“Skyfall”, o vigésimo terceiro filme da franquia de 007 é também uma comemoração dos 50 Anos de James Bond. Estreando nos cinemas com “Dr. No” em 1962, a série teve até hoje seis atores diferentes no posto do galanteador agente secreto: Sean Connery, que fez 6 filmes; George Lazenby, que fez apenas um; Roger Moore, com sete; Timothy Dalton em dois filmes; Pierce Brosnan estrelando em quatro; e Daniel Craig com três filmes, com um quarto marcado para 2015.
Em “Skyfall”, James Bond se envolve em um trama que vai além da típica dominação mundial; as apostas são ironicamente mais altas quanto estão em jogo o destino do agente, do MI6 e da própria M (Judi Dench). A trama se posiciona num patamar mais ambicioso, colocando James Bond em busca de um disco rígido contendo a identidade de vários agentes sob.disfarce. Uma coisa leva a outra e a missão acaba indo além do planejado quando o passado de M e de Bond é explorado. Esta característica, apesar de ter enfurecido alguns fãs de 007, definitivamente foi bem vinda na maneira como foi aplicada, não extrapolando em suas revelações ao mesmo tempo que enriquece o personagem.
A ação, que tinha perdido um tanto de sua qualidade em “Quantum of Solace”, volta com tudo em clássicas cenas de perseguição e luta, tomando forma das mais variadas maneiras. Em geral, a franquia 007 é composta basicamente dos mesmos elementos todo filme, mas que tentam se renovar a cada lançamento. No final das contas, o que acaba diferenciando um 007 bom de um ruim é como conseguem fazer a mesma fórmula parecer novidade. E de alguma forma essas mesmas lutas e perseguições dão um jeito de reaparecer de forma vívida aqui, no maior estilo Bond regado de ternos e Aston Martins. Sem deixar faltar espaço para tratores, jipes, motos e trens.
Como de costume, as localidades escolhidas para filmagem são estonteantes, com uma variação adequada entre paisagens não só bonitas por si mas também bem capturadas. No meio de um destes ambientes extraordinários está uma das melhores cenas de luta de toda a franquia. Nela, Mendes brinca com as luzes neon dos prédios em segundo plano enquanto Bond luta com um oponente mais a frente. Apenas as silhuetas dos lutadores são visíveis por conta da única iluminação presente estar na parte externa, criando um efeito único que traz a inovação necessária para o que seria apenas mais uma cena comum.
Também melhorando outro ponto em que seu predecessor falhou, um vilão no mínimo icônico é trazido: Javier Bardem interpreta Silva, o antagonista principal da trama. A atuação de Bardem resgata muitas qualidades dos vilões mais característicos, mostrando as qualidades extravagantes daquele vilão com classe e levemente psicótico sem parecer exagerado. Um dos pontos mais fortes da obra, Silva se exibe tão marcante por sua personalidade excêntrica e tão diferente da introvertida de Bond, rendendo cenas proveitosas e divertidas entre os dois personagens. Infelizmente, o personagem é tão bom que seu tempo de tela parece pouco, infortúnio que também acontece com a Bondgirl. Sendo um filme de comemoração, alguns resgates de personagens clássicos exibem presença, como Q e Moneypenny. O porém é que, embora ver personagens queridos seja ótimo, poderiam ter caprichado melhor nas escolhas. John Cleese ainda está em boa forma e poderia ter reprisado seu papel, substituindo o hipster usado como desculpa para incluir Q no jogo.
O ritmo mantido é quase sempre extremamente rápido, dando pouco espaço a cenas sem muito movimento. Para um filme de ação isso é algo extremamente positivo, pois não há nada pior que uma obra movimentada que não deixa o espectador acompanha o passo da ação por não administrar bem seu ritmo. Cenas como a do cassino, de passo reduzido, logo se mostram justificáveis quando outros artifícios da trama tomam lugar. No entanto, perto de três quartos de duração há uma quebra deste ritmo bem conduzido. Sendo um tanto anti-climática, tal sequência final se expõe como uma unha encravada perante o resto do longa. Apesar de não ser ruim, tal cena poderia muito bem ter sido melhor introduzida e conduzida. Ou ao menos podeira ter dado espaço para a exploração de outras coisas, como o vilão ou a garota.
Um longa-metragem muito competente e entre os melhores da franquia, “Skyfall” agradará tanto os fãs novos não são familiarizados com a série, quanto os fãs de longa data, que logo notarão as inúmeras referências aos filmes mais antigos da série. Tais alusões incluem uma menção da caneta explosiva de “GoldenEye”, a marcante luta no topo do trem de “Octopussy” e até um jogo de palavras que remete a “For Your Eyes Only“. A próxima aventura de 007 está anunciada para 2015, e será novamente dirigida por Sam Mendes.