Uma das franquias de comédia adolescente mais famosas da atualidade, se não a mais famosa, retorna com “American Reunion” depois de 9 anos sem o elenco clássico. Nesse meio tempo foram lançados quatro filmes spin-off — de sucesso bem mais baixo — com outros personagens, normalmente ligados aos originais por um um elo distante de família. Para se ter uma ideia, de todos os personagens presentes nos três primeiros apenas o pai de Jim, aquele com as sobrancelhas grossas, aparece em todos os spin-offs.
Os 13 anos desde o lançamento do primeiro “American Pie”, no qual o grupo de amigos passa pela graduação do Ensino Médio, fazem a diferença aqui. Desde a primeira aventura não houve nenhuma reunião de turma — as duas continuações focaram apenas nos protagonistas. É aí que decidem organizar uma festa de reunião de turma para compensar todo esse tempo. A trupe se junta novamente para matar a saudade e com certeza fazer uma coleção de besteiras. Do nerdão Jim Levenstein (Jason Biggs) até o eterníssimo Stifler (Seann William Scott), “American Reunion” faz o que promete e mostra que apenas uma reunião de besteirol não é o bastante para um filme decente, vide os spin-offs. O elenco original faz a diferença.
Como esperado, os atores estão claramente mais velhos se comparados às suas contrapartes adolescentes dos Anos 2000, o que, em teoria, faria esse longa dar tão errado quanto um James Bond de quase 60 anos em “A View to a Kill”. Felizmente, se nem um agente mais velho pegando garotas novas dá errado como pintaram, não seriam caras de meia idade que estragariam um filme adolescente. Pelo contrário, é justamente aí que está o traço de genialidade do humor desse filme. Algumas coisas se conservam, entretanto. A estrutura do humor é essencialmente a mesma do resto da franquia, então nudez explícita e situações absurdas são tão comuns quanto esperado.
Ver as mesmas pessoas de antes nas mesmas cenas adolescentes bizarras depois de 13 anos é esquisito à beça, mas esse mesmo esquisito funciona bem com o clima absurdo da franquia. Ainda mais levando em conta que todo mundo aqui vive para fazer besterias e eventualmente transar, toda e qualquer conquista sempre acontece da maneira mais retardada possível. Ao voltar para o lugar onde suas raízes foram plantadas os sentimentos joviais e os comportamentos adolescentes bobões são trazidos à tona novamente, matando quase todos os sinais de maturidade conquistada com os anos. Lances do passado voltam e até mesmo quem teve menos de 5 minutos de tela dão as caras em alguma ponta bacana. Ver os tiozões encarando a nova geração de adolescentes com meio cérebro em cima e nenhum em baixo é algo definitivamente único.
Além do humor besteirol de sempre, o atrito entre os estilos de vida adotados por cada um dos integrantes do grupo é outro tema bem abordado. Se antes todos eram solteirões querendo transar a todo custo, agora são caras de meia idade fodidos na vida e lutando por um pedaço de seus passados. Assim como na vida real, cada um foi para o seu lado depois do Ensino Médio, torando o contato, antes frequente raro e as amizades enfraquecidas. Isso tirando Stifler, claro. Porque “American Pie” não seria o que é sem o Stifmeister falando sobre vagina em momentos inapropriados ou sobre como as pessoas gostam de chupar pênis aleatoriamente.
Mas levando em conta todos os detalhes que fazem do filme bom, aquele explorado mais fortemente é o da nostalgia. Ao mesmo tempo que o espectador mata a saudade vendo os astros do melhor besteirol adolescente os personagens revisitam lugares e personagens de seus passados. Tudo é absurdamente e igualmente nostálgico para personagens e espectador. O Sherminator tem seu momento de glória enquanto a Kara do segundo filme e até a Loni dos boquetes maravilhosos dão um jeito de marcar presença, nem que por bons poucos segundos de tela. Enquanto a maioria não tem lá muito propósito a não ser o entretenimento da própria nostalgia, outros ganham um ótimo destaque. Exemplo disso é o pai de Jim, que consegue se mostrar humoristicamente fresco mesmo sem ficar tanto tempo fora de cena. Posso dizer com segurança que ele é uma das maiores fontes de risadas, superando até mesmo alguns dos protagonistas nesse ponto.
Finalmente, “American Reunion” é um reencontro digno e um bom filme da franquia. Vários rostos do passado foram boas pedidas, ainda que alguns dos protagonistas simplesmente não tenham marcado o bastante em outros filmes para significarem alguma coisa nesse reencontro. O bombado, por exemplo, tinha sido simplesmente esquecido depois de não aparecer no terceiro filme, já o barbicha simplesmente falha em ser reconhecido de qualquer maneira. Extremamente válido para algumas risadas e vários peitos nus.