitiva em ambos os casos é a atuação esplêndida de Jake Gyllenhaal. Independente se o espectador se interessou ou não pelo assunto abordado pela trama, o fato inegável é que Gyllenhaal dá um chá de boa interpretação neste longa-metragem. O porquê de tal atuação ser um ponto tão relevante, no conjunto de bom gosto que é esse filme, é justamente o ator conseguir ser excelente como é ao estampar um dos personagens mais despresíveis e odiosos de todos os tempos. Não há qualidades redentoras no protagonista, não há um singelo motivo que faça o espectador simpatizar com seu modus operandi. Talvez sua determinação de ferro pudesse ser algo admirável se suas fundações não fossem provenientes chantagem, manipulação, e alguns vários transtornos de conduta. De qualquer modo, há vários motivos para não se gostar do personagem enquanto não há quase nenhum para se desgostar da interpretação grandiosa do ator.
Dan Gilroy também se mostra muito feliz em seu trabalho ao ligar o protagonista e a história solidamente. Tanto a trama quanto o personagem conseguem se sustentar sozinhos por sua altíssima qualidade, mas o diretor vai além ao criar uma relação simbiótica entre os dois elementos, um suplementando o outro no desenrolar de tudo. A maioria quase absoluta dos possíveis furos de roteiro são cobertos pelos traços de personalidade do protagonista, deixando o enredo pouco aberto a questionamentos. Ao mesmo tempo, a escolha de ambientes e a maneira como a história é contada deixa tudo muito propício para Jake Gyllenhaal dar seu melhor como ator, dando muitas oportunidades para o mesmo se destacar como personagem e como profissional.
Dos dois grupos de espectadores mencionados, me posiciono sem sombra de dúvida no grupo que se sentiu instigadíssimo a descobrir o que acontece com tudo que é mostrado pela trama. Apoiada pela interpretação excepcional de Jake Gyllenhaal, a história intrigante mostrada aqui compõe uma das melhores experiências cinematográficas do ano, que também conta com o suporte de outros elementos menos destacados, mas tão significantes quanto o resto, como a fotografia e a trilha sonora. Um dos melhores filmes do ano, se não o melhor de todos os que vi até o momento.