Nos dias de hoje é quase impossível se manter longe de filmes de super-herói, por mais que um esforço seja feito. Ninguém é obrigado a gostar, mas, querendo ou não, eles vieram para ficar. “X-Men: Apocalypse” é o terceiro lançamento — sem considerar “Deadpool” e “The Wolverine” — desde que “X-Men: First Class” sutilmente deu reboot no universo. Não falta gente para dizer que esta não é uma franquia bem querida e, entretanto, já faz 16 anos que os mutantes de Charles Xavier estão por aí. Bryan Singer assume o cargo de diretor pela quarta vez na série, ainda que muitos possam achar que quem dirige na verdade é Brett Rattner.
A história segue mais ou menos de ponto onde o longa anterior parou, acompanhando a versão mais jovem da equipe. Depois que o futuro é salvo, a Terra enfrenta uma nova ameaça: En Sabah Nuhr (Oscar Isaac). Um dia ele foi um deus entre homens, o ser mais poderoso da terra. Ele teve vários nomes, vários rostos e vários poderes ao longo dos anos, sendo venerado pelos mais fracos como líder até que seu próprio povo o trai. Hoje ele não passa de um detalhe que o mundo esqueceu, mas está de volta para retomar seu trabalho de milhares de anos antes: estabelecer uma era em que apenas os mais fortes sobrevivem.
Entendo perfeitamente que muitos não tenham gostado do vai e vem das viagens do tempo em “X-Men: Days of Future Past”. Destruir um universo criado ao longo de três filmes não é pouca coisa, de fato. Por outro lado, eu gostei do que vi e achei pertinente o modo como conectaram duas linhas do tempo diferentes. Então chega “X-Men: Apocalypse”: a aguardada continuação da aventura temporal de Wolverine que se esforça para desagradar até os que queriam algo diferente do que se viu em 2014. O produto final tem pretensões de ser gigante, uma aventura que coloca o destino da Terra inteira em jogo, mas que só tem sucesso em ser desagradável, clichê e fraca. A dor no coração vem para todos, apenas em um grau maior para quem gostou do que veio antes.
Não me impressionaria se me dissessem que essa foi uma produção apressada para capitalizar em cima do sucesso de “Days of Future Past” e pegar carona nas produções da Marvel, como o excelente “Captain America: Civil War“. O problema é que estar presente não é a mesma coisa que ter presença, fato que este longa deixa bem claro aos que esperavam algum tipo de concorrência forte. Mais do que qualquer outra coisa, Bryan Singer e sua equipe de roteiristas mostram sua incapacidade de fazer um filme bom com uma história simples. No máximo alcançam o patamar da pretensiosidade ao criar um filme genérico e vazio, que usa referências e inspirações de quadrinhos como muleta contra críticas. Não vou negar que histórias famosas como “Magneto: Testamento”, “A Era do Apocalipse” e até ecos de “A Saga da Fênix Negra” e “Arma X” estão ali de algum jeito. Seriam todos ótimos pontos de partida para uma história original se não fossem tão mal representadas.
Outro ponto questionável é o do figurino e caracterização. Não me prendo a fidelidade de uniforme ou algo do tipo, procuro dar atenção quando o resultado é muito bom ou muito ruim — o último sendo o caso aqui. Em 2000, criticaram o couro dos uniformes, mas acho que prefiro essa escolha neutra sem dúvida alguma depois de algumas bizarrices. Apocalipse, por exemplo, já é um vilão fraco por si nesta história, ainda que pintado como o todo poderoso. Sua personalidade e demonstrações de poder não são lá muito efetivas em criar uma figura forte, o que daria uma deixa para uma caracterização decente, não? De situações parecidas saíram vilões rasos, porém bonitos como Boba Fett e Capitã Phasma, daqui saiu um vilão de Power Rangers.
O pior é não poder falar que “X-Men: Apocalypse” é um filme pipoca que tem seus erros e ainda diverte pela ação descompromissada. Bryan Singer, de alguma forma, volta para a idade da pedra dos filmes de super herói com a ação medíocre entregue. Tirando os momentos de pura ostentação visual — cheios de detalhes e coisas que agradarão os fãs de IMAX — há pouco que chame a atenção de verdade. Acertam apenas no que realmente não tinha como dar errado, fazendo certíssimo ao apostar em Mercúrio para salvar um pouco esse quesito. Seus poderes novamente roubam a cena e ficam tranquilos no posto de melhor parte do filme; sem nunca desapontar na criatividade e até mostrando um pouco do lado bom da direção e do bom gosto musical de Singer. Infelizmente, este acerto só torna mais feio o deslize de não saber usar os poderes dos outros mutantes. Alguns exemplos são tiro e queda, como o Ciclope e sua rajada ótica, enquanto outros precisam de mais atenção para ficarem bons. Arcanjo, Noturno e Fera são exemplos vivos disso; o primeiro voa, outro se teleporta e o último é muito forte. Não parece ser algo de outro mundo quando a Marvel já fez tudo isso algumas vezes, por isso pensei que a intenção seria fazer diferente. Isso eles conseguem, ao passo que o resultado em si morre no falso e ineficiente; o tipo de coisa que exala vergonha alheia quando o espectador se toca que tem alguém rosnando e pulando contra a tela. Há 10 anos manipular a gravidade descaradamente não funcionou para simular força, vôo ou velocidade. Não havia porquê ser diferente agora.
Os pregos finais do caixão vieram quando notei que este longa era raso até mesmo nos aspectos elementares do cinema. A história é simples, o que não é automaticamente um problema, mas seu desenvolvimento e diversas minúcias apontam que o problema vai além disso. Usam personagens importantes de outros filmes como meros peões de roteiro, deixando claro que introduzir rostos novos é mais importante que desenvolvê-los. Como se fizessem um fan service aos amantes de filmes ruins ainda dão um jeito de colocar uma coleção de clichês do começo ao fim. O vilão grita “NÃO!!!” em uma crise de frustração, o herói dá um discurso emotivo tentando racionalizar com o vilão, os personagens soltam gritos dignos de animes quando usam poderes em força total e, para completar, um deus ex machina. No geral, “X-Men: Apocalypse” é o tipo de filme lançado sem nenhuma ambição maior que ganhar dinheiro em cima da popularidade do gênero herói. Com certeza outro candidato para o esquecimento daqui alguns anos.