Parte da segunda temporada de filme clássicos do Cinemark, “A História Sem Fim” é o quarto longa-metragem exibido nessa nova rodada, precedido por “The Godfather”, “Forrest Gump” e “Império do Sol”. Dos filmes que estão por vir temos “Quanto Mais Quente Melhor” e “Lawrence da Arábia“, sessões que farei questão de estar presente.
Quando fui assistir “A História Sem Fim” não sabia muito sobre ele ou do que se tratava, mas com poucos minutos já deu pra notar que era um filme infantil. Para estar presente no catálogo do Cinemark imagino que o longa marcou a infância de muita gente, infelizmente não a minha. Ao ver alguns trechos do filme tive umas leves recordações, principalmente quando vi o design de alguns monstros, mas hoje em dia esses mesmos aspectos falharam em ter a mesma magia; talvez por eu ter amadurecido, talvez pelo filme ter envelhecido. A história acompanha a vida de um garoto que sofre bullying e tem problemas em casa. Para fugir dessa vida turbulenta ele acha refúgio nas páginas de um livro, curiosamente chamado… A História Sem Fim.
A narrativa segue em frente ao passo que Bastian, o garoto protagonista, lê as páginas do livro; intercalando momentos de vida real com a fantasia da obra literária. No entanto, em vez das sequências serem simplesmente uma simulação dos eventos escritos — ou ainda uma representação da imaginação do menino — elas mostram aos poucos que a história tem vida própria. Ela não só é influenciada pela leitura do menino como também muda o mundo dele conforme ele segue adiante.
A maneira como trabalham esse conceito de materialização da fantasia é muito bem estruturada, sem forçar a barra e apelar para o senso crítico reduzido do público infantil. Em quase tempo nenhum a fantasia virar realidade já é aceita naturalmente como parte da história. Felizmente não usam transições espalhafatosas entre as duas realidades, pois no decorrer da história tais efeitos certamente estragariam um dos pontos mais fortes da obra. Vão e voltam de um mundo ao outro sem muita cerimônia, representando o mundo fantasioso com suavidade e sendo convincente o bastante para o espectador acreditar que tudo saiu da imaginação de uma criança.
O mundo de Fantasia — literalmente o nome do mundo do livro — como mencionado, realmente parece que foi criado por uma criança. Não tentaram super estilizar cenários, personagens e inventar muita história. A sensação de falta de ambição na ambientação remete aos desenhos infantis tão populares na infância de muita gente. É como se alguém pedisse pra uma criança usar a imaginação para fazer um desenho e depois pintá-lo com apenas 12 cores. Falta repertório, se posso dizer, então ela faz o que pode com o que está disponível. Por um lado isso cria uma atmosfera bem fiel ao que a história se propõe — um universo construído por quem lê a história — por outro fica complicado ignorar como algumas criaturas conseguem ser tão feias, mesmo saindo da mente de uma criança.
Como é comum em um filme de fantasia, há inúmeras criaturas dos mais variados formatos e tipos, uma parte delas com uma aparência interessante. Infelizmente, essas mesmas que têm design interessante não possuem tanto destaque quanto as de um visual medíocre. Por exemplo, logo de começo somos apresentados a um grupo de criaturas, entre elas elfos e um gigante de pedra. Todas, com exceção de uma, são legais, mas quem ganha destaque é o dragão-cachorro que não compartilha dessas boas qualidades. Não vou tirar todo o crédito, ele é carismático e simpático, mas seu design me incomoda profundamente. Simplesmente não consigo olhar pra ele sem ficar pensando sobre o que diabos ela tenta ser.
No entanto, não foram bichos feios que me incomodaram tanto, e sim os efeitos especiais datadíssimos, especialmente em dias de remasterização em alta definição. Do começo para mais ou menos metade do filme nota-se uma tendência de adotar um estilo simpático de efeitos especiais práticos; a maquiagem pesada e os marionetes casam especialmente bem com o clima fantasioso, até lembrando vagamente “O Mágico de Oz”. Mas justamente nos momentos que o filme tenta quebrar essa barreira não ambiciosa fica notável a falta de competência técnica, que quebra o ambiente imersivo e deixa um ar de artificialidade no que estava tão bem feito.
Felizmente os efeitos especiais datados não estragam o clímax, que foi surpreendente mesmo quando o caminho da trama até ele foi previsível. Neste momento, o longa retoma o fôlego que desde sua metade vinha perdendo aos poucos e entrega uma das cena que se tornou um clássico automático. Recomendado para quem procura um filme de fantasia de coração leve, vale a pena uma assistida nem que seja só pelo clímax interessante.