Continuando a série de filmes iniciada em 2012, “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1” é a primeira de duas partes da conclusão da história. A série de livros que serviu como material base para os filmes é composta de três livros, os dois primeiros adaptados integralmente em cada um dos dois primeiros filmes. A terceira obra, porém, foi dividida em dois longas-metragens, e de acordo com a produção do filme, expandem a história dos livros. Digo que este é mais um dos artifícios usados pelos estúdios para prolongar a vida útil de seus blockbusters, como aconteceu com as franquias “Harry Potter” e “Crepúsculo”.
Com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) destruindo a estrutura dos Jogos em “Jogos Vorazes: Em Chamas”, temos um súbito final mostrando a protagonista sendo levada a algum lugar desconhecido. Continuando diretamente os eventos do último filme, a heroína logo descobre que foi levada para o Distrito 13. Aparentemente destruído em uma das rebeliões, o lugar permaneceu operacional através de uma rede subterrânea, muito similar a um bunker militar. Lá se descobre que planos para uma nova rebelião estão em andamento, envolvendo Katniss um pouco demais do que ela gostaria.
A produção do filme pode dizer o que quiser sobre os motivos de terem dividido o último livro, mas fica muito explícito aqui que não tem nada a ver com expandir a história ou o universo criado pela autora, Suzanne Collins. Ao invés de criar algo novo e interessante, apenas estendem metade do conteúdo do livro em um longa-metragem de 123 minutos, composto por sequências exaustivas e uma meia história mal conduzida. Creio que trabalhar com metade do material base deva ser um trabalho anormal, mas se foi esta a imposição dada pelos engravatados, o mínimo que poderia ter sido feito era criar conteúdo novo e satisfatório para preencher os vazios da trama.
Tentar ser um tipo de prólogo para algo grande não quer dizer que este filme será tão grandioso quanto o que prometem estar por vir. Toda a estrutura deste longa tem um caráter arrastado demais para proporcionar uma experiência satisfatória, como acontece na segunda parte da franquia. Eventos pouco interessantes, que servem perfeitamente para a construção de uma tensão pré-clímax, são o tempo todo expostos como os principais eventos desta entrada na série. O foco está especialmente em cima da construção da imagem de Katniss como a face da propaganda pró-revolução, essencialmente criando uma atmosfera meio making of dos eventos que realmente importam. Uma idéia interessante, mas que logo se torna cansativa.
Pior do que os resultados de toda essa produção se mostrarem terríveis, é ver que todo esse acúmulo de tensão para eventos extraordinários se prova infrutífero quando tais eventos não existem, pelo menos nesse filme. Muito desse tempo é dedicado para a criação de uma propaganda forte contra a Capital: um belo vídeo que funcionaria muito bem como trailer para a “Parte 2” se ela fosse lançada na década de 1990 com um orçamento baixo. Brincadeiras à parte, o que realmente incomoda é como o ritmo lentíssimo se esforça para criar expectativa para um clímax que simplesmente não existe.
Ao menos a estrutura manjada dos dois primeiros filmes inexiste aqui, então não se tem nem sinal de desfiles de moda ou confrontos em arena. Por um lado, tal mudança é bem-vinda, pois a fórmula nunca foi produto de uma franquia longa; mas por outro lado esta não poderia ter vindo em pior hora, aterrissando em um meio filme ao invés de uma trama completa. De início o longa se mostra extremamente promissor ao explorar o psicológico de Katniss, desenvolvendo a personagem ao invés de simplesmente usá-la como ferramenta de caráter simbólico, ou como um mecanismo que faz a ação acontecer. Algumas sequências são realmente boas e se mostram merecedoras de certo mérito, o problema está quando estas sequências esgotam sua capacidade de criar um clima instigante. Tais cenas mostram o potencial desperdiçado pela ganância dos estúdios. Infelizmente, potencial não justifica mediocridade e muito menos faz deste longa-metragem uma experiência melhor.